Publicado em 22/07/2021 - 15:54 / Clipado em 23/07/2021 - 15:54
Professora doutora Soraya Smaili, farmacologista da Escola Paulista de Medicina e ex-reitora da Unifesp, alerta para a importância da segunda dose da vacina contra covid-19, com a chegada da variante delta ao Brasil
Professora doutora Soraya Smaili, farmacologista da Escola Paulista de Medicina e ex-reitora da Unifesp, alerta para a importância da segunda dose da vacina contra covid-19, com a chegada da variante delta ao Brasil
Especialista, que é coordenadora do Centro de Saúde Global da Unifesp e do Centro SOU Ciência, esclarece que o baixo percentual de vacinação da segunda dose é terreno fértil para a variante delta, recém-chegada ao país; fala também sobre o uso de ivermectina para o tratamento da doença e sobre a proxalutamida.
A professora doutora Soraya Smaili, farmacologista da Escola Paulista de Medicina e reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) no período 2013-2021, alerta para a importância da segunda dose da vacina contra covid-19.
A especialista, que é coordenadora do Centro de Saúde Global da Unifesp e do SOU Ciência (Centro de Estudos Sociedade, Universidade e Ciência, que reúne pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, pertencentes a diversas universidades públicas brasileiras, também faz alertas sobre a disseminação da variante delta no Brasil e esclarece o que a Ciência diz sobre o uso de ivermectina no tratamento da doença.
Variante delta já chegou ao Brasil
“Nós estamos verificando no mundo um crescimento enorme dos casos de covid-19 novamente. Isso se deve a alguns fatores, mas principalmente em razão da variante indiana, que é muitas vezes mais transmissível do que as anteriores. Essa variante é chamada de delta, que já entrou pelo Reino Unido, já está nos Estados Unidos e em diversos outros países”, detalha Soraya.
O maior número de registros da variante delta está no Reino Unido, que contabiliza mais de 253 mil casos, segundo as informações oficiais mais recentes, divulgadas em 16 de julho. Em seguida, aparecem os Estados Unidos, Itália, Índia, Alemanha e Canadá.
Soraya ressalta que a variante delta já chegou ao Brasil e tudo indica, pelo que aconteceu nos outros países, que ela também vai se disseminar aqui. Na semana passada, já houve um aumento no número de casos em algumas capitais brasileiras, incluindo São Paulo e Rio de Janeiro.
Segundo a doutora, estes registros são preocupantes, pois a variante delta encontra uma população que ainda foi pouco vacinada. Isso porque o percentual de pessoas que receberam a segunda dose da vacina é muito baixo.
“O grande problema para nós nesse momento é que nós não saímos do que seria a terceira onda, que para o Brasil foi uma onda contínua, que não parou desde o ano passado, teve oscilações e foi subindo até os patamares mais elevados atingidos em março e abril deste ano”, afirma a doutora.
“Em alguns países, essa seria considerada a terceira onda, mas aqui é a mesma, com oscilações. Agora, nós conseguimos ter uma diminuição daquele patamar mais elevado que chegou em abril, com mais de 3 mil mortes diárias, mas nós estamos submetidos a essa situação que está no mundo agora. Então, se a variante começar a se disseminar rapidamente aqui no Brasil, nós vamos voltar a ter os casos aumentando rapidamente e de uma maneira muito elevada, porque essa variante delta é muito abrupta, com crescimento muito rápido”, avalia Soraya.
Baixo percentual de segunda dose é terreno fértil para a variante
Segundo Soraya, com o baixo percentual de pessoas que receberam a segunda dose da vacina contra covid-19, a variante encontra um “terreno fértil” para se proliferar, uma vez que existem pessoas que não estão imunizadas.
“É importante que tenha uma vacinação mais rápida, que mais pessoas sejam vacinadas e recebam pelo menos a primeira dose, o mais rápido possível. Também é essencial que as pessoas não deixem de tomar a segunda dose, porque a imunização só é efetiva e mais concreta quando a pessoa toma esta segunda dose”, considera Soraya.
“Um levantamento mostra que mais de 20% da população de faixa etária de 40 anos, que poderia já estar vacinada, não está indo se vacinar e isso é bastante preocupante. Essa é uma faixa etária muito ativa na sociedade. São pessoas que trabalham, estudam e se movimentam muito. Isso é muito preocupante. É necessário continuar a vacinação o mais rápido possível e sem escolha de vacinas”, ressalta também.
Cuidados devem continuar
A doutora explica que as vacinas protegem contra a forma grave da covid-19, o que ajuda o sistema de saúde e o paciente a se recuperar mais rápido. Portanto, é preciso evitar ao máximo que a doença se agrave e resulte em hospitalização e até mesmo em mortes.
“Quanto menos pessoas ficarem graves e hospitalizadas, menor o número de óbitos e, portanto, mais rápido nós podemos nos livrar desta onda brasileira que nunca termina. Na verdade, no Brasil não teve primeira, segunda ou terceira onda. É uma onda contínua que vai subindo e, com a variante delta, não sabemos se vai subir ainda mais”, avalia Soraya.
“Então, o que temos que fazer neste momento é nos prevenir: vacinação com primeira e segunda dose, sem escolha de vacinas, o uso de máscara e o distanciamento social, que deve continuar, pois a situação não está controlada. Pelo contrário, estamos correndo mais risco agora, porque o mundo volta a ter um aumento de casos”, alerta.
Ivermectina segue sem consenso
De acordo com Soraya, a ciência avançou com relação aos estudos feitos sobre o uso da ivermectina no tratamento de covid-19. Entretanto, ainda não há evidências que comprovem a eficácia do medicamento ou um consenso sobre o tema. A especialista, por meio do SOU Ciência, tem se empenhado em combater o negacionismo e as fake news de saúde.
"Recentemente, recebemos a divulgação de um artigo que trazia uma meta-análise sobre a ivermectina, com resultados muito positivos", explica. "Uma semana depois, vemos que o estudo principal que encorpou a meta-análise publicada no dia 6 de julho foi retirado pelos autores devido a ‘preocupações éticas’. Outros pesquisadores e cientistas verificaram várias falhas ao checarem os dados e a metodologia. Com isso, voltamos à situação de indefinição em relação ao uso da ivermectina no tratamento da covid-19 e aguardamos os resultados de um novo estudo realizado pela Universidade de Oxford”, afirma a doutora.
Portanto, Soraya faz dois alertas sobre o tema: que a ciência é feita de dados e evidências obtidas através da realização de estudos que devem seguir todos os padrões de qualidade (método, controles, randomização e transparência nos dados); e que é preciso juntar evidências para a formação de consensos.
“O caso da ivermectina nos mostra também como a ciência se diferencia da pseudociência, e que a ciência precisa respeitar o seu tempo de maturação para produzir resultados confiáveis e não ser acelerada ou mal utilizada para fins de propaganda. No momento, só o que podemos dizer é que a ivermectina não é uma opção para tratar a covid-19, vamos continuar estudando e analisando os dados até a formação de um consenso definitivo”, finaliza a doutora.
Proxalutamida ainda não é opção para tratamento Covid-19
Tida como uma droga que está em estudo para o tratamento do câncer de próstata, ainda sem comprovação, agora é apresentada como a nova salvação. A proxalutamida não tem estudos de fase clínica para o tratamento do câncer e muito menos para a Covid-19. O estudo que utilizou a droga para o tratamento da Covid-19 foi publicado em 19 de julho, em uma revista científica chamada Frontiers in Medicine. (clique aqui). Porém, faltam controles e outras comprovações, por isso não podemos dizer que proxalutamida pode ser utilizada. No momento temos que vacinar pelo menos 80% da população brasileira com duas doses (para as vacinas que requeiram 2 doses); utilizar medidas de distanciamento social e zelar pela distribuição de máscaras apropriadas para toda a população. Na mesma linha, não há motivos para se falar em terceira dose da vacina ou dose de reforço, uma vez que temos o compromisso primeiro de vacinar toda população com pelo menos duas doses.
Fonte: Assessoria de Comunicação
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