
Publicado em 07/11/2022 - 19:50 / Clipado em 07/11/2022 - 19:50
Exame que não identifica o câncer de mama tem levado mulheres a uma falsa sensação de segurança
A termografia mostra em cores diferentes regiões mais quentes do corpo. Só que tumores muito pequenos, detectados na mamografia, nem sempre são visíveis pelo calor.
Um exame que não identifica o câncer de mama tem levado muitas mulheres a uma falsa sensação de segurança, como se estivessem em dia com a prevenção da doença.
No começo do Outubro Rosa, o Jornal Nacional mostrou que, por esquecimento ou falta de acesso, oito em cada dez brasileiras de 50 a 69 anos não fizeram a mamografia no ano passado.
A recomendação da Organização Mundial da Saúde é de que pelo menos sete em cada dez mulheres a partir dos 40 façam o exame uma vez por ano. Mas o baixo número de mamografias não é a única preocupação dos especialistas.
“Para piorar, a gente vê com tristeza algumas cidades trabalhando com sistemas que não funcionam. Por exemplo, sistemas de termografia, que medem a temperatura da glândula mamária, como se fosse uma substituição da mamografia. Eles dizem que é um complemento, mas as pessoas fazem um exame, não têm nada e acham que está tudo bem. E não está”, diz o presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia - Regional SP, Guilherme Novita.
A termografia mostra em cores diferentes regiões mais quentes do corpo. Teoricamente, um tumor geraria mais calor por ter intensa circulação de sangue. Só que tumores muito pequenos, detectados na mamografia, nem sempre são visíveis pelo calor. A termografia já foi testada em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, e descartada.
“O valor preventivo do exame é muito ruim, é muito baixo. Não é útil. O melhor investimento para qualquer município que seja é investir na mamografia”, afirma a secretária municipal de Saúde de São Caetano do Sul, Regina Maura Grespan.
Em Bragança Paulista, no interior de São Paulo, a termografia está sendo feita nos postos de saúde da prefeitura. Tem até mutirão com distribuição de folhetos e cartazes chamando as mulheres para o exame.
“Eles explicaram que o exame é scanner, que se aparecer algum nódulo, alguma coisa, que é um lugar quente que aparece no corpo, que sugira um câncer, alguma coisa, e aí eles vão investigar, que é um exame preventivo”, conta a professora Milena Alas.
A termografia é feita com um aparelhinho que parece um celular e usa inteligência artificial.
A Secretaria de Saúde de Bragança diz que paga R$ 40 por exame, além do aluguel do equipamento. Ela falou sobre a controvérsia a respeito da termografia.
“A nossa vida é uma controvérsia. A gente tem que vivê-la apesar disso, então tem que fazer aquilo que for. Mesmo que a gente esteja incipiente, vamos tentar para que a gente possa detectar o mais precocemente aquilo que for possível nas nossas mulheres”, diz a secretária municipal de Saúde de Bragança Paulista, Marina de Fátima Oliveira.
O Ministério da Saúde é “contra o rastreamento do câncer de mama com termografia, seja isoladamente, seja em conjunto com a mamografia”. Diz ainda que “a termografia não apresentou até o momento nenhum benefício adicional no rastreamento e diagnóstico do câncer de mama”.
Mas são vários os municípios brasileiros usando o exame. O presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia - Regional SP reafirma a importância de se investir na mamografia.
“Isso salva vidas, melhora a qualidade de vida da mulher e, também, diminui o custo para o sistema de saúde como um todo. Tratar tumor pequeno é muito mais eficiente em termos econômicos do que tratar tumor grande”, afirma Guilherme Novita.
Veículo: Online -> Portal -> Portal G1 - Jornal Nacional
Seção: Jornal Nacional