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 Portal Estadão - Blog Vencer Limites

Publicado em 21/12/2022 - 20:40 / Clipado em 21/12/2022 - 20:40

Famílias lutam contra fechamento de escola referência para pessoas com deficiência


Fundação Anne Sullivan, em São Caetano do Sul, no ABC Paulista, fundada em 1977, oferece educação especializada para crianças, jovens e adultos.


Por Luiz Alexandre Souza Ventura

Famílias de estudantes da Fundação Municipal 'Anne Sullivan' (FUMAS), em São Caetano do Sul, no ABC Paulista, lutam contra o fechamento da instiuição e a demolição do imóvel. Fundada em 1977, a entidade recebe crianças com deficiência que têm sequelas moderadas e severas, é referência no atendimento educacional especializado, com máximo de três alunos em cada sala de aula.

A Prefeitura de São Caetano afirma que está em andamento o projeto para a construção de um complexo municipal de atenção à pessoa com deficiência no local. "Representará um grande salto nas políticas públicas voltadas às pessoas com deficiência, tratando inclusive doenças raras. Existem possibilidades sendo ofertadas e um projeto de acompanhamento para que nenhum direito seja negligenciado. O diálogo começou, está aberto e assim permanecerá, como sempre foi em nossa gestão. Nenhuma criança ficará desassistida", diz a Secretaria de Comunicação em nota produzida pela Secretaria de Educação e enviada ao blog Vencer Limites.

Marcelo Patelli, pai de uma menina de 8 anos que tem a Síndrome de Tatton-Brown-Rahman e frequenta a Anne Sullivan desde o começo de 2021, diz que não há transparência no processo. "Propositalmente, as informações por parte da Prefeitura não são claras. Sabemos que o objetivo é demolir o prédio, mas não vimos nenhum projeto para aquele local", diz. "Já participei de três reuniões. Na primeira, em 11 de novembro, com a secretária de Educação e apenas quatro pais, fomos oficialmente informados sobre o encerramento da escola", conta. "Para essa divulgação, fomos convocados em pequenos grupos, o que evitou confusão, e não há nenhuma ata registrada", comenta.

Patelli diz que, em outubro, quando ouviu rumores sobre o encerramento das atividades da Anne Sullivan, procurou a direção da escola, que negou a informação. "Mentiram para mim e no mês seguinte foi confirmado", ressalta. "Na segunda reunião, em 16 de novembro, alguns pais foram à Anne Sullivan questionar a diretoria. Esse encontro está registrado em ata. E a terceira reunião, no dia 22 de novembro, todos os pais foram convocados, a discussão foi bem mais longa e completa. Perguntamos por qual motivo o prefeito (José Auricchio Júnior - PSDB) se recusa em nos receber", conta.

Vazio - Nenhum aluno está matriculado na Escola Anne Sullivan para o ano letivo de 2023, segundo Marcelo Patelli, por ordem da Prefeitura. "Não teve rematrícula. A Prefeitura entregou pedidos de transferência para alguns pais, por uma suposta escolha desses pais", comenta.

"Dos pais que estão nessa luta, alguns com filhos de 16 anos fizeram a terminalidade antecipada para encerrar o período escolar e encaminhar esses alunos às oficinas, clínicas terapêuticas para autonomia, melhorar a mobilidade, conseguir comer sozinhos, aprimorarem a comunicação, com apoio de terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e outros profissionais. Para alunos mais novos, esse tipo de atividade costuma ser feita no contraturno. Vão para a escola de manhã e para a clínica à tarde", explica Patelli.

Sem opções - A Prefeitura argumenta que "o movimento que aconteceu com a escola Anne Sullivan é fruto de políticas que entendem que as crianças têm o direito de estar em escolas regulares, se assim os familiares entenderem. Não é uma escolha em detrimento da outra. Há ainda excelentes escolas especiais que atendem os estudantes de São Caetano do Sul, conveniadas com a Prefeitura, sendo também uma opção de escolha totalmente gratuita para as famílias".

As famílias dizem que a Prefeitura apresentou, para transferência dos estudantes, duas opções que não fazem parte do ensino regular. Uma delas é a Apae de São Caetano, que mantém convênio com a cidade para subsídio a 70 alunos, com média de R$ 700 repassados pela administração municipal mensalmente por cada estudante conveniado.

Pais de estudantes da Anne Sullivan dizem que a Apae de São Caetano exige uma 'contribuição voluntária', com valor estipulado conforme a situação financeira de cada família, mas que, quando a família não faz essa 'contribuição', a criança é retirada da instituição.

Questionada sobre essa afirmação, a Apae de São Caetano declarou em nota que não exige contribuição voluntária, mas explicou na mesma nota que "as famílias passam pelo serviço social, onde é realizado o estudo sócioeconômico para participarem dos programas oferecidos, através de contribuição social espontânea, se tornando sócio contribuinte, tendo assim, todos os programas à disposição dos assistidos que não são cobertos por convênios municipal, estadual e federal".

Ainda de acordo com a nota da Apae de São Caetano, "as famílias que não optarem em serem sócio contribuinte são cobertas por convênios e permanecem na Apae, como preconiza o estatuto das Apaes, porém não se beneficiarão das modalidades extras que um associado se beneficia. Portanto, nenhum assistido é impedido ou desligado dos encaminhamentos ofertados pelo município ou estado".

Em áudio enviado ao blog Vencer Limites, a mãe de uma ex-estudante da Apae de São Caetano afirma que recebia uma cobrança mensal com o nome 'contribuição espontânea', que garantia a participação da criança com deficiência em determinadas atividades. "Se eu não pagasse, eles cortavam a terapia", diz a mãe (o nome não será revelado para evitar represálias).


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