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Portal O Globo - Rio de Janeiro/RJ

Publicado em 27/11/2025 - 09:55 / Clipado em 27/11/2025 - 09:55

Mais de 60% dos casos de câncer colorretal no Brasil são diagnosticados em estágios avançados, diz novo estudo


Estudo da Fundação do Câncer mostrou também que 85,9% dos pacientes têm 50 anos ou mais

 

Por Giulia Vidale — São Paulo

 

Mais de 60% dos pacientes com câncer de cólon no Brasil, também chamado de câncer de intestino ou colorretal, são diagnosticados em estágios avançados da doença (III e IV), de acordo com novo estudo da Fundação do câncer. Nessa fase, o tumor já invadiu estruturas profundas ou apresenta metástases, reduzindo significativamente as chances de cura e ampliando a complexidade dos tratamentos e, por tabela, aumentando os custos de tratamento.

"A elevada proporção de diagnósticos tardios evidencia fragilidades importantes no acesso ao diagnóstico e no rastreamento do câncer colorretal no Brasil", diz Luiz Augusto Maltoni, diretor-executivo da Fundação do Câncer, em comunicado.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores do boletim intitulado "Câncer colorretal no Brasil - O desafio invisível do diagnóstico" se basearam em 177 mil casos registrados em hospitais públicos e privados do país. A publicação mostra ainda que quase metade dos casos registrados no país está concentrada na região Sudeste (49,4%). Outro dado que chama atenção é que 85,9% dos pacientes têm 50 anos ou mais, reforçando a importância de estratégias de rastreamento voltadas para essa faixa etária.

"Hoje o Brasil faz rastreamento oportunístico, ou seja, quando o paciente procura uma unidade de saúde. Precisamos fazer um rastreamento populacional e pensar em diminuir a idade do diagnóstico, de 50 para 40 anos. Os Estados Unidos fizeram isso com sucesso e baixou em cerca de 30% a mortalidade por câncer colorretal", defende o epidemiologista Alfredo Scaff, coordenador do estudo e consultor médico da Fundação do Câncer.

 

Desigualdades e fatores de risco

O levantamento também revelou desigualdades no acesso ao cuidado oncológico. Por exemplo, o Sudeste é a região que mais absorve pacientes vindos de outros estados, concentrando os principais centros de referência. O Centro-Oeste lidera o deslocamento de pacientes, com 18% precisando buscar assistência fora do local de residência.

Parte desse fluxo (16%) migra para o Sudeste. Essa movimentação evidencia as disparidades regionais e aponta para gargalos estruturais que afetam diretamente o tempo e a qualidade do tratamento.

"Quando um paciente precisa buscar tratamento fora de sua região, estamos diante de um sistema que ainda não consegue garantir acesso equitativo. Isso impacta a qualidade de vida, o tempo até o início do tratamento e, consequentemente, a sobrevida do paciente”, pontua Maltoni.

O estudo também aponta para uma relação entre tabagismo e incidência de câncer colorretal. As capitais Florianópolis, Porto Alegre, Curitiba e Campo Grande, todas com proporção de fumantes acima de 12%, compõem o grupo de cidades que também possui altas taxas de incidência da doença. Essa associação reforça a relevância do tabagismo como fator de risco para a doença.

Além do tabagismo, a obesidade também se destaca como um fator comportamental associado ao aumento da incidência do câncer colorretal. Capitais como Porto Alegre, Campo Grande, Rio de Janeiro e São Paulo, todas com prevalência de obesidade igual ou superior a 24%, estão entre aquelas com as maiores taxas de incidência do tumor. A análise também evidencia que o excesso de peso mantém relação com o risco de câncer colorretal e ressalta a importância de políticas voltadas para alimentação saudável e atividade física.

“Quando observamos que fatores como tabagismo e obesidade se sobrepõem às altas taxas de incidência, fica evidente que o câncer colorretal não é apenas um desafio clínico, mas um reflexo direto das condições de vida da população. Esses padrões mostram que investir em prevenção primária não é opcional, é estratégico. Precisamos de políticas públicas contínuas, que alcancem as pessoas antes que a doença apareça e que reduzam desigualdades que ampliam ainda mais o risco”, afirma o epidemiologista Alfredo Scaff, coordenador do estudo e consultor médico da Fundação do Câncer.

 

Perfil

O levantamento verificou o perfil dos pacientes com a doença. Em relação à escolaridade, 47,7% dos pacientes possuem apenas o ensino fundamental. A distribuição por raça/cor da pele indicou maior proporção de brancos (34,6%), seguidos por negros pretos e pardos (30,9%), o que pode refletir tanto diferenças de acesso aos serviços de saúde quanto desigualdades socioeconômicas estruturais no país.

A análise também aponta que a cirurgia permanece como principal forma de tratamento inicial, seja de forma única ou associada à outras modalidades.

"Quando olhamos para esses números, percebemos um padrão que se repete em todo o país: concentração regional, envelhecimento dos pacientes, baixa escolaridade e tratamentos iniciados majoritariamente por cirurgia. São indicadores que, juntos, nos mostram onde estão as maiores vulnerabilidades e onde temos que agir com mais precisão", avalia Scaff.

Para o estudo, a Fundação considerou dados dos Registros Hospitalares de Câncer (RHC) do Brasil, referentes ao período de 2013 a 2022. As informações sobre morbidade hospitalar foram extraídas da base de dados do Integrador dos Registros Hospitalares de Câncer (IRHC).

A estimativa do Ministério da Saúde/INCA é que cerca de 45 mil novos casos de câncer de intestino ou colorretal sejam diagnosticados este ano no país. De acordo com levantamento da própria Fundação do Câncer, publicado na 9a edição do boletim info.oncollect, o número de novos casos da doença deve crescer cerca de 21% entre 2030 e 2040.

Os sintomas de câncer colorretal podem incluir mudanças no hábito intestinal (como diarreia ou constipação persistente), sangue nas fezes (claro ou escuro), dor abdominal, perda de peso inexplicada e cansaço. No entanto, nos estágios iniciais, esse tipo de tumor não costuma causar sintomas, o que indica a necessidade de rastreamento por meio da realização de exames como a presença de sangue nas fezes e colonoscopia, especialmente a partir dos 45 anos.

 

https://oglobo.globo.com/saude/noticia/2025/11/27/mais-de-60percent-dos-casos-de-cancer-colorretal-no-brasil-sao-diagnosticados-em-estagios-avancados-diz-novo-estudo.ghtml

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