Publicado em 10/09/2025 - 09:50 / Clipado em 11/09/2025 - 09:50
Vacinação contra o HPV previne câncer muito letal em mulheres, mas por que ainda não engrenou?
Esse vírus é um dos principais culpados pelo câncer de colo de útero, e a vacina contra ele está disponível no sistema público de saúde; médica fala dos esforços para garantir a prevenção da doença
Por Ailma Larre
O Brasil aceitou, há alguns anos, o desafio proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de eliminar o câncer do colo do útero como problema de saúde pública. Para alcançá-lo, é necessário avançar em três frentes principais: ampliar a cobertura vacinal contra o HPV (vírus responsável por grande parte dos casos desse tipo de câncer), implementar o rastreamento com o teste de DNA desse vírus (em implantação no SUS) e garantir o tratamento das lesões pré-câncer.
No Brasil o exame preventivo citológico (conhecido como “papanicolau”) está disponível desde a década de 1980, e a vacina, desde 2014. Apesar disso, os avanços não têm seguido o ritmo que gostaríamos. Afinal, o País registra mais de 17 mil novos casos de câncer de colo a cada ano, com maior incidência e mortalidade no Norte e Nordeste brasileiros.
Uma das principais barreiras da efetividade da prevenção é a falta de informação. Uma pesquisa recente do Grupo EVA e do Instituto Locomotiva mostrou que seis em cada 10 brasileiras não sabem que o HPV é o principal causador do câncer do colo do útero, e muitas ainda acreditam em mitos e fake news. Esse cenário gera medo, resistência e baixa adesão à prevenção.
Para mudar essa realidade, estratégias conjuntas que envolvem escolas, famílias, profissionais de saúde, agentes comunitários e organizações sociais têm sido fortalecidas. A vacinação em ambiente escolar, alinhada ao Programa Saúde na Escola, aproxima famílias e professores e aumenta a cobertura vacinal entre jovens de 9 a 14 anos, faixa etária em que a proteção é mais eficaz. Essa é uma abordagem defendida por muitos especialistas para garantir a imunização.
Paralelamente, há uma busca ativa por adolescentes de 15 a 19 anos que ainda não se vacinaram: até 31 de dezembro, esse público terá a oportunidade de receber a vacina gratuitamente pelo SUS, ampliando a proteção para os jovens não vacinados.
Precisamos, também, reforçar o papel das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e dos agentes comunitários para levar a informação e a vacina para mais perto das pessoas em seus territórios, especialmente em regiões de maior vulnerabilidade.
Essas iniciativas só fazem sentido porque a ciência é clara: a vacina contra o HPV é segura e eficaz, resultado de mais de dez anos de pesquisas. Ela protege não apenas contra o câncer de colo do útero, mas também contra tumores de vulva, vagina, pênis, ânus e orofaringe, ampliando significativamente a prevenção de diferentes tipos de câncer relacionados ao vírus.
Países que iniciaram a vacinação em 2007 já observam queda significativa nos índices dessas doenças, reforçando o impacto esperado também para o Brasil. Ao lado dessas estratégias, organizações da sociedade civil têm atuado fortemente na conscientização, levando informação em linguagem simples para escolas e comunidades, combatendo a desinformação e ajudando famílias a tomar decisões de saúde com base em evidências.
Neste sentido, iniciativas como a Aliança Nacional para Eliminação do Câncer do Colo do Útero, uma parceria do Grupo Mulheres do Brasil e do Instituto Vencer o Câncer, conectam experiências locais, promovem debates, troca de conhecimento e planejamento conjunto.
Desde 2022, profissionais do sistema de saúde, educadores e organizações da sociedade civil têm trabalhado nesse objetivo, com foco em levar informação à população mais vulnerável e carente, onde se concentram a maior parte dos casos de câncer de colo. Esses grupos atuam em escolas públicas e comunidades, desenvolvendo atividades presenciais e criando uma oportunidade de diálogo sobre saúde e prevenção contra o HPV.
A iniciativa tem grande valor para a sociedade, pois esse movimento integrado aproxima o País de um objetivo histórico: construir a primeira geração livre dos cânceres causados pelo HPV.
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