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Publicado em 16/05/2022 - 07:40 / Clipado em 17/05/2022 - 07:40

PÍLULAS | Fuga de jalecos: o Brasil perde profissionais da Saúde para os EUA


• Varíola e saúde pública • Fila de cirurgias em SP • Marketing agressivo do álcool • Descoberta sobre o câncer • Ataque cardíaco em mulheres • Margareth Dalcolmo • O rombo na ciência brasileira •


Conhecidos por barrarem a entrada em seu território de latino-americanos que fogem da pobreza, os EUA estão, contudo, atraindo profissionais qualificados do Brasil – em especial os da saúde. Reportagem da BBC sobre o tema conta o caso da goiana que já chegou a depender de três empregos simultâneos para sustentar a família. Agora, como outros colegas, está em vias de se mudar aos EUA, e já recebe proposta de diversas empresas e com benefícios tentadores. Os EUA enfrentam grande êxodo da força de trabalho no pós-covid, caracterizado como o movimento da “Grande Demissão”. No setor de saúde, o país precisa atualmente de mais de 16 mil trabalhadores de cuidado primário (médicos e enfermeiros), 11 mil dentistas e 7 mil profissionais da área da saúde. Para enfrentar a crise, recorrem a profissionais formados no Sul global. A concessão de green cards (licenças de residência e trabalho) a brasileiros chegou, em 2021, ao recorde de 17,9 mil expedições. Segundo o think tank Migration Policy Institute, 42,5% dos brasileiros nos EUA têm hoje pelo menos um diploma de graduação –  um percentual superior até ao dos nascidos nos Estados Unidos, que está em 33,3%. 


No controle da varíola no século XX, caminhos para a saúde pública

As estratégias bem-sucedidas empregadas ao longo do século passado para erradicar a varíola poderiam servir de exemplo para a ação diante das novas pandemias. É isso que sugere matéria analítica publicada há dias no portal da Fiocruz. O texto analisa os esforços internacionais contra a doença, que matou 300 milhões de pessoas nos anos 1900 – número bem superior ao de outras moléstias, como tuberculose, aids, hanseníase e a gripe espanhola. A erradicação da doença exigiu um esforço global de dez anos, e não dependeu exclusivamente da imunização. Parte fundamental do plano de combate estabelecido pela OMS, em 1966, aliou a vacina com técnicas de saúde pública, como no caso brasileiro, cujos certificados de vacinação passaram a ser exigidos para obtenção de documentos públicos, pagamento de salários, matrícula nas escolas públicas e privadas e viagens ao exterior. Na África e Ásia, ocorria a “vacinação de bloqueio”, que consistia em atuar rapidamente com a imunização de moradores de uma vizinhança onde eram identificados como focos da varíola. Relembrar estas táticas pode ser fundamental diante da ameaça do retorno da poliomielite – e das doenças que podem surgir com o salto interespécies de diversos patógenos.


SP: “corujão” e “compra de cirurgias” para enfrentar fila da covid

Em dois anos de pandemia, período em que a rede pública de Saúde concentrou-se no atendimento da covid, acumularam-se 600 mil cirurgias atrasadas, só em SP. É o que calcula a secretaria de Saúde, que apresentou na última quinta-feira (12/5) sua proposta para lidar com os casos represados. Ela quer lançar um “corujão”, com procedimentos noturnos realizados principalmente em hospitais privados e pagos pelo Estado. O anúncio foi feito pelo secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn, que também comunicou a criação de uma nova secretaria. Além da pasta que ele comanda, o estado terá a de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde, cujo titular será o infectologista Davi Uip. Nada se revelou, porém, sobre o orçamento da pasta.


OMS alerta para o marketing cada vez mais agressivo do álcool

A OMS acaba de lançar relatório sobre as principais técnicas de persuasão e a falta de limites da propaganda que incentiva o consumo de álcool. Patrocínio de eventos esportivos mundiais e o uso de dados privados para alcançar as pessoas são peças-chave para alcançar novos públicos, em todo o mundo. Mas empresas também focam no consumidor abusivo: “20% das pessoas que consomem álcool atualmente bebem bem mais que a metade de todo o álcool consumido”, afirma a organização. Segundo estudo da OMS de 2018, embora muitos países promovam o controle da propaganda alcoólica na mídia tradicional, quase metade não possui nenhuma regulamentação em páginas da internet ou nas mídias sociais. O relatório conclui a necessidade de incluir aspectos transfronteiriços na regulação do álcool – e destaca os bons resultados no esforço internacional no controle do tabaco. Calcula-se que o consumo abusivo de álcool mate 3 milhões por ano – 5% de todas as mortes registradas. 


Pesquisa da Unifesp pode indicar novo caminho para tratar o câncer

Estudo de dois pesquisadores da Unifesp – Juliana A. de Morais e André Zelanis – identificou um padrão diferente de secreção de proteínas nas células modificadas por tumores. Ao examinarem registros de exames citológicos realizados em diversas partes do mundo, Juliana e André creem ter verificado que o secretoma (o conjunto de moléculas que a célula expele de si própria) dos tumores é distinto do das células “normais”. Observaram que 38% das moléculas excretadas pelas células cancerosas seguem trajetos “não canônicos”, ou seja, distintos dos normais. O ineditismo da pesquisa está no fato de que, em estudos anteriores, estas discrepâncias eram desconsideradas, pois os pesquisadores as atribuíam a danos provocados nas células no momento de sua coleta. Ao identificarem um padrão, podem ter descoberto que não se trata de um acidente de manipulação. Eles recomendam, agora, estudos suplementares, para apontar se será possível derivar, de sua hipótese, diagnósticos ou tratamentos mais avançados para o câncer. Um relato da pesquisa foi publicado, como matéria de capa, na última edição da revista científica Traffic.


O viés de gênero no socorro às mulheres com ataque cardíaco

Um relatório da American Heart Association mostrou que mulheres demoram mais para buscar atendimento do que os homens, quando estão infartando. Ao procurarem atendimento, por vezes recebem um diagnóstico errado ou só são examinadas após uma longa espera. Isso porque os sintomas de ataque cardíaco diferem entre os gêneros: mulheres tendem a sentir falta de ar, suores-frios, mal estar, fadiga e dores na mandíbula e nas costas. Apesar da dor no peito ocorrer, ela é menos comum – um estudo publicado na revista Therapeutics and Clinical Risk Management mostrou que 62% das mulheres analisadas não sentiu qualquer desconforto no peito. A falta de preparo dos médicos para atender esses casos, segundo a pesquisa, faz com que elas tenham menos chances de ser internadas ou submetidas a exames como o eletrocardiograma, além de terem maior probabilidade de receber avaliações menos completas.


Um perfil de Margareth Dalcolmo, cientista e comunicadora

Vale a pena ler com atenção a entrevista concedida por Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fiocruz e colunista de O Globo, à última edição da revista Pesquisa Fapesp. Ao falar sobre sua experiência com a covid, ela conta por que ainda não se pode falar no fim da pandemia, em meio ao  surgimento de novas variantes; e como tornou-se uma voz científica popular para falar da doença (e enfrentar as mentiras difundidas pelo governo). Narra seu medo, ao contrair o vírus e adoentar-se e como a pandemia poderá afetar, nos próximos anos, o sistema de saúde pública – em especial na sua área específica de pesquisa, a tuberculose. Segundo o ministério da Saúde, houve uma redução de 40% no número de testes diagnósticos para a doença aplicados no país. 


Conhecer o rombo na ciência brasileira, para superá-lo

Qual o tamanho do dano sofrido pela ciência brasileira após anos de cortes de verbas e políticas obscurantistas? Como recuperar o enorme terreno perdido e definir novos rumos, num cenário de enormes avanços tecnológicos e disputa sobre seu sentido? Este é o objetivo de um estudo lançado pelo Centro de Estudos Sociedade, Universidade e Ciência (SoU Ciência), que tem realizado um levantamento detalhado, segundo estudo de três de seus integrantes: os professores Soraya Smaili, Maria Angélica Minhoto e Pedro Arantes. Num artigo de jornal publicado na última sexta-feira, os três explicam que, além das perdas orçamentárias nas universidades, o trabalho vai investigar também os danos no CAPES, CNPq e Finep – as principais agências federais de financiamento da ciência no país. Soraya, Maria Angélica e Pedro preveem para as próximas semanas o lançamento dos primeiros resultados da pesquisa. Eles creem que o trabalho ajudará a ampliar o debate sobre políticas para a Ciência neste ano eleitoral, e sustentam: “o Brasil precisa conhecer dimensão trágica do desmonte na área antes de votar”.


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