Publicado em 31/10/2022 - 21:47 / Clipado em 31/10/2022 - 21:47
Serrapilheira abre inscrições para edital que investe R$ 9,1 milhões em ciência
Na 6ª chamada pública, instituto seleciona até 10 cientistas com pesquisas inovadoras, mas uma nova parceria com FAPs possibilitará que esse número seja multiplicado
O Instituto Serrapilheira abriu, nesta sexta-feira (28), as inscrições para a 6ª chamada pública de apoio à ciência. A entidade vai oferecer até R$ 9,1 milhões a jovens cientistas, em um momento em que o investimento privado pode ser um alento para os pesquisadores que vivem a realidade dos sucessivos cortes de recursos. Levantamento do Sou Ciência (Centro de Estudos da Unifesp) divulgado este mês aponta que o FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) perdeu R$ 44 bilhões (valores corrigidos pela inflação) em 11 anos.
O físico Rafael Chaves, do Instituto Internacional de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, foi um dos contemplados em uma edição anterior do programa. Em 2018, ele participou da 1ª chamada com o projeto “Uma abordagem causal para a informação quântica”. Para ele, o apoio foi essencial para a evolução de sua pesquisa, já que o grant do instituto permite atuar no longo prazo e ter uma maior liberdade de gastos.
“Com este apoio sólido, pudemos nos arriscar em um terreno inexplorado da física quântica e inovar ao entender a futura internet quântica do ponto de vista da ciência de redes. Todos estes resultados foram publicados em revistas renomadas, não somente apontando novos rumos de pesquisa, mas também tendo grande impacto na carreira de cientistas do nosso grupo”, apontou o pesquisador.
Na nova chamada, o Instituto vai selecionar até 10 projetos de jovens cientistas com questionamentos que contribuam para o conhecimento fundamental em ciências naturais, ciência da computação e matemática. O programa beneficiará os escolhidos com grants que vão de R$ 200 mil a R$ 700 mil, a serem usados durante cinco anos. Além dos valores iniciais, os selecionados ainda terão acesso a recursos extras – até 30% do grant recebido – para investir na formação e integração de pessoas de grupos sub-representados em suas equipes. As inscrições podem ser feitas até 28 de novembro, e o edital completo pode ser visto aqui.
Pré-requisitos da 6ª chamada pública
Os candidatos deverão ter vínculo permanente com alguma instituição de pesquisa no Brasil e ter concluído o doutorado entre 1º de janeiro de 2015 e 31 de dezembro de 2020. Esse prazo é estendido em até dois anos para mulheres que tenham filhos.
A seleção é dividida em duas fases. Na primeira, os candidatos enviam uma pré-proposta, que será avaliada por revisores internacionais. A partir daí, alguns serão chamados para apresentar a proposta completa. A etapa final inclui uma entrevista em inglês com os proponentes.
A nova chamada traz novidades em relação aos anos anteriores. Uma delas é que o candidato precisa detalhar o risco do seu projeto a partir de três definições propostas pelo Serrapilheira: o risco de concepção, relacionado à formulação da hipótese do projeto; o risco de abordagem, que diz respeito à escolha metodológica; e o risco técnico, ligado à obtenção dos dados.
O Serrapilheira considera que o risco é bem-vindo e faz parte de projetos ousados. O propósito do detalhamento é mensurar como as escolhas podem dar errado e o que o pesquisador pretende fazer caso isso ocorra. “A ciência avança mais quando assume riscos. Se não estimularmos as pessoas a se arriscarem, acabamos criando uma ciência meramente incremental”, explicou Cristina Caldas, diretora de Ciência do Instituto.
Durante uma live transmitida nesta quinta-feira (27) pelo YouTube para tirar dúvidas sobre a 6ª chamada, a física Elisa Ferreira frisou a importância de os candidatos focarem no diferencial de suas pesquisas ao apresentar as propostas.
“Você tem que pensar qual a pergunta mais desafiadora da sua especialidade. Não mostrar só o que você pode fazer, mas também como você é uma pessoa especial que tem vantagens que os outros não têm. Qual é a sua vantagem em relação aos outros para ir atrás dessa grande pergunta? É dessa forma que você acha o grande desafio para seguir”, afirmou a cosmóloga da Universidade de São Paulo e pesquisadora no Kavli Institute for the Physics and Mathematics of the Universe, no Japão.
Elisa Ferreira foi uma das selecionadas na 4ª chamada, lançada em 2020, por seu projeto “Matéria escura ultrafria: o lado leve e fuzzy do universo”.
Parceria com fundações de amparo à pesquisa
Outra novidade é que o Serrapilheira firmou parcerias com o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) e com as FAPs de São Paulo (Fapesp), Rio de Janeiro (Faperj) e Santa Catarina (Fapesc). A ideia é ampliar o apoio a jovens cientistas nos estados.
As parcerias podem ser realizadas de duas maneiras. Pelo cofinanciamento, o Serrapilheira e as FAPs poderão apoiar conjuntamente cientistas selecionados pela chamada pública do instituto. Já pelo apoio unilateral das FAPs, cientistas de seus respectivos estados que chegarem à fase final no processo de seleção do Serrapilheira, mas que não obtiverem apoio do instituto por limitação orçamentária, poderão receber recursos das fundações.
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