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Publicado em 22/11/2021 - 08:08 / Clipado em 23/11/2021 - 08:08

Com abstenção de 26% e menos pobres e pretos inscritos, ministro diz que Enem foi um “sucesso”


Com menor número de inscritos desde 2005, 26% de abstenção no primeiro dia, menos pobres e pretos inscritos e inscritas, e sérias denúncias de servidoras e servidores de interferência do governo federal, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi avaliado como “um sucesso” pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro. O Exame será investigado pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

Do total de 3,1 milhões de candidatos inscritos no Exame, apenas cerca de 2,3 milhões compareceram às provas, no domingo (21) em mais de 1,7 mil municípios. “Acredito que o Enem foi um sucesso”, avaliou Ribeiro, a noite após a realização da avaliação, em coletiva de imprensa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Os e as estudantes fizeram, neste primeiro dia, as provas de redação, linguagens e ciências humanas. O exame continua no próximo domingo (28), quando serão aplicadas as provas de matemática e ciências da natureza.

Na coletiva, o ministro voltou a negar que houve interferência no Enem. “Acho que os senhores que tiveram acesso a perguntas que foram feitas, puderam notar que eventualmente segue o mesmo padrão”, disse, acrescentando que “se tivesse interferência, poderia ser que algumas perguntas nem estivessem ali”.

Na prova deste domingo, apesar das tentativas do governo de interferência, ainda foram registradas questões com trechos da música "Admirável Gado Novo", do cantor Zé Ramalho, além de canções de Gonzaguinha e Chico Buarque e perguntas sobre racismo, escravidão, erotização da mulher e questão indígena. Já a redação teve como tema "Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil". A avaliação também teve uma charge do cartunista Henfil e outra com um texto de Friedrich Engels, coautor do Manifesto Comunista, com Karl Marx.


Menos pretos e pobres

Além de ter o menor número de inscritos desde 2005, Enem 2021 tem menos pobres, pretos, pardos e indígenas. Um levantamento feito pelo Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior de São Paulo (Semesp) mostra que apenas 11,7% dos inscritos e das inscritas para o Enem 2021 são pretos. É a menor proporção desde 2009, quando eles representaram 6,3% dos inscritos. A redução também é observada entre os e as estudantes mais pobres. O número de inscritos e inscritas com isenção da taxa por declaração de carência caiu 77% em relação à prova do ano passado.

Em entrevista ao Correio Braziliense, a professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenadora do Centro SoU Ciência, Soraya Smaili, explicou que a baixa adesão dos e das estudantes encontra explicação em diversos fatores. "O desemprego e o empobrecimento das famílias, intensificados durante a pandemia, trouxeram aos jovens a necessidade de trabalhar, o que limita o tempo de estudo ou mesmo as condições psicológicas. Neste momento, a sobrevivência está falando mais alto, mesmo que o ingressar numa universidade seja o sonho de muitos e o que poderia melhorar suas vidas ao terem uma profissão ou especialização”.

A instabilidade política também pode ter afastado um maior número de inscritos, de acordo com a docente. "As tentativas de desmonte na educação, as suspeitas de tentativas de interferências, entre outras ações do governo federal causam uma turbulência desnecessária. Tudo isso traz um ambiente ruim, que pode, sim, explicar a redução no número de inscritos", afirmou Smaili.


Investigação

O TCU abriu investigação para apurar irregularidades no Enem após pedido de demissão em massa de servidoras e servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que alegam falta gestão e assédio moral. A decisão do TCU ocorreu após reunião, na terça-feira (16), de um grupo de deputados federais com a presidente do Tribunal, ministra Ana Arraes. A relatoria será do ministro Walton Alencar Rodrigues.

O grupo de oito deputados e deputadas também solicitaram auditoria permanente no Instituto ligado ao MEC. Os e as parlamenteares protocolaram uma ação pedindo que o Ministério Público Federal (MPF) investigação do ministro da Educação e do presidente do Inep, Danilo Dupas, por improbidade administrativa, e pedem que os "agentes públicos eventualmente envolvidos" no "controle ideológico" do Enem sejam punidos.

A Defensoria Pública da União (DPU) ajuizou uma ação pedindo que o Inep comprove que a segurança do Enem e que não há risco de fraude. A DPU também pede explicações a respeito das denúncias de interferência do governo no exame e a saída em massa de profissionais de carreira do Inep às vésperas da realização do Exame.

Tanto o Senado como a Câmara do Deputados criaram comissões especiais para acompanhar a crise no Inep, principalmente após a saída de, pelo menos, 37 funcionários e funcionárias do Instituto. Os grupos de trabalho devem ouvir os funcionários e as funcionárias.

O presidente Jair Bolsonaro declarou, na segunda-feira (15), em Dubai, que o Enem "começa agora a ter a cara do governo" e negou que tenha visto a prova, mas afirmou que o Enem era "ativismo político e comportamental".


Fontes: Agência Brasil, Correio Braziliense, G1, O Globo e R7


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