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Publicado em 17/11/2021 - 08:01 / Clipado em 17/11/2021 - 08:01

Novas pílulas antivirais são eficazes, mas não substituem vacina contra Covid; entenda


Constança Tatsch


SÃO PAULO — As notícias envolvendo duas pílulas antivirais contra a Covid, o molnupiravir da Merck (MSD no Brasil), e paxlovid, da Pfizer, trouxeram esperança de que um medicamento que pode ser tomado em casa interrompa a evolução da doença, evitando hospitalizações e mortes. Embora, de fato, as perspectivas sejam boas, os especialistas esclarecem que os tratamentos seriam complementares à vacinação. Jamais substitutos.

O molnupiravir reduziu o risco de agravamento em cerca de 50% e o paxlovid em 89%, segundo as farmacêuticas.

A Pfizer anunciou ontem que solicitou autorização emergencial para o paxlovid ao Food and Drug Administration (FDA), a agência reguladora dos Estados Unidos. A submissão dos dados do molnupiravir no país foi feita dia 11 de outubro. Um painel de consultores externos do FDA se reunirá para considerar esse pedido em 30 de novembro, e espera-se que esteja disponível este ano. Ainda não há informações sobre quando será avaliado o pedido da Pfizer.

Ambos os medicamentos são vistos como ferramentas poderosas para evitar mais mortes, que no Brasil já ultrapassaram as 611 mil. Atualmente, poucas medicações são efetivas no tratamento contra a Covid-19 para pacientes ambulatoriais, exceto os remédios de anticorpos monoclonais. De forma geral, há poucos tratamentos aprovados para a Covid-19, e todos têm o custo elevado e só podem ser aplicados apenas em hospitais.

Para o infectologista Alexandre Naime Barbosa, chefe do departamento de Infectologia da Unesp e membro do Comitê de Monitoramento Extraordinário da Covid-19 da Associação Médica Brasileira (AMB), a chegada dos novos medicamentos cria uma situação semelhante à que ocorre com a gripe, cuja vacinação acontece anualmente e, caso o indivíduo contraia o vírus e seja de grupo de risco, a droga antiviral para o influenza, oseltamivir, conhecida como Tamiflu, é indicada.

— Os tratamentos são um avanço principalmente nas populações que podem ter maior falha na vacinação, como imunossuprimidos, transplantados, e para aqueles que têm alto risco para Covid grave, como idosos, ou pessoas com comorbidades. Ter um airbag duplo para esses grupos é muito alentador. Mas os antivirais não substituem as vacinas, são complementares — afirma Naime Barbosa.

O infectologista afirma que as medicações devem chegar ao Brasil com um preço elevado, então, mesmo que venham a ser adotadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), devem ser direcionadas apenas a esses públicos. Segundo a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), o preço do paxlovid será em torno de US$ 700 nos países ricos, valor similar ao do molnupiravir.

— Mesmo que sejam incorporadas, vale muito mais a pena prevenir do que remediar, literalmente. Ou seja, para o SUS é muito mais efetivo investir em prevenção com vacinas do que fazer o tratamento do paciente com Covid — diz.

Soraya Smaili, farmacologista da Escola Paulista de Medicina, ex-reitora da Unifesp e coordenadora do SoU_Ciencia, avalia que embora as pílulas demonstrem o rápido avanço da ciência e possam ser uma ferramenta a mais para o controle da doença, é importante ter cautela.

— É ótimo ter esses medicamentos que vão nos ajudar a ter menos internações e menos óbitos. Mas eles ainda são muito novos e a gente precisa observar mais um pouco os efeitos, continuar os estudos.

Smaili explica que as duas drogas, embora possam evitar a sobrecarga dos hospitais e salvar vidas, não ajudam a acabar com a pandemia:

— Quanto menos o vírus circular, menor a chance de a gente ter variantes. Os medicamentos não impedem a circulação, porque a pessoa trata depois que está infectada. É uma solução individual. Claro que menos pessoas doentes e sequeladas alivia o sistema de saúde, mas a única forma de interromper a circulação do vírus é a vacina associada às medidas não farmacológicas. Só assim chegaremos a um controle da pandemia.

A especialista considera especialmente promissor o paxlovid, que é um inibidor de protease, impedindo que o vírus infecte à célula. Segundo ela, esse caminho de tratamento é uma tendência e outros inibidores devem surgir em breve.


Genéricos

As pílulas antivirais também têm potencial de grande impacto em países onde a vacinação está muito baixa. Também ontem a Pfizer assinou um acordo de licença voluntária que deve permitir o acesso ao paxlovid para além dos países ricos, de acordo com a Medicines Patent Pool (MPP).

Os fabricantes de medicamentos genéricos "que receberem sublicenças poderão oferecer o novo medicamento em associação com ritonavir (usado contra o vírus HIV) em 95 países, que cobrem quase 53% da população mundial", informou a iniciativa global Unitaid.

Com o acordo, a Pfizer avança na mesma área que sua concorrente MSD, que anunciou um pacto similar com a MPP para o molnupiravir.

O acordo inclui todos os países de renda baixa, média-baixa e média-alta da África Subsaariana, assim como países de renda média-alta que alcançaram esse status nos últimos cinco anos. A Pfizer não receberá royalties pelas vendas e renunciará a seus royalties pelas vendas em todos os países cobertos pelo contrato, desde que a Covid-19 continue sendo considerada uma emergência de saúde pública de interesse internacional por parte da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A Médicos Sem Fronteiras manifestou seu "desânimo" com o acordo, que exclui Argentina, Brasil, China, Malásia e Tailândia, países que contam com recursos significativos de fabricação de genéricos.


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