Publicado em 30/08/2021 - 10:03 / Clipado em 30/08/2021 - 10:03
SUS, ciência e universidades se valorizam na pandemia, sugere pesquisa
Parcela que atribui importância altíssima ao sistema de saúde saltou de 40% para 62%
SAMUEL FERNANDES
Da Folhapress - São Paulo
A pandemia de Covid-19 fez com que disparasse o número de brasileiros que valorizam o SUS (Sistema Único de Saúde), a ciência, as universidades públicas e os hospitais universitários.
De acordo com pesquisa recente do centro de estudos Sou_Ciência (Sociedade, Universidade e Ciência), antes da chegada do coronavírus, 40% dos brasileiros atribuíam importância altíssima ao SUS. Agora, essa cifra passou para 62%.
Ao mesmo tempo, o percentual dos que dão importância baixa ou baixíssima ao Sistema Único de Saúde caiu de 14% para 9%.
O estudo confirma a percepção de gestores e profissionais da saúde, que já vinham apontando para uma redescoberta do SUS.
O Sou_Ciência, centro de estudos sediado na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), entrevistou 1.268 pessoas, respeitando recortes demográficos baseados na Pnad de 2018 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) e no Censo de 2010, ambos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A pesquisa, feita em parceria com o Instituto Idea Big Data, mostrou também uma valorização da ciência, cuja importância era vista como altíssima por 47%, antes da pandemia, e que passou para 70% agora.
O percentual dos que dão importância baixa ou baixíssima para a ciência despencou de 12% para 5%.
A valorização da ciência ocorre mesmo entre os que consideram ótimo ou bom o governo de Jair Bolsonaro (sem partido), embora o presidente tenha dado inúmeras demonstrações de desapreço pelo método científico.
Segundo Pedro Fiori Arantes, professor de história da arte da Unifesp e um dos coordenadores do Sou_Ciência, o próximo passo da pesquisa é entender melhor esse fenômeno chamado por ele de perfis cruzados. "São os bolsonaristas a favor da ciência e da universidade pública e, do outro lado, temos críticos ao governo que não são favoráveis à ciência e a universidade", afirma.
Para o Arantes, uma possível explicação preliminar para os perfis cruzados seria o fato de os apoiadores do presidente terem maior renda e escolaridade do que a média da população.
Os pesquisadores também coletaram dados relacionados à vacinação contra a Covid-19. Do total de respostas, somente 5,5% disseram que não tomaram nenhuma dose e não pretendem fazê-lo. O resultado é semelhante a pesquisa Datafolha que mostrou adesão recorde às vacinas.
O papel das universidades públicas e dos hospitais universitários foi outro eixo da pesquisa. Nesse caso, o percentual dos que atribuem importância altíssima passou de 42% para 59%.
O Sou_Ciência também questionou os entrevistados sobre a ampliação do número de universidades e institutos federais no país. Pouco mais da metade (52%) disse ser favorável à retomada da expansão da educação superior pública e gratuita e de aumentar esse tipo de investimento. Uma fatia minoritária (8%) defendeu privatizar as universidades e/ou cobrar mensalidade, além de reduzir o investimento no setor.
Para Soraya Smaili, ex-reitora da Unifesp e uma das coordenadoras do Sou_Ciência, o aumento da confiança no SUS, nas universidades públicas e na ciência brasileira estão interligados. Segundo ela, o Brasil conta com 40 hospitais universitários que compõem uma rede decisiva de atendimento durante a pandemia e que causou grande impacto em como as pessoas enxergam a saúde pública.
"As nossas universidades tiveram um papel fundamental na promoção da saúde, na realização de exames para diagnósticos, na produção de pesquisas clínicas para novos tratamentos e também na obtenção das vacinas contra a Covid-19", diz.
A política de cotas raciais foi outro ponto abordado na pesquisa. Pouco menos da metade dos entrevistados (44%) disse ser a favor da continuidade dessa política pública, enquanto 19% defendem seu cancelamento.
Outro ponto que os pesquisadores investigaram foi o meio utilizado quando os entrevistados buscam informação confiável sobre pandemia, prevenção, tratamento e vacinas. Televisão aberta (44%), mídias sociais (39%) e revistas e jornais (35%) foram as mais indicadas em pergunta com múltiplas respostas possíveis.
Pedro Fiori Arantes afirma que esse dado mostra que, mesmo com as redes sociais, a mídia tradicional ainda é vista como a mais segura e confiável para grande parcela da população.
Comunicações oficiais do governo federal (27%) e das instâncias estaduais e municipais (31%) aparecem um pouco atrás. Pronunciamentos oficiais de Bolsonaro foram apontados como fontes confiáveis de informação por 9% dos entrevistados.
Sites de institutos de pesquisas e universidades foram indicados por 32%.
"Essa informação é promissora, no sentido de que a população está disposta a ouvir e procurar informações nas universidades, mas existe uma desigualdade enorme [no acesso a esses canais] entre pessoas de maior renda e instrução e aquelas de renda baixa e com menor instrução", afirma Arantes, que vê o grande desafio da ciência brasileira conseguir ser mais acessível para maior parcela da população.
"É importante que as universidades e os cientistas tenham canais instituídos, de ampla divulgação e mais reconhecidos", afirma Arantes.
Veículo: Online -> Site -> Site Diário de Cuiabá/MT