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 Site Academia Brasileira de Ciências

Publicado em 09/07/2021 - 14:37 / Clipado em 13/07/2021 - 14:37

Saiba como foi o ato de lançamento da iniciativa SOU_CIÊNCIA




Alguns dos participantes do evento reunidos ao final da sessão: Raiane Patricia Assunção, as Acadêmicas Debora Foguel e Vanderlan Bolzani, Pedro Arantes, Soraya Smaili, o vice-diretor da ABC Oswaldo Luiz Alves, Lidiane Cristina, Guinar Azevedo, Maria Angélica Pedra, David Martins.


A noite do dia 8 de julho marcou o lançamento do projeto SOU_Ciência, projeto científico coordenado pela Soraya Smaili, reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A data escolhida não foi por acaso: no mesmo dia, também são comemorados o Dia da Ciência, Dia do Pesquisador e o aniversário da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

De acordo com a coordenadora do projeto, o SOU_Ciência é um grupo de pesquisas multidisciplinar, centro de estudos e think thank cadastrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Sediado na Unifesp, o projeto é composto por uma equipe de pesquisadores de vários campi e de outras universidades com histórico de pesquisa, inovação e gestão em ciência, tecnologia e inovação (CT&I).

Uma das marcas do projeto é o seu Comitê Científico de alto nível, com representação nacional e internacional. Alguns membros da ABC fazem parte do comitê, sendo eles: a vice-presidente da ABC, Helena Nader; os membros titulares da ABC José Galizia Tundisi, Luiz Carlos Dias, Marcos Silveira Buckeridge e Naércio Menezes; o vice-presidente para a Região de São Paulo Oswaldo Luiz Alves. Debora Foguel, membro titular da ABC, é pesquisadora associada.

Foguel abriu o evento, explicando a origem do nome do projeto: um acrônimo para as palavras sociedade e universidade e a palavra ciência, justamente os três grupos que o projeto pretende integrar. “Esse centro tem como objetivo produzir estudos e acompanhar políticas públicas no que diz respeito a ciência, além de estreitar os canais de comunicação com a sociedade, colocando a ciência no protagonismo da vida das pessoas”, justificou a Acadêmica.

A intenção do projeto é ser uma voz de resistência e de defesa da universidade, da ciência, dos direitos humanos e democracia acima e à frente de tudo.


As multifaces do projeto

 Soraya Smaili apresentou os principais pontos a serem tratados pela iniciativa. A missão é fortalecer a conexão entre sociedade, estado e ciência e o objetivo não fica restringido apenas à luta: o grupo visa produzir análises, diagnósticos e propostas na área da educação superior. As linhas de pesquisa incluem a área de CT&I.

O projeto recém-criado já conta com algumas ações em andamento, inclusive a abertura de um edital com nove bolsas de iniciação científica e três de pós-doutorado. Na lista das ações futuras, que devem ter início já no próximo mês, Smaili inclui o início das pesquisas com bolsistas e pesquisadores associados, a criação de um Conselho Estratégico e a reunião do Comitê Científico.


A jovem ciência brasileira necessita de investimentos

Luiz Davidovich, presidente da ABC, destacou a importância da marcha conjunta da ABC e da SBPC pela democracia e contra o autoritarismo e a participação das duas entidades no apoio da nova iniciativa. “Este Dia Nacional da Ciência é um dia de luta e também um dia luto pelos mais de meio milhão de mortos provocadas por uma gestão desastrosa de saúde e pelo negacionismo. É realmente uma tragédia que se abateu sobre nosso país”, disse o físico.

O presidente da ABC lembrou que, apesar de a ciência brasileira ainda ser jovem – as primeiras universidades brasileiras surgiram no início do século 20 –, ela vem provando sua excelência obtendo prestígio nas áreas da saúde, da agricultura, e com grandes empresas que obtiveram prestígio internacional. Agora mais do que nunca, é hora de lutar contra cortes excessivos, que estão inviabilizando o funcionamento das universidades federais. Davidovich categorizou as atuais ações do governo como parte de um “terraplanismo econômico que não sabe diferenciar gastos correntes de investimento”, que acabam prejudicando o desenvolvimento sustentável do país”.

Davidovich encerrou sua fala com votos de que o projeto ajude o país a se conhecer melhor: “Precisamos nos preparar para a superação essa situação. Para isso, precisamos trabalhar nas propostas para o futuro do país. Esse debate precisa acontecer, e se o governo não promove, cabe a nós promover.”


Celebrando a ciência nacional e pensando no futuro

Vanderlan Bolzani, membro titular da ABC e presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp), disse enxergar no projeto a esperança necessária para conseguir fugir do momento que a ciência nacional vive.

Ela destacou que, estamos diante de um país que há 80 anos era muito atrasado e hoje é um país que, mesmo caindo algumas posições em relação à esfera mundial ( de 7ª maior economia para 13ª), ainda está em uma posição boa, graças ao que as universidades construíram ao longo dos últimos anos. A Acadêmica comentou alguns dos principais feitos científicos nacionais, como a produção de energia limpa e a tradição na produção de vacinas dos institutos Farmanguinhos (Fiocruz) e Butantan.

“Temos mais do que a obrigação de celebrar o SOU_Ciência, pois sabemos da importância da ciência no desenvolvimento da sociedade. Mas a sociedade não sabe disso. A prova disso são as passeatas e motociatas que apoiam o que temos de pior no nosso país: aquilo que nega a ciência, que nos faz retroceder. Justo em um momento em que deveríamos nos solidarizar e nos unir.”

Bolzani espera que os cientistas e a sociedade civil se unam para fazer com que o país avance e seja mais justo, humano e feliz para as próximas gerações. “Aprendemos que se leva muito tempo para construir. Mais de 100 anos para construir uma academia brasileira de ciências, 70 anos para erguer uma sociedade científica… E foram apenas quatro anos para destruir. Nós não podemos permitir isso”, disse.


A importância da pesquisa universitária e da diplomacia

Oswaldo Luiz Alves iniciou sua fala falando sobre a importância dos hospitais universitários (HUs) no eixo diagnóstico-assistência-suporte durante o enfrentamento à COVID-19. Além do atendimento, ele destacou a produção de mais de 1 milhão de litros de álcool em gel, que no início da pandemia estava em falta até mesmo para os profissionais da linha de frente, e também da produção de máscaras.

Os HUs foram importantes não apenas nessa primeira fase da pandemia, mas também na disseminação da informação, no monitoramento e no desenvolvimento de aparelhos e tratamentos. “A universidade continua no trabalho de dar colaborações efetivas à pandemia que estamos passando”, disse o vice-presidente da ABC, ressaltando a atuação dos universitários na pesquisa básica e também na construção de modelos epidemiológicos e nos ensaios clínicos. Ele destaca que, durante esse período, ocorreram mais de 2 mil ações envolvendo universidades brasileiras.

Em números, a situação do país é crítica: os setores de pesquisa recebiam R$14 bilhões de investimento em 2015. No último ano, esse número é quase três vezes menor: apenas R$4,4 bilhões de orçamento. As implicações do “desfinanciamento” incluem o sucateamento dos instrumentos, o esvaziamento dos laboratórios devido à falta de bolsas e a evasão de jovens talentosos, que buscam melhores oportunidades no exterior.

Quando o assunto é a falta de verba para a pesquisa, é impossível não mencionar o FNDCT: “Vencemos no senado, na câmara, no congresso, mas até o momento não sabemos se os recursos do FNDCT conseguirão irrigar o sistema brasileiro de pesquisa”, afirmou Alves, que completou afirmando que todo o esforço que têm sido feito desde o ano passado está voltado para mudar a questão da falta de financiamento.

Se referindo à situação brasileira, o Acadêmico notou que as crises e epidemias estão ocorrendo com cada vez maior proximidade: o zika vírus em 2016, derramamento de óleo no litoral nordestino em 2019 e o Sars-Cov-2 em 2020. Ele se questiona: “Qual será a próxima crise? Qual será o tamanho dessa próxima crise?”

“É fundamental que a comunidade científica entenda a necessidade de mobilização na direção certa e de trazer para a ciência os recursos do FNDCT.”

Outro tópico que o Acadêmico ressaltou foram os ataques desrespeitosos à educação e à saúde por parte de algumas autoridades, além de narrativas preconceituosas que geraram incidentes diplomáticos desnecessários.

“COVID-19 se enfrenta com ciência. E eu SOU_Ciência”, afirmou o Acadêmico, encerrando sua fala.

Ao final do evento, o site oficial do projeto foi lançado. Visite-o para saber mais sobre a iniciativa.

Para conferir a fala completa de todos os participantes, assista à gravação completa do evento no canal do SOU_Ciência no YouTube.

(Carol Telles para NABC)


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