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 Site Valor Econômico - São Paulo/SP

Publicado em 28/04/2022 - 07:55 / Clipado em 28/04/2022 - 07:55

Em minoria, reitoras têm foco na ação afirmativa


Dupla jornada e assédio são desafio também para doutoras


Por Martha Funke — Para o Valor, de São Paulo



Joana Guimarães, da UFB: primeira reitora negra em instituição federal no país — Foto: Divulgação

Joana Guimarães, reitora da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), atende seu filho durante a entrevista, concedida enquanto se recuperava de chikungunya. A situação retrata o papel da mulher no espaço acadêmico: mesmo entre doutores, sobram desafios como dupla jornada, assédio e machismo.

O tema foi discutido em encontro virtual promovido pela Sou Ciência com nove reitoras de instituições federais. O número de mulheres na função é tímido. Em meados dos anos 2010, chegou a 23 reitoras entre 63 universidades. Hoje são 14 em 69 instituições. Mas há destaques, como a primeira mulher na presidência do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB), Lia Quintana, reitora do Centro Universitário da Região de Campanha (Urcamp), que a elegeu como primeira reitora em 2010 e a reelegeu mais duas vezes.

Segundo dados do CRUB, as mulheres estão em melhor posição nas instituições particulares. Nas demais (comunitárias e públicas), ocupam em média uma a cada cinco reitorias, embora 57% das vagas no ensino superior do país fossem ocupadas por mulheres em 2019, segundo o Mapa do Ensino Superior do instituto Semesp

As reitoras aproveitam para garantir a representatividade feminina. No CRUB, elas estão com metade dos cargos de direção. “Reflete um movimento que está ocorrendo nas universidades de todo o Brasil”, diz Quintana, especialista e mestre em engenharia civil com atividades em diversas entidades.




Denise de Carvalho, da UFRJ: pró-reitorias acadêmicas ocupadas por mulheres — Foto: Divulgação


Na UFSB, criada em 2014, Joana Guimarães se tornou em 2017 a primeira reitora negra em instituições federais no país. Sua meta é inserir a universidade na realidade do território, com iniciativas como cota de 75% para alunos de escolas públicas e implantação do conceito de colégios universitários, com aulas a distância em salas de escolas de ensino médio.

Cursos com participação de mulheres abaixo de 20%, como em áreas de exatas, ganham edital próprio com vagas para elas e este ano nasceu um grupo de trabalho para discutir questões de gênero. Guimarães conhece bem essas dificuldades. Geóloga de formação, teve experiência em campo, aprendeu a administrar a família e a profissão enquanto lidava com equipes de minas. “Tem de saber como andar ou se vestir. Se sentar para tomar uma cerveja já está dando mole”, aponta.

Ex-reitora da Unifesp, Soraya Smaili, da Sou Ciência, conta que em sua gestão o número de diretoras chegou a superar o de homens. “As reitoras criam políticas afirmativas”, diz. Levantamento do pesquisador Alexsandro Cardoso Carvalho mostra o quanto elas são necessárias, já que quanto mais elevado o cargo, menos mulheres.

Na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), a reitora Claudia Marliére, nutricionista de formação, iniciou ações afirmativas em 2017 após um caso de assédio sexual envolvendo uma aluna: um projeto de extensão de ouvidoria com rede jurídica e de psicologia para acolher mulheres. Dois anos depois a universidade se tornou a primeira no país a reconhecer e conceituar a violência contra a mulher no segmento.




Em 2021, a ouvidoria foi formalizada e nasceu a rede Andorinha, coletivo de mulheres para avaliar ações para combater a assimetria de gênero. Em parceria com a escola de computação surgiu um aplicativo para mulheres identificarem no Google Maps locais inseguros, com botão para acionar polícia e universidade.

Ouro Preto vai sediar um encontro de reitoras de universidades federais para discutir iniciativas. Na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), a reitora Lucia Pellanda destaca medidas como eventos amigáveis para crianças, fraldários, locais de amamentação e ocupação por mulheres de oito dos dez principais cargos da alta gestão. Elas são 68% dos estudantes da graduação, 75% da pós-graduação, 65% do corpo docente e 57% do técnico-administrativo. Pellanda defende a união de suas pares para reforço de seus papéis. “No dia da mulher não me dê flores, cite meus artigos ou me convide para falar”, brinca.

A primeira reitora da UFRJ, Denise Carvalho, também primeira mulher presidente do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, sustenta o equilíbrio de gênero na alta gestão. Em sua equipe, as pró-reitorias acadêmicas de graduação, pós-graduação e extensão são ocupadas por mulheres.

Entre as particulares, o avanço é maior. Das 12 instituições de ensino superior do grupo Cruzeiro do Sul Educacional, sete são lideradas por mulheres. A reitora da Universidade do Distrito Federal (UDF), Beatriz Eckert-Hoff, lembra que o magistério no país é feminino, mas isso não se reflete na alta gestão e a mulher precisa provar sua competência - no seu caso, com resultados como triplicar o número de alunos da instituição. “A mulher na liderança inspira as demais”, diz.


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