Publicado em 12/09/2023 - 08:37 / Clipado em 13/09/2023 - 08:37
Maioria apoia criminalizar Bolsonaro por pandemia
• Povo quer prisão para Bolsonaro • Crimes da pandemia não devem ficar impunes • Epidemia de suicídios no Brasil e nas Américas • Aborto legal no México • ONU: governos omissos com Clima •
por Gabriel Brito
Num tempo em que muito se fala de jóias roubadas, a sociedade terá esquecido o grande crime do ex-presidente: sua negligência e sabotagem à Saúde Pública durante a pandemia? O Instituto Sou Ciência, ligado à Unifesp, realizou pesquisa para saber até que ponto os brasileiros responsabilizam Bolsonaro pelo desastre sanitário e defendem sua criminalização. Resultado: 62% dos brasileiros consideram o ex-presidente e o ministério da Saúde — chefiado na maior parte do período pandêmico pelo general Eduardo Pazuello — diretamente responsáveis pela alta taxa de infecções e mortes que assolaram o país. Ainda de acordo com o levantamento, 51% defendem sua responsabilização jurídica e penal, com base nos encaminhamentos do relatório final da CPI da pandemia, que para boa parte dos entrevistados serviu como plataforma de esclarecimento sobre os crimes contra a saúde pública do governo anterior.
Vale lembrar um dos estudos marcantes a respeito. Ainda em 2021, o trabalho Linha do tempo da estratégia federal de disseminação da covid-19,coordenado por Deisy Ventura, documentou centenas de decisões administrativas da gestão Bolsonaro que tiveram o claro viés de facilitar a disseminação do coronavírus em território nacional. A autora é , jurista e professora da Faculdade de Saúde Pública da USP.
Sabotagem, justiça e reparação
Na pesquisa do Sou Ciência, os cidadãos também foram inquiridos a respeito de quais seriam as melhores alternativas de compensação à sociedade pelos danos causados pelo governo negacionista. Como mostra matéria da Agência Brasil, os três itens mais mencionados foram: “criar uma Comissão da Verdade para apurar os crimes (44,7%); indenizar as vítimas, crianças que perderam pai e/ou mãe (39%); criar um Tribunal Especial para acelerar os julgamentos (38,3%)”. Outro aspecto importante da pesquisa é a diferença de adesão a vacinas entre eleitores de Bolsonaro e Lula, indício indireto da influência do ex-presidente na sabotagem da devida política sanitária para a pandemia. O relatório final da CPI da pandemia, encerrada em novembro 2021, pediu o indiciamento de 80 pessoas e imputou nove diferentes crimes a Jair Bolsonaro. Cabe à Procuradoria Geral da República dar seguimento ao processamento jurídico dos imputados. Em caso de omissão, a tarefa cabe ao conjunto do Ministério Público Federal. Caso nada seja feito por tais instituições, o tema pode parar no STF.
Um lado oculto da tragédia: suicídios aumentam no Brasil
Pesquisadores do Instituto Leônidas & Maria Deane, da Fundação Oswaldo Cruz no Amazonas (ILMD/Fiocruz Amazônia), analisaram dados de óbitos durante a pandemia a fim de analisar as taxas de suicídio do período e descobriram mais uma faceta invisível da tragédia: o aumento do número de suicídios no Brasil. “Houve 28% de suicídios além do esperado em mulheres com 60 anos ou mais da região sudeste”. No Norte e Nordeste, o aumento foi ainda maior — 32% e 61%, respectivamente, entre mulheres na faixa de 30 a 59 anos, informou a Agência Brasil. A pesquisa aponta que, num período particularmente grave da pandemia — entre os meses de julho e outubro de 2021–, registrou-se o ‘alarmante excesso de suicídios de 83% em mulheres com 60 anos e mais do Nordeste’”, agrega a reportagem. Neste mês, o ministério da Saúde promove a campanha Setembro Amarelo, que visa a prevenção do suicídio e orienta pessoas que pensam em tirar a própria vida a buscarem ajuda na Rede de Atenção Psicossocial do SUS, além de estratégias de acolhimento e ajuda ofertadas por outras ações e instituições.
As causas e as novas estratégias contra o suicídio
No final do mês, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) promoverá a 60ª reunião de seu Conselho Diretor. Participarão do encontro gestores e autoridades de saúde dos países do continente. Segundo o presidente da OPAS, Jarbas Barbosa, a elaboração de novas políticas acerca do suicídio serão prioridade. A pandemia da COVID-19 exacerbou ainda mais os fatores de risco para o fenômeno, incluindo desemprego, insegurança financeira e isolamento social. “Continuaremos a apoiar a educação e o treinamento de profissionais de saúde e o fortalecimento dos sistemas nacionais de vigilância para informar o desenvolvimento de estratégias de prevenção ao suicídio adaptadas localmente”, afirmou Barbosa. Nos anos 2000, o continente americano é o único do mundo que observou aumento das taxas de suicídio na população, com alta de 17%.
Aborto livre: o México atrairá as norte-americanas?
Os movimentos feministas das América Latina comemoraram, na última quarta-feira (6/9), a descriminalização do aborto no México, por decisão da Suprema Corte. Mas vale acompanhar um possível desdobramento importante — e curioso. Acossadas pela justiça de seu próprio país (onde a Corte Suprema recuou da garantia do mesmo direito), mulheres norte-americanas cruzarão a fronteira para interromper a gravidez indesejada? Nos EUA, certos estados agora proíbem o procedimento mesmo em casos de violência sexual. Diante dos retrocessos sociais e culturais na maior economia do mundo, o antigo “quintal” será a alternativa? Vale conferir. Enquanto isso, a Igreja Católica do México usou de um argumento inusitado contra a decisão da Suprema Corte. Falou em “discriminação contra as mulheres que decidiram ter filhos”, supostamente preocupada com as possíveis chantagens dos empregadores, ou desvantagens das mães no mercado de trabalho.
Clima: diante dos desastres, governos omissos
Após mais um fracasso nos debates sobre políticas de contenção do colapso ambiental, desta vez na cúpula do G-20, na Índia, o mundo segue a contabilizar tragédias. Enquanto o Brasil se depara com os imensos desafios de reconstrução das cidades gaúchas destruídas pelo ciclone extratropical, a Líbia conta 150 mortes provocadas pela tempestade Daniel. Na abertura da 54a. Reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU, Volker Turk, comissário das Nações Unidas para o tema, lamentou o vazio de decisões da cúpula de Nova Déli e afirmou que, em relação aos efeitos do aquecimento global, “o futuro distópico já começou”. Enquanto isso, o Brasil, que celebrou o Dia do Cerrado nesta segunda, 11, vive intensamente os embates entre setores que visam a criação de uma economia sustentável com aqueles que ainda tentam reproduzir práticas cada vez mais destrutivas, como se pode ver na entrevista de Marina Silva à Agência Pública publicada no dia 6.
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