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Portal G1 (Jornal Hoje)

Publicado em 21/04/2023 - 08:22 / Clipado em 24/04/2023 - 08:22

Pesquisadores sofrem com falta de investimento em pesquisas de ponta nas universidades federais


Dados mostram que os investimentos nas universidades federais caíram quase 70% entre 2018 e 2022. Esses recursos são aplicados no patrimônio, como reformas e obras, compra de equipamentos, computadores, livros e materiais permanentes.

 

Por Jornal Hoje

 

 

 

A falta de investimentos prejudica as pesquisas de ponta nas universidades federais do Brasil. Na segunda reportagem da série especial do Jornal Hoje, os repórteres mostram que os cientistas têm que encontrar caminhos para continuar com os projetos.

Dados mostram que os investimentos nas universidades federais caíram quase 70% entre 2018 e 2022. Esses recursos são aplicados no patrimônio, como reformas e obras, compra de equipamentos, computadores, livros e materiais permanentes.

“Nós não podemos trabalhar na nossa capacidade plena se não tivermos a recuperação desta infraestrutura. Nossas universidades estão prontas, tem um potencial, uma capacidade instalada que pode produzir respostas rapidamente para a sociedade brasileira, como nós mostramos durante a pandemia”, explica Soraya Soubhi Smaili, coordenadora do Sou Ciência e professora da Unifesp.

No Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisas importantes para a população brasileira são desenvolvidas. No laboratório, os pesquisadores descobriram que o vírus da zika afeta não só os bebês, que podem desenvolver microcefalia, mas também o cérebro de adultos.

“Eles podem ter uma condição muito semelhante ao Alzheimer, uma demência, um comprometimento que pode ser reversível em alguns casos e outros não”, diz Cláudia Figueiredo, neurocientista e professora faculdade de farmácia/UFRJ.

O estudo foi publicado em revistas internacionais renomadas, como a "Science" e a "Nature". Um reconhecimento que não condiz com a falta de investimentos.

Um dos grandes problemas que laboratórios como os da UFRJ enfrentam é a falta de bolsas para os alunos continuarem as pesquisas. E quando eles conseguem, os valores são baixos. Eles acabam indo embora buscar melhores oportunidades de trabalho no setor privado.

Foi o caso da Raquel Costa Silva. Ela se formou na UFRJ, queria continuar fazendo pesquisas, mas precisou procurar um trabalho que pagasse melhor. Passou 6 anos em uma empresa privada e voltou para fazer mestrado e pós-doutorado.

“É a gente que dá a base para a ciência em todo o país e a gente não tem reconhecimento naquilo que a gente está gerando na população como um todo, né? Então, o dinheiro que a gente recebe é bem curto para tudo o que a gente dedica ao longo da nossa vida na carreira acadêmica”, diz Raquel.

O governo federal anunciou em fevereiro um reajuste das bolsas de pós-graduação e de iniciação científica do Capes e do CNPq. Elas estavam congeladas há dez anos.

A bolsa de mestrado subiu de R$ 1 ,5 mil para R$ 2,1 mil. As de doutorado, para R$ 3,1 mil e as de pós-doutorado, para R$ 5,2 mil. O auxílio para a iniciação científica e docência passou para R$ 700. 256 mil bolsistas foram beneficiados.

Atualmente, o laboratório do Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás trabalha em plena produção, mas não era assim antes.

Durante a pandemia da covid, os pesquisadores conseguiram desenvolver testes rápidos, até então escassos no mercado, com pouco material. A pesquisa não parou porque recebeu investimentos do Ministério Público do Trabalho de Goiás.

“A gente tinha um frasco de reenzima que estava pela metade, umas duas caixas de luvas, e aí a gente mesmo com essa precariedade, a gente começou para ver que a coisa ia dar certo, a gente viu que daria, que a gente conseguiria fazer, mas não tinha recurso financeiro. Então, a pesquisa teria parado no seu primeiro mês, menos de um mês de trabalho ela pararia”, explica Gabriela Rodrigues Mendes Duarte, professora e pesquisadora da UFG.

O Parque Tecnológico da UFG foi projetado em 2011 para receber centros de pesquisa, laboratórios e incubadoras de empresas, mas oito anos depois do anúncio do projeto, só há construção em apenas 15% do parque e o funcionamento está muito aquém do que poderia estar.

“Isso, hoje, está gerando uma receita de aproximadamente R$ 15 mil. Não dá para pagar a luz. A nossa conta de energia por mês da quadra inteira aqui é da ordem de R$ 50 mil”, diz Luizmar Adriano Júnior, diretor-executivo do Parque Tecnológico da UFG.

O diretor do parque espera construir outros dois edifícios. Ele disse que já conseguiu R$ 19 milhões em financiamento, muito menos do que o necessário para as obras.

Em nota, a reitora de pesquisa e inovação da UFG, Helena Carasek, disse que houve a liberação de recurso da Financiadora de Estudos e Projetos, a Finep, no valor R$ 7,5 milhões no início do ano. É a primeira metade dos R$ 15 milhões previstos pelo projeto.

Esse montante, segundo a reitora, será usado para a construção de um edifício que vai sediar o Centro de Excelência em Inteligência artificial e também vai abrigar empresas de base tecnológica e startups incubadas, no Parque Tecnológico Samambaia.

Ainda de acordo com a nota, o segundo investimento no parque é o Centro de Energia e Petróleo, em parceria com a Petrobras. Do montante de R$ 23 milhões previstos para o projeto, já foram recebidos R$ 15 milhões.

 

https://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2023/04/21/pesquisadores-sofrem-com-falta-de-investimento-em-pesquisas-de-ponta-nas-universidades-federais.ghtml

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