Publicado em 17/02/2023 - 10:53 / Clipado em 17/02/2023 - 10:53
Opinião – Sou Ciência: O que a Ciência precisa para Reconstruir?
Nesta quinta-feira, 16 de fevereiro, pouco mais de 40 dias após o início do novo Governo de Luiz Inácio Lula da Silva, assistimos ao anúncio de um reajuste nos valores das bolsas de pesquisa, de cerca de 40% para 45% para o ano de 2023 A expectativa é que este seja o primeiro passo de um novo ciclo de valorização dos jovens que buscam dar continuidade aos estudos, pesquisas e ciência.
Percebemos também uma mudança fundamental de postura no novo Governo, principalmente por parte do presidente, que deixa clara a importância da Ciência e o quanto pretende valorizá-la e ampliá-la. Uma clara diferença também está no tratamento que a comunidade científica vem recebendo, no que diz respeito aos pesquisadores e às universidades, especialmente as federais, e aos institutos de pesquisa.
Certamente um bom começo e um grande alívio diante do fato de que se houvesse mais um (des)Governo Bolsonaro, seria o caminho para a destruição total. Não podemos esquecer que estivemos muito perto deste lugar. Mas também é importante perguntar se algumas áreas ou instituições não o alcançaram; pergunte sobre os danos e o tempo que levará para recuperar o que foi destruído.
Nesse sentido, é preciso pensar estrategicamente no futuro e no que deve ser feito para recuperar, colocar a casa em ordem, juntar poderes e ter um novo ciclo de crescimento.
Sem dúvida, é necessária uma recomposição orçamentária, uma ação complexa que exige a articulação de vários elementos. Uma delas, mencionada no início deste artigo, é a recuperação de bolsas estudantis e de pesquisa. Mas também é preciso criar incentivos para a fixação de cientistas e pesquisadores e, para isso, é fundamental conhecer o diagnóstico sobre a evasão de médicos, bem como os motivos da evasão dos pós-graduandos antes de obter o título.
Também é preciso pensar em programas que possam estimular mais jovens a permanecerem na carreira acadêmica. São os chamados incentivos de permanência, que devem ter caráter sistêmico e em todos os níveis, com a ampliação dos programas existentes (por exemplo, o PNAES) e o estabelecimento de políticas públicas com articulação interministerial e trabalho coordenado.
Outros fatores dizem respeito à recomposição orçamentária do MCTI, à liberação dos valores do FNDCT arrecadados para investir em Ciência e que tem sido contingência. Como demonstramos em Painel de Financiamento SoU_Ciênciahouve uma perda de mais de 35 bilhões de reais em recursos do Fundo que foram acumulados e que foram desviados pelo Governo Bolsonaro.
Outro aspecto fundamental é a recuperação dos orçamentos de custeio das universidades federais, que sofreram uma perda de mais de 50% nos últimos 4 anos. Aqui também vale a ação coordenada entre os ministérios para recuperar a Infraestrutura de pesquisa das universidades e institutos, já que há um grande desnível e deterioração. Não há como comprar equipamentos de última geração sem fornecer uma estrutura competente para acomodá-los. Além disso, a estrutura e as condições dignas de trabalho são aspectos intrínsecos à valorização, dignidade e saúde mental de pesquisadores, técnicos e estudantes.
Para além das questões orçamentais, urge pensar de forma articulada as prioridades para o desenvolvimento do nosso país, possibilitando formas inovadoras de interação entre investigadores, com a criação de espaços que conduzam à formação de redes sobre temas estratégicos e convergentes . A pandemia trouxe muito aprendizado nesse sentido e esse legado pode servir de base para encaminhar e solucionar grandes problemas com a otimização de recursos orçamentários e humanos. As universidades federais contribuíram enormemente durante o lutar contra COVID-19, aprendizagem que deve ser reconhecida e preservada. Certamente, uma nova edição da Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, que não acontecia desde 2006, contribuirá para a discussão de grandes temas prioritários para o país.
Por fim, a atuação coordenada com governos, parlamentares e entidades públicas e privadas deve ampliar as parcerias necessárias para recompor o ambiente e o entusiasmo da comunidade científica e dos futuros pesquisadores na produção do conhecimento. Ações sistêmicas envolvendo recursos orçamentários para Infraestrutura, manutenção de equipamentos e incentivos coordenados com a aplicação da ciência em políticas públicas ou novas tecnologias serão fundamentais para o resgate pós-pandemia e para a superação das imensas incertezas que vivemos e do legado de destruição do Governo Bolsonaro.
Para tanto, também será importante ampliar e buscar novas formas de divulgação do conhecimento científico, integrando as estratégias de comunicação desenvolvidas até o momento e formando um ecossistema de proteção da Ciência e do Conhecimento, contribuindo assim para que a sociedade brasileira continue vinculada e aumente sua percepção e para que a Ciência seja parte permanente do crescimento e desenvolvimento e trabalhe a favor da Vida.
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