Publicado em 17/01/2023 - 07:57 / Clipado em 18/01/2023 - 07:57
Veja como está a vacinação contra Covid-19 dois anos após 1ª dose
Enfermeira Mônica Calazans foi a primeira paulista a receber a dose no estado de São Paulo. Apesar dos avanços, imunização infantil ainda não engrenou
Letícia Bilard
Em 17 de janeiro de 2021, a primeira vacina contra a Covid-19 foi aplicada no Brasil nos braços da enfermeira Mônica Calazans, que atuou na linha de frente contra a doença no Hospital das Clínicas, zona oeste da capital paulista. Comovida, a plateia de convidados e imprensa aplaudiu o episódio. Na época, 210 mil brasileiros haviam morrido após contrair o coronavírus.
A aplicação do imunizante CoronaVac, desenvolvido em parceria entre o Instituto Butantã e a empresa chinesa Sinovac, aconteceu minutos após a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovar o uso emergencial da vacina no país.
O momento, transmitido em rede nacional, se transformou em um daqueles episódios em que todos os brasileiros sabem apontar onde, quando, com quem e o que faziam naquele domingo. Mas, apesar do sentimento de vitória, alguns paulistas ainda optam por não se vacinar ou não levar seus filhos para a imunização.
No estado de São Paulo, com 128 milhões de doses de vacinas aplicadas, o público infantil tem sido o responsável por puxar a taxa de imunização para baixo.
Entre crianças de 6 meses a 11 anos, apenas 60,54% tomaram a primeira dose do imunizante e menos da metade, 46,63%, completaram a imunização. Segundo o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), a vacina deve ser obrigatória quando recomendada por autoridades sanitárias, como é o caso da Covid-19.
Para o médico Renato Kfouri, pediatra infectologista e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, a vacinação infantil contra a Covid-19 vem sendo alvo de baixa cobertura vacinal por diversos motivos, como fake news e desinformação.
De acordo com o pediatra, há uma percepção de que a pandemia está mais calma agora e a ideia equivocada de que as crianças não adoecem tão gravamente.
"Quando se compara a Covid-19 em crianças com as demais doenças pediátricas, o impacto é muito grande. As pessoas se distraem achando que a Covid é uma doença leve quando, na verdade, temos milhares de óbitos em crianças e adolescentes, dezenas de milhares de hospitalizações em virtude da doença. Sozinha, a Covid-19 faz mais vítimas do que todas as outras doenças do calendário vacinal infantil juntas", alertou Kfouri.
Na segunda-feira (16), o Ministério da Saúde informou que deu início a distribuição de 740,2 mil doses de CoronaVac a todos os estados para que a vacinação de crianças de 3 a 11 anos contra a Covid-19 seja retomada. De acordo com a pasta, o governo de Jair Bolsonaro (PL) teria deixado as vacinas para o grupo infantil desabastecidas. Já a imunização com a dose Pfizer Baby, para menores de 3 anos, está estagnada.
De olho em como o governo de Luis Inácio Lula da Silva (PT) atuará na vacinação infantil, Kfouri diz que a a esperança é de que "o novo Ministério trabalhe com a aquisição de doses, mas especialmente, com a informação."
"É importante que existam campanhas esclarecedoras apontando a necessidade, a importância e a segurança dessas vacinas para a população. Pela primeira vez vemos pais protegidos contra a doença e que não estão protegendo seus filhos. Realmente algo inédito."
Os pontos de vacinação, na capital paulista, podem ser acessados aqui.
Confiança na vacina
Um levantamento recente do SoU_Ciência, centro de pesquisa da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), apontou que o grau de confiança na eficácia das vacinas é abaixo do esperado na população brasileira. Ao todo, foram 1,2 mil entrevistados maiores de 16 anos em todas as regiões do país. Para 30% deles, os imunizantes ainda não reúnem comprovação científica, informação que circula de grupos antivacina espalhados pelo país.
Outro dado importante foi sobre a confiabilidade de medicamentos comprovadamente não eficazes contra o coronavírus, como a cloroquina e a hidroxcloroquina. De acordo com a pesquisa, 41% dos entrevistados manifestaram que tais medicamentos foram ineficazes contra a doença, mas 35% deles concordam de que a medicação foi eficaz no tratamento precoce da doença – mesmo sem evidências científicas.
Os pesquisadores também constataram que há uma polarização entre a população que acha que a vacina contra a Covid-19 precisa ser obrigatória. Enquanto 45,9% dos participantes acreditam que os imunizantes contra a Covid-19 devam ser obrigatórios, outra parcela semelhante, de 46,8%, defende que eles não sejam compulsórios à população.
A pesquisa conta com 95% de grau de confiança, com margem de erro de 2,8 pontos percentuais para mais ou para menos.
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