Publicado em 31/08/2022 - 10:22 / Clipado em 01/09/2022 - 10:22
Influência letal
Constata-se que pregação abjeta de Bolsonaro contra vacina encontrou algum eco
À diferença do que se vê em países onde movimentos antivacina têm raízes históricas mais antigas, como em parte dos EUA, mostra-se incipiente a resistência ao imunizante contra a Covid-19 no Brasil.
Aqui, 170,1 milhões de pessoas —79,18% da população— completaram a vacinação, segundo o consórcio de veículos de imprensa a partir de informações das secretarias estaduais de Saúde.
A despeito da se tratar de uma minoria, é possível notar recortes demográficos entre os mais refratários à imunização no país —brancos, mais ricos e bolsonaristas.
Segundo pesquisa realizada pelo Sou Ciência (Centro de Estudos Sociedade, Universidade e Ciência), da Unifesp, com 1.200 pessoas de todas as regiões, 41% dos mais ricos (renda superior a seis salários mínimos) afirmam ter recebido apenas uma ou nenhuma dose da vacina. Na população em geral, esse número cai para 21%.
Acima da média geral também estão, de acordo com o estudo, os que têm ensino superior completo (32%), os que se declaram brancos e os homens entrevistados (29% nos dois casos). Percebe-se aqui uma evidente sobreposição entre os grupos que mais apoiam Jair Bolsonaro (PL), ele próprio um dos expoentes antivacina no país.
Entre os eleitores do presidente, 63% afirmaram ter tomado duas, três ou mais doses, ante 90% entre os dispostos a votar em Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Dos que consideram o governo ótimo ou bom e foram infectados pelo coronavírus, 9% recorreram ao famigerado e ineficaz kit Covid propagandeado pelo bolsonarismo. No contingente que considera a gestão ruim ou péssima, a proporção não passa de 0,2%.
A discrepância também ocorre de acordo com a religião. Entre evangélicos que contraíram a doença, 7% usaram o kit; católicos, 1%.
A cultura de vacinação e a ampla cobertura propiciada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) podem ajudar a explicar a relativamente baixa resistência ao imunizante na sociedade brasileira. Ainda assim, notou-se queda recente na adesão.
Constata-se, infelizmente, que a desinformação e o mau exemplo do presidente da República encontraram algum eco no país —ao custo de bem-estar e de vidas.
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2022/08/influencia-letal.shtml
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