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Portal Folha de S. Paulo

Publicado em 26/08/2022 - 09:00 / Clipado em 29/08/2022 - 09:00

Ricos fugindo da vacina desmoralizam mais o darwinismo social


Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".


Por que as escolas não conseguem ensinar o beabá do pensamento crítico?


Darwinismo social é o nome que se dá a um conjunto de teses que procuravam legitimar diferenças raciais e de classe. Evocando a noção de "sobrevivência dos mais aptos", ideólogos como Herbert Spencer e Francis Galton sugeriam que os mais ricos e mais poderosos estavam nessa posição porque eram inerentemente superiores. Baseado mais numa falácia (a do apelo à natureza) do que na leitura rigorosa dos textos do naturalista inglês, o darwinismo social teve seu apogeu no final do século 19 e início do 20, caindo em opróbrio após a 2ª Guerra Mundial.

Se ainda fosse necessário buscar dados empíricos para desmentir o darwinismo social, a pesquisa do Sou Ciência (Centro de Estudos Sociedade, Universidade e Ciência), da Unifesp, sobre a vacinação contra Covid no Brasil funcionaria como prova irrefutável. A sondagem mostrou que foram justamente os mais ricos e os mais instruídos, supostamente os mais "aptos", os que menos se imunizaram.

Dos que têm renda superior a seis salários mínimos, 59% tomaram duas ou mais doses da vacina, contra 86% dos que ganham até um salário mínimo. Já a proporção de imunizados entre os detentores de diploma universitário é de 68%, contra 89% entre os que só têm ensino fundamental.

O mais provável é que considerações políticas tenham afetado a decisão dos mais ricos e instruídos sobre vacinar-se. Esse grupo também é mais bolsonarista, e os bolsonaristas se imunizaram menos.

Sempre insisti aqui que é um mito a ideia de que mais educação e mais informação fazem com que as pessoas votem melhor. Mas confesso que esperava que, passando do registro do voto para o da sobrevivência, a análise racional de evidências, que pode ser ensinada nas escolas, prevalecesse sobre os aspectos emocionais que afetam o posicionamento político. Aparentemente, não é o que ocorre.

É o caso de descobrir por que as escolas não conseguem ensinar o beabá do pensamento crítico.


https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2022/08/ricos-fugindo-da-vacina-desmoralizam-mais-o-darwinismo-social.shtml

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