
Publicado em 02/10/2022 - 07:28 / Clipado em 02/10/2022 - 07:28
Falta de iniciativas atrasa modernização do transporte público no ABC
Amanda Lemos
Sem iniciativas do poder público para modernizar a área da mobilidade, quem depende de ônibus na região sofre com veículos antigos, escassez de transporte e desatualização. Para se ter ideia, o usuário brasileiro deste modal utiliza a frota com idade média de seis anos – a mais elevada desde o monitoramento feito pela Associação Nacional de Empresas de Transportes Urbanos (NTU). Prefeituras e empresários ainda não investiram no que seria considerado “ideal” no setor.
Santo André entregou na última semana 12 novos ônibus zero quilômetro para três linhas municipais, com sistema de bilhetagem eletrônica. Mas, ainda em testes, a tecnologia permitirá que o passageiro pague a viagem pelo celular (via aplicativo), apenas com aproximação do aparelho no leitor. Além disso, os veículos terão ar-condicionado, USB para carregar celulares e itens de acessibilidade, como elevadores para quem utiliza cadeiras de rodas ou tem necessidades especiais.
Apesar do investimento, o gestor do curso de Arquitetura e Urbanismo da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Enio Moro Junior, analisa que são avanços que deveriam ter acontecido há anos e em toda região. “Esse acréscimo da frota faz parte da necessidade de qualidade que temos de ter, tendo em vista que os ônibus ainda são os protagonistas na mobilidade. Acontece que estamos atrasados no processo, e poderíamos ter avançado bem mais”, avalia.
Através das secretarias de Mobilidade do ABC, o professor afirma que as prefeituras poderiam ter trabalhado, em um curto prazo (questão de um ano), a adoção de energia limpa na mobilidade, com tecnologias mais acessíveis e que não poluam o meio ambiente. Outra questão apontada Moro é sobre a falta de modernização nas demais cidades da região. “Agora essas questões só poderão ser trabalhadas na próxima renovação de frota, que deve acontecer daqui três ou quatro anos”, diz.
Faixas exclusivas
Uma outra questão que o professor cita é em relação à falta de faixas exclusivas para atender os ônibus nas cidades do ABC, medida que poderia garantir maior fluidez no trânsito e rapidez nas viagens. “Se pensássemos em uma reestruturação de todas as rotas e em vias específicas para garantir os horários dos ônibus, teríamos coletivos menos cheios, com maior fluidez e que atenderiam melhor a população. Mas falta investimento do Estados e dos municípios para que essas questões saiam do papel”, diz.
Modernização
Quem sente na pele a falta da modernização nos coletivos é a moradora do Aliança, em Ribeirão Pires, Diana dos Santos Leme, que utiliza a frota municipal desde os 12 anos. Hoje, aos 26, relata que a cidade pouco avançou na questão da mobilidade. “Parece até que regrediram em alguns pontos. Tem ônibus que pego que o próprio cobrador, além de dirigir, precisa fazer a cobrança da tarifa, porque não tem quem faça para aqueles que vão pagar o ônibus no dinheiro”, relata.
Questionada, a Prefeitura de Ribeirão Pires afirma que a cidade possui, atualmente, 44 ônibus municipais em circulação e que a modernização da frota acontece a cada cinco anos. No entanto, a cidade não especifica quais as tecnologias empregadas atualmente. Os coletivos não possuem cobradores, e segundo a administração, a bilhetagem acontece por dinheiro e bilhete eletrônico.
Conectividade
Em São Caetano, são 48 coletivos em circulação, e de acordo com a Prefeitura, os últimos investimentos da VIPE (Viação Padre Eustáquio), foram em sistema de GPS e de informação (Sistema Informa), que possibilita que os passageiros terem informações do transporte via Cittamobi e Cittamobi Acessibilidade. A cidade, no entanto, ainda peca com a falta de conexão Wi-fi e tomada USB nos ônibus.
Quem sente isso na pele são os usuários do transporte coletivo em cidades mais modernizadas, a exemplo da Capital. Matheus Luiz Fonseca, de 28 anos, estudou cinco anos em São Caetano, e conta que percebeu a diferença quando precisou se deslocar da Zona Oeste de São Paulo para o ABC. “Quando usava os ônibus intermunicipais conseguia usar tomada, algumas vezes até o wi-fi. Mas os ônibus de São Caetano em si não têm nada disso, sequer tinham quem te cobrasse pra você subir no ônibus”, critica.
Assim como Ribeirão Pires, São Caetano mantém bilhetagem por dinheiro e oferece, ainda, opção via Cartões SITS (cartão de bilhetagem integrado).
USB, GPS e Wi-fi
Diadema tem frota de 118 ônibus, que operam com números abaixo do registrado antes da pandemia – até que seja necessário adequação. Na questão da modernização, foram 35 novos ônibus alocados para circulação, estes com suspensão a ar, 10 entradas USB, GPS, wi-fi, um sistema de climatização, poltronas mais confortáveis, elevador para pessoas de acessibilidade reduzida e suportes de álcool em gel.
Os ônibus também não contam com cobradores. O pagamento da tarifa é feito com dinheiro, vale transporte e cartão SOU. Com o cartão, o usuário tem direito à integração gratuita e pode descer de um ônibus e pegar outro em qualquer ponto de parada e sentido de direção, sem precisar passar pelo terminal.
Já São Bernardo possui, atualmente, frota de ônibus municipais, com 331 veículos. Recentemente, a administração recebeu 35 novos veículos zero quilômetro para renovar o sistema de transporte coletivo, em um investimento de R$ 21 milhões. A frota do sistema municipal conta com bilhetagem eletrônica, biometria facial, GPS, computador de bordo com botão de pânico para comunicação do operador com o Centro de Controle Operacional em tempo real, ar-condicionado, wi-fi, tomadas USB, sistema de vídeo (câmeras internas e gravador de imagem), plataforma elevatória e rampas de acessibilidade. As passagens são pagas via cartão de acesso por aproximação (Cartão Legal) ou dinheiro. Alguns veículos ainda operam com cobradores.
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Seção: Cidades