
Publicado em 07/08/2022 - 09:31 / Clipado em 07/08/2022 - 09:31
Prefeituras investem em ciclofaixas mas esquecem de oferecer bicicletários
Amanda Lemos
Com a alta no preço dos combustíveis e a retomada progressiva da população às ruas, tem se tornado comum encontrar ciclistas que utilizam a bicicleta como meio de transporte ou para prática de atividades físicas. Em razão disso, as prefeituras do ABC investem, cada vez mais, na criação de ciclofaixas e ciclovias, no entanto, esquecem de olhar para os bicicletários municipais.
Em entrevista ao RD, a ciclista de Ribeirão Pires, Nathália Serra, comenta sobre a dificuldade para guardar a bicicleta com segurança no município. A moradora do bairro Quarta Divisão acessa a região central ao menos uma vez por semana, mas para isso precisa garantir que algum familiar esteja em casa. “Aproveito os dias de folga para fazer o que preciso no Centro e praticar exercício. Mas nem todo lugar tem bicicletário, então não tenho onde guardar a bike, só quando minha mãe ou meu irmão estão em casa”, diz. Em nota, a Prefeitura de Ribeirão Pires admite não ter bicicletários municipais, mas que projeto de reforma do Terminal Rodoviário contempla a construção de um.
Apesar da malha viária de 17,7km entre três ciclovias e uma ciclofaixa, São Caetano também não possui bicicletário municipal. Diz, em nota, que há projeto para construção, porém que está “em fase final de estudos”. A alternativa para quem pedala na cidade é guardar a bike em espaço particular ou carregar consigo, a exemplo da jornalista Aline Amaral de Souza, que pedala 5km por dia para ir trabalhar e, no próprio emprego, dispõe de espaço para guardar a magrela com segurança.
Essa foi a única opção encontrada por Aline, que apesar da falta de opções para guardar o equipamento, encontrou na bike opção sustentável que acrescenta pontos positivos para sua saúde mental. “Sei que sou privilegiada por morar perto do trabalho e ter a opção da bike, mas só de lembrar que não me estresso com trânsito e que posso curtir a paisagem ao ar livre é bem bom”, diz.
Opção sustentável
Sobre ciclofaixas, Aline sente falta de mais opções em avenidas movimentadas, como a avenida Goiás. “É notório que o número de carros cresce a cada dia, mas São Caetano ainda não oferece essa ‘opção’ de locomoção mais sustentável. Falta atenção e investimento”, reforça.
O mesmo se repete em Diadema, Santo André e Rio Grande da Serra, que também não possuem bicicletários municipais. Em Diadema, a administração diz que desde a aprovação do Plano Municipal de Mobilidade, no ano passado, tem projetado e construído condições de ampliar o modal cicloviário. Foram instaladas somente duas ciclofaixas – na avenida Ulysses Guimarães e avenida Paranapanema – mas não há previsão para bicicletários, somente para ciclovia, esta que será feita na avenida Casa Grande.
São Bernardo é a única cidade do ABC que ainda investe em bicicletários municipais, estes situados dentro dos parques da cidade – Parque Cidade Raphael Lazzuri, no Jardim do Mar; Parque Municipal Engenheiro Salvador Arena, no Rudge Ramos; e Parque das Bicicletas, no Jardim do Mar.
Bicicletas articuladas são opção
De acordo com Alessandra Nabeiro Minciotti, docente nos cursos de Psicologia e Educação Física da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), o que pode facilitar a vida do ciclistas, no caso da falta de bicicletários, é o uso de bicicletas dobráveis (ou articuladas). “São opções que a pessoa pode, simplesmente, dobrar o equipamento e levar para onde quiser. A bike fica tão pequena que se assemelha a uma mala de viagem”, explica.
Na internet, os preços de bicicletas dobráveis ou articuladas variam entre R$ 750 e R$ 1.600 (a depender do site), e diante dos valores, Alessandra adianta que estão na base de preços de uma bicicleta norma. Para aqueles que praticam pedalada e investem em uma boa bicicleta, a diferença não vai doer no bolso, diz.
A professora destaca que quem se desloca de bicicleta para o trabalho, escola, ou simplesmente utiliza o meio para prática de exercícios ou lazer, tem menos risco de estresse e pré-disposição para doenças cardiorrespiratórias do que quem nunca pedala. “A bicicleta trabalha várias capacidades físicas. A primeira é coordenação, equilíbrio e força, mas para além desses quesitos, traz como bônus a diminuição de peso, melhora da condição física e capacidade cardiorrespiratória”, diz.
Apesar dos pontos positivos, Alessandra faz alerta. “Não moramos em Amsterdam, então é bom lembrar da importância da segurança dos ciclistas. Aqui não somos respeitados, ainda que existam as ciclofaixas (com tartarugas)”, pontua ao lembrar que, diante disso, é imprescindível o uso de aparelhos de segurança, principalmente capacete.
Shoppings e CPTM oferecem espaços para bicicletas
Diferente das prefeituras, as estações de trem e shoppings da região têm investido, cada vez mais, em espaços específicos para guardar bicicletas dos clientes com segurança e, desta forma, incentivar o uso do transporte sustentável. Com média de 60 usuários/dia, o Grand Plaza Shopping, em Santo André, possui bicicletário com 40 vagas gratuitas. O serviço exige apenas que os usuários prendam as bicicletas com corrente e cadeado próprios.
Ainda na cidade, também como opção gratuita (e coberta), o Atrium Shopping dispõe de bicicletário, no entanto, não informa o número de vagas disponíveis. O espaço é equipado com pia para higienização das mãos e armários para guardar capacete e mochila do ciclista, mas é necessário que o mesmo leve cadeado. No período pré-pandêmico, a média de bikes recebidas ao mês era de 400, agora saltou para 550 mensalmente.
O Shopping ABC, ainda em Santo André, dispõe de 32 vagas demarcadas, todas gratuitas. Já o São Bernardo Plaza dispõe de 16 vagas gratuitas, mas comporta até 25 bicicletas, a depender de como for acomodada. Nos dois shoppings é necessário levar cadeado para prender a bicicleta no local e poder usar.
Além destes empreendimentos, duas estações da CPTM, na Linha 10-Turquesa, na região do ABC, possuem bicicletários, mas ambos não são administrados pela companhia. Em Santo André são 334 vagas, com uso gratuito e o horário de funcionamento de 6h às 22h. Já em Mauá são 1.968 vagas. O bicicletário funciona 24 horas por dia, todos os dias, mas existe cobrança. O ciclista pode pagar R$ 30 mensais ou R$ 3 por dia se tiver cadeado e chave – se não tiver, serão cobrados R$ 5 por dia.
A Estação Tamanduateí, na mesma linha, possui um bicicletário com 164 vagas, administrado pela CPTM. Todos os bicicletários próprios da companhia funcionam durante toda a operação – das 4h até meia-noite, todos os dias. Esses espaços contam com iluminação, piso de concreto e segurança para controlar os acessos e preservar as bicicletas. Para utilizá-los, basta fazer o cadastro mediante apresentação de RG e levar o próprio cadeado e corrente para prender a bicicleta.
Veículo: Online -> Site -> Site Repórter Diário - Santo André/SP
Seção: Cidades