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 Site Repórter Diário - Santo André/SP

Publicado em 20/07/2022 - 07:42 / Clipado em 20/07/2022 - 07:42

Estudo da USCS aponta falta de mão de obra qualificada para indústria 4.0



George Garcia


Estudo desenvolvido pela pesquisadora e doutora em Administração da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Maria do Socorro de Souza, mostra a necessidade de maior qualificação profissional tecnológica para abastecer a indústria 4.0 e tornar as empresas do país mais competitivas e retomar o potencial produtivo perdido nas últimas décadas. O estudo mostra a necessidade do poder público ser protagonista não apenas de ações na área de formação, mas também como indutor desse fomento através de financiamentos. Ela participou do RDTv desta terça-feira (19/07) e falou da sua pesquisa.

Na pesquisa sobre o tema ‘Política tecnológica para bens de capital’, Maria do Socorro se debruçou sobre como países como, China, Alemanha, Estados Unidos e Japão, tratam do assunto.  “A pesquisa foi pensada dentro do setor de bens de capital porque envolve o setor de máquinas e equipamentos que é um setor que alimenta os outros setores de produtividade econômica, foi considerado um setor estratégico para que eu desenvolvesse a minha pesquisa”, relata a autora. A pesquisa aponta dezoito medidas algumas que poderiam ser tomadas de imediato. Outros países inserem o setor de bens de capital, sobretudo máquinas e equipamentos, nas iniciativas que eles têm para desenvolvimento do país, para a competitividade. Na minha análise quando fiz o levantamento das iniciativas destes países eu fiz um levantamento de como está o Brasil no desenvolvimento de tecnologias para a indústria 4.0”, destaca.

Neste comparativo entre os países, Maria do Socorro notou atrasos em políticas públicas para a área tecnológica no Brasil. “Temos um afastamento desses países em segurança cibernética e isso é um problema mundial que está causando vários problemas em toda a atividade econômica. Hoje temos isso nas mensagens de whatsapp, nas compras que nós fazemos online. Então é necessário que desenvolvamos políticas de segurança cibernética. Temos afastamento da tecnologia M2M (que é máquina a máquina), ausência de design, realidade aumentada, big analytcs e a computação em nuvem. Existe um afastamento destas tecnologias das tecnologias que temos no Brasil. Temos um grande ‘gap’ aqui no Brasil, as iniciativas estão descritas, elas estão nos sites dos Ministérios da Economia e da Ciência e Tecnologia e Comunicação, no entanto são fragmentadas, alguns atores participam da iniciativa A outros participam da iniciativa B e mais que isso, elas não foram implementadas. Nós precisamos implantar as tecnologias da 4ª revolução industrial, da indústria 4.0, da manufatura avançada como acharmos melhor definir, mas precisamos aplicar as tecnologias”, diz a doutora pela USCS.


Trabalho

Segundo Maria do Socorro a questão do trabalho, mais precisamente da mão-de-obra qualificada, é o ponto principal a ter investimento para o início da recuperação industrial. “O que coloquei em primeiro lugar na minha pesquisa é o trabalho. Para implantar as novas tecnologias é preciso ter mão de obra qualificada, é preciso ter aprendizado tecnológico e isso nós só vamos conseguir envolvendo as universidades, o setor público, tendo políticas públicas e tecnológicas para que todo um contexto de aprendizado tecnológico ocorra”, analisa.

O Fórum da Indústria, criado pela Agência de Desenvolvimento Econômico do ABC tem apontado essa questão e também o papel da indústria, das universidades e do poder público no desenvolvimento industrial. Mas afinal com quem está a iniciativa de para iniciar esse processo? Para Maria do Socorro de Souza, está com o poder público. “Na minha visão é o poder público, mas não sozinho, com o  envolvimento de universidades e temos o empresariado também. O empresariado que precisa passar para as universidades qual é a necessidade. Existem várias pesquisas, não somente a minha, na USCS temos pesquisas voltadas a educação, que mostram o que nossos alunos precisam para competirem no novo mercado de trabalho que exige hoje outras competências. Então é começando com o poder público, mas envolvendo também outros atores como universidades e empresários e consórcio, como temos na nossa região. Para que todos, desenvolvam em conjunto uma política que possa suportar as novas necessidades, para que o país possa avançar e deixar de ser tão dependente como ocorre hoje em relação a China. Somos muito dependentes de tecnologia que vem de fora e às vezes falta, como os semicondutores e o país não produz”, disse a professora sobre o tema que atingiu diretamente as montadoras do ABC, a falta de semicondutores que chegou a parar as linhas de montagem.

“Temos exemplo do que acontece no ABC, o Senai, que tem uma planta de indústria 4.0 em São Caetano, temos universidades que estão inseridas neste contexto e que têm laboratórios, com riquíssimas informações que levantei na minha pesquisa. Provavelmente faltam recursos, mas falta um alinhamento estratégico relacionando todos os atores para que nós consigamos voltar a um nível de produção aceitável. Esse diálogo tem que acontecer de baixo para cima e de cima para baixo entre os atores, mas tem que ter a iniciativa do poder público. Inclusive participar com financiamentos acessíveis e linhas de crédito acessíveis para as pequenas e medias empresas, que muitas vezes são fornecedoras das grandes”, destaca a professora da USCS.


Princípios

A pesquisa de Maria do Socorro de Souza, aponta 18 princípios para a busca do desenvolvimento tecnológico desejado. Além do trabalho, elencado pela professora como item número um, na sequência vem a infraestrutura. “Temos uma discussão antiga que são as ferrovias. É preciso ter investimento público. Por isso que o topo dessa discussão é a gestão pública. E aí nós temos a inovação que é um tema altamente disseminado na academia, nas indústrias; depois vem o incentivo, também relacionado ao poder público, em relação às empresas, incentivos relacionados à educação; temos os financiamentos que são essenciais, a China, por exemplo oferece financiamento a para a compra de bens de capital – máquinas e equipamentos – Estados Unidos e Alemanha também. A discussão aqui não é da geopolítica, é de política tecnológica para o desenvolvimento econômico do país sobretudo na área industrial”, cita a pesquisadora. Um ponto também destacado pela autora do estudo é a questão das Startups. “São empresas de base tecnológica que já nascem com a intenção de desenvolvimento da tecnologia, então isso é importante para o desenvolvimento regional e nacional”.


Regionalidade

A regionalidade é outro fator dentre os mais importantes da lista da pesquisa de Maria do Socorro de Souza. “Ela tem muito a ver com o nosso meio. Temos muita situação na nossa região de indústrias que foram embora, temos vários edifícios ociosos, vários galpões ociosos, o que faremos com isso? Então a discussão ela é quente, é profunda. É necessário que todos se envolvam nessa discussão”.

Outra conclusão do estudo é que não há um acompanhamento financeiro das iniciativas que já tiveram início. O poder público não tem os investimentos e o retorno destes de forma clara. “Tenho que ter um controle orçamentário, que é algo que nós insistimos muito. Desde 2014 temos iniciativas públicas escritas, mas eu não consegui encontrar o resultado do que já foi concluído então eu chamo a atenção do ponto de vista financeiro, então nós estamos à deriva. Precisamos da cooperação internacional entre países, haja visto que temos multinacionais que produzem desenvolvem tecnologia nos países de origem e trazem essa tecnologia. Então é necessário que exista uma parceira forte entre as empresas porque elas sabem como desenvolver tecnologia e porque não difundir?.


Abismo

Para a pesquisadora da USCS existe um abismo entre o que os países estão desenvolvendo em termos de tecnologia nas suas indústrias e o que o Brasil desenvolve. “O nosso abismo hoje está muito mais voltado para a falta de iniciativas públicas efetivas, porque eu posso ter várias iniciativas no papel. Esse abismo está relacionado à falta de políticas públicas e tecnológicas, está relacionado ao distanciamento das tecnologias a respeito da indústria 4.0 e o distanciamento entre as universidades locais. Temos a USP, a Unicamp, a FEI e a Mauá que têm laboratórios que estão participando de iniciativas, mas é preciso de mais. Existe um distanciamento do aprendizado tecnológico, a qualificação de mão de obra e a tendência é crescer, então nós precisamos resolver esse problema”, conclui Maria do Socorro de Souza.


https://www.reporterdiario.com.br/noticia/3129173/estudo-da-uscs-aponta-falta-de-mao-de-obra-qualificada-para-industria-4-0/

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Seção: Economia