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 Site Repórter Diário - Santo André/SP

Publicado em 10/07/2022 - 08:25 / Clipado em 10/07/2022 - 08:25

ABC tem projeto educacional voltado para crianças pretas



Amanda Lemos


Há na tradição africana um conceito que capta o essencial da África Ocidental: o sankofa, parte de um conjunto de ideogramas, representado por um pássaro que volta a cabeça à cauda. O símbolo, traduzido por “retornar ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro” é também lema do Sanko Familly, projeto educacional desenvolvido para atender crianças pretas do ABC.

Em entrevista ao RDtv, o consultor de moda e empresário, Rafael da Silva Santos, fala como deu início ao projeto e qual importância da iniciativa para a região. “Eu e minha esposa, Mariana Siqueira, começamos o projeto virtual há cerca de um ano porque sentíamos necessidade do reconhecimento das crianças pretas na região”, diz. “Mais do que educar, é preciso investir na socialização das crianças, com culturas e ações onde as relações possam ser ressaltadas e incentivadas”, salienta.

Santos lembra que o projeto deu início dentro de casa, com a alfabetização dos três filhos. “Nosso projeto começou a se desenvolver com atividades dentro de casa, para que nossos filhos entendessem desde cedo a importância da sua cultura e valorizassem seus traços, cabelo e melanina. Pra isso, fomos pesquisar e trazer informações do período pré-colonial, uma pesquisa que embora muito difícil de ser concluída, trouxe ricos resultados e que decidimos compartilhar com outros pais”, conta.

Atualmente, com aproximadamente 3 mil seguidores na página do Instagram, o casal de São Bernardo responsável pelo Sanko Familly, conta com apoio de outros pais e profissionais técnicos para andamento do projeto. “Agora o projeto se desenvolve através da relação com outros pais, cresce com as trocas nas redes sociais e com apoio de profissionais técnicos, como: historiadores, professores, psicólogos e outros que agregam na metodologia que já praticávamos”, pontua.

Além dos encontros nas redes sociais, atividades e transmissões ao vivo, foi lançado recentemente um podcast sobre parentalidade, que aborda toda cultura do povo preto. “Ele está sendo reconstruído para aqueles que apoiam o sankofa, a partir da cultura do nosso povo e para que as pessoas entendam de onde se deu a humanidade, a partir de nossos ancestrais”, explica.

Sem qualquer aporte financeiro do poder público, Santos diz que o projeto se sustenta a partir da confiança e força dos participantes da iniciativa. “Somos ajudados pelas pessoas que participam do projeto. Os encontros acontecem em parques, locais públicos e por pessoas que são comprometidas com o projeto, que podem ajudar da forma que for”, destaca.


Racismo estrutural

Na visão do docente e Coordenador de Empregabilidade e Empreendedorismo da Fundação Santo André, Marcio de Cassio Juliano, o Brasil ainda é um País no qual o racismo estrutural existe, e a falta de iniciativas das esferas públicas, inclusive do Governo Federal, faz com que não exista preocupação em se fornecer condições de igualdade para todos os brasileiros. “Será preciso grande esforço para que experiências exitosas e demais contribuições positivas se transformem em políticas públicas de estado, onde governos devem respeitá-las e segui-las”, analisa.

As atividades voltadas exclusivamente para pessoa pretas são denominadas de “ações afirmativas”, e são vitais para promover a igualdade de condições, conforme analisa o professor. “Isso não só para uma sobrevivência digna, mas para que as plateias de qualquer evento no Brasil representem fielmente a pluralidade e diversidade do nosso povo”, pontua.

Especificamente no ABC, o especialista analisa que o poder público desenvolve atividades assistencialistas permanentes e, usualmente, outras atividades festivas em época de datas alusivas ao povo preto, como os dias 21 de março (Dia Internacional de Combate ao Racismo), dia 13 de maio (Libertação dos Escravos) e 20 de novembro (Dia da Consciência Negra). “Contudo, não vejo com o mesmo destaque a promoção de ações afirmativas para promover a igualdade racial na região. O setor privado, por meio de editais de fomento destinado ao terceiro setor, se destaca mais neste ponto”, diz.


https://www.reporterdiario.com.br/noticia/3125295/abc-tem-projeto-educacional-voltado-para-criancas-pretas/

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Seção: Cidades