
Publicado em 02/07/2022 - 07:19 / Clipado em 02/07/2022 - 07:19
Covid: estudo da USCS identifica que Mauá e Diadema tiveram mais mortes de idosos
George Garcia
Mesmo em São Caetano, a mortalidade desta faixa etária foi de 32,9%, inferior às outras cidades do ABC, mas acima da média do Estado, conforme destacado no nosso estudo, analisa Daniela.
Estudo, que integra a 22ª Carta do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo, Inovação e Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano do Sul), mostra que a covid-19 foi mais letal para os idosos de 80 a 89 anos nas cidades de Diadema e Mauá, do que a média paulista. Também em Mauá a doença matou bem mais pessoas com comorbidades do que a média estadual. O artigo é assinado pela professora de Direitos Humanos e Direito Constitucional da USCS, Daniela Bucci, que coordena o Observatório de Direitos Humanos do ABC, e pela graduanda do curso de Direito da USCS, Maiara Matricaldi, que também é pesquisadora do observatório.
O levantamento faz um comparativo entre a letalidade média do Estado e os municípios do ABC quanto ao sexto, idade mais vulnerável e doenças preexistentes. Mauá e Diadema detêm um número percentual de aproximadamente 10% acima da média estadual para a letalidade de idoso de 80 a 89 anos. Também é possível verificar uma maior letalidade de indivíduos com doenças preexistentes em Mauá (com também aproximadamente 10% acima da média estadual) e em São Caetano do Sul (com cerca de 7% acima da média estadual).
Para a professora da USCS não há dúvidas de que a pandemia mostrou que determinados grupos estão muito mais expostos ao vírus que outros, porém não há ainda fatores que determinem as causas da diferença percentual entre as cidades do ABC e a média do Estado, o que deve ser alvo de um aprofundamento da pesquisa. “A situação socioeconômica e dificuldades de acesso a saúde possivelmente contribuem para o aumento do número de casos e mortes de covid, mas seria difícil atribuir a causa exclusivamente a esses fatores. As faixas etárias de 80-89 anos de idade ainda representam o grupo de maior risco para doença, que atinge mais idosos. Tanto isso é verdade que, mesmo em São Caetano, cujo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano é 0.86 (IBGE, 2010), a mortalidade desta faixa etária foi de 32,9%, inferior às outras cidades do ABC, mas acima da média do Estado, conforme destacado no nosso estudo”, analisa Daniela.
No estudo sobre a letalidade daqueles com comorbidades, a maior taxa de letalidade esteve ligada a doenças hepáticas e neurológicas, os dados não permitiram às pesquisadoras apontar questões demográficas e sociais que pudessem explicar porque São Caetano e Mauá tiveram proporcionalmente mais mortes que a média estadual daqueles que tinham doenças preexistentes. ”Durante a pesquisa, nada nos dados pareceu-nos informar que algum fator demográfico ou social pudesse contribuir para isso. A vulnerabilidade desse grupo está mais ligada à doenças preexistentes, outro grupo de alto risco para a doença”.
O estudo também dedica um capítulo com muitas informações em nível Brasil sobre como a covid-19 atingiu os povos indígenas. Os dados coletados pela APIB (Associação dos Povos Indígenas do Brasil) mostram que os estados Amazonas (254 óbitos), Mato Grosso (163 óbitos) e Mato Grosso do Sul (134 óbitos) foram os três estados mais afetados pela pandemia. O ABC tem grupos indígenas que vivem principalmente na região do pós-balsa, em São Bernardo. Segundo a professora da USCS, a menor letalidade entre essas comunidades indígenas do ABC pode ter relação com o acesso à vacina. “Talvez a menor letalidade dos povos que vivem no ABC e no Estado de São Paulo pode se dar pelo acesso à saúde e à vacinação, visto que esses dois fatores hoje contribuem para evitar mortes. A APIB contabilizou recentemente que foram mais de 305.000 indígenas vacinados com a 1ª dose da vacina e mais de 231.000 com a 2ª dose no Brasil”, contabiliza Daniela.
O estudo conclui que alguns grupos estão mais vulneráveis ao agravamento da doença, que são os idosos, as pessoas com doenças preexistentes e homens. Outros grupos também são elencados por questões imunológicas, falta de acesso à condições básicas de saúde ou por maior exposição ao vírus. “Cada qual exigindo um olhar cuidadoso por parte do Estado”, aponta a pesquisadora.
Segundo Daniela Bucci a pesquisa esbarrou na falta de dados e de mapas da doença. “O fato é que a falta de transparência dos dados, que pode ser atribuída também pela dificuldade no mapeamento da doença – pela falta de testes, a dificuldade de diagnósticos rápidos, falta de conscientização da população, de informação, por exemplo -, já dificulta a pesquisa e a criação de políticas públicas de saúde, de um modo geral. Tentamos chamar a atenção para o impacto negativo notadamente sentido por determinados grupos em situação de vulnerabilidade ou vulnerabilidade extrema, no tocante à covid-19, mas a pandemia é só mais uma dura realidade do brasileiro que tem várias sequelas diárias de tantas outras doenças”, conclui Daniela.
Veículo: Online -> Site -> Site Repórter Diário - Santo André/SP
Seção: Saúde