
Publicado em 10/05/2022 - 07:23 / Clipado em 10/05/2022 - 07:23
ABC se desafia a manter indústria e formar melhor a mão de obra
George Garcia
O RDTv especial desta segunda-feira (9/5) apresentou a opinião de três atores diretamente ligados à matriz econômica do ABC e suas visões para o futuro da economia da região. A necessidade de estabelecer uma relação próxima com o poder público e as universidades e também de mais qualificação profissional foram algumas das conclusões apresentadas pelos entrevistados para a indústria voltar a crescer. Participaram do programa Rodrigo Cutri, reitor do Centro Universitário da Fundação Santo André; Evandro Banzato, secretário de Desenvolvimento Econômico e Geração de Emprego de Santo André, e Norberto Luiz Perrella, diretor titular do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) regional de Santo André.
Para Perrela, uma das reclamações comuns da indústria é a falta de mão de obra qualificada. “Essa é uma deficiência que a região hoje. A qualificação é o caminho que o ABC tem de tomar para que se possa fazer um planejamento a médio e longo prazo”, analisa o empresário. Para o reitor da FSA, a universidade tem sempre buscado estar atenta às necessidades do mercado e oferecer formação atualizada. “O profissional que entra na graduação, e que leva de dois a cinco anos para se formar vai encontrar outro mercado de trabalho. Para que ele já vá para o mercado conhecedor das ferramentas que hoje fazem parte do dia-a-dia das empresas, tem de saber quais as necessidades, além das habilidades técnicas, como IOT (internet das coisas) e indústria 4.0, e o aprendizado constante que tem de ser colocado”.
Evandro Banzato focou a inovação e o papel de Santo André como facilitador de negócios como formas de gerar qualificação e empregos. “Inicialmente como poder público não queremos atrapalhar, mas estabelecer diálogo com os atores, universidades e grandes indústrias para fomentar esse ciclo virtuoso como a gente gosta de se referir”, diz.
Para o professor Rodrigo Cutri, a universidade também tem buscado absorver problemas da comunidade do seu entorno, sociais ou econômicos. “Temos trabalhado a questão da visão empreendedora do estudante, que pode abrir o negócio dele ou mesmo buscar oportunidades de desenvolvimento da empresa enquanto funcionário. É uma mudança de mentalidade para que a indústria cresça. As indústrias podem trazer problemas para os alunos que, ao longo de todo o curso, resolvem problemas reais”, afirma.
Antenas
Não dá para falar de inovação sem tecnologia de informação e rede de internet de alta velocidade. Nessa linha, Banzato apresentou um projeto inovador da Prefeitura de Santo André, que é a nova legislação para a instalação de antenas de celular e que já foi exemplo para o Paraná e outros municípios, inclusive na região. “Santo André figura aí no ranking do Brasil de Cidades Inteligentes e fez a sua lição de casa. Há mais de dois anos, no final de 2019, nós atualizamos a nossa legislação de antenas, legislação que facilita que a gente tenha uma infraestrutura para telecomunicações e nos tornamos referência para todo Brasil. Recentemente eu fiz uma apresentação para o governo do Paraná, que quer aplicar essa mesma legislação; São Caetano já veio aqui buscar a nossa legislação e Diadema esteve recentemente para copiar a legislação para que a cidade tenha leis atualizadas”, relata.
Montadoras
A saída de grandes empresas, como aconteceu com a Ford em 2019, e agora mais recentemente com o anúncio da Toyota de fechar a fábrica de São Bernardo, traz um novo desafio para a região que é definir se continuará como berço da indústria automobilística ou se vai buscar outros setores para ser referência. Para o secretário de Desenvolvimento de Santo André, a região ainda é forte no setor e deve continuar assim, porém juntamente com o bom desenvolvimento do comércio e empresas de serviços.
Banzato cita que o governo do Estado mapeou os segmentos estratégicos e dos 12 mais importantes o ABC está inserido em sete: borracha, química, automobilístico e setor têxtil são alguns. Gosta de trazer como exemplo a Prometeon Tyre Group, a antiga Pirelli, que há dois anos queria levar o centro de pesquisas para Campinas, mas com a proximidade, com diálogo permanente algumas coisas interessantes aconteceram. “Através do hub de inovação, a gente compartilhou com algumas universidades e com startups da região e assim surgiram discussões na Universidade Federal do ABC, Instituto Mauá de Tecnologia e com a FEI. Apenas como fio condutor, o poder público fez com que fossem apresentadas soluções e algumas coisas aconteceram. O presidente da Prometeon, sediada em São Paulo, agora fica em Santo André e a empresa anunciou investimentos aqui para trazer parte do estoque e produção e recentemente a empresa anunciou novo laboratório, aquele que deveria ter ido para Campinas. Foi um investimento de R$ 60 milhões e agregaram mais cento e poucos novos empregos diretos e indiretos”, relata.
Ainda segundo o secretário de Santo André, a indústria de automóveis deve avançar rápido para eletrificação. “Claro que neste momento se discute a eletrificação, inclusive também ligado ao Parque Tecnológico e ao Hub de Inovação a gente tem o pessoal da Mercedes estudando a eletrificação de veículos pesados, uma discussão que envolve as academias do ABC e algumas startups. Importante que não só o poder público, o empresariado e as academias estejam atentos a esse processo de transformação e a gente criar esse ciclo virtuoso para poder perpetuar todas as atividades aqui existentes. Claro que não dá para cravar que elas vão ficar, porque essas grandes empresas têm seus planejamentos estratégicos arranjados de uma forma global, mas é importante em que tudo que a gente puder ajudar a gente esteja”, comenta.
Elétrico
Perrela também não acredita que as indústrias automobilísticas deixem de fazer parte do cenário do ABC. Diz que existe uma mudança do modelo de negócio do mercado automotivo. Na Europa se tem a obrigação do mercado automotivo partir para o carro elétrico, então é uma outra realidade que o Brasil vai ter de se encaixar. É também importante a sensibilidade do poder público em poder participar do ambiente onde a indústria, o comércio e os serviços estão colocados e aí é que está o grande papel do poder público na manutenção da economia regional. “Eu joguei uma demanda no hub de inovação e fui contemplado com universidades, com engenheiros e até empresas ligadas à área de automação. É justamente isso que a gente precisa, criar esse canal de comunicação entre a demanda e o que se tem de oferta de qualificação”, afirma.
Segundo o prof.dr.Rodrigo Cutri, as universidades da região estão preparadas para oferecer a formação que o mercado precisa. Cita exemplo da FSA. “Nós temos proximidade com as montadoras inclusive chegamos aqui a fazer um curso específico para a Mercedes-Benz, que contratou a Fundação Santo André para capacitar todo o pessoal operacional no curso de tecnologia para mecatrônica. Formamos mais de 200 alunos. Enxergamos ainda a força das montadoras no ABC, tem um setor de serviços muito pujante, então a gente tem trabalhado a formação não só para a indústria, mas também para comércio e serviços para desenvolver o lado técnico, desenvolver as habilidades para o futuro egresso, saber trabalhar com a transformação digital, implementar isso no dia-a-dia da sua empresa ou do serviço. Ele tem de ter uma visão empresarial, de empreendedorismo, de economia criativa”, comenta.
Serviços
O setor de serviços tem superado a indústria na geração de empregos. Para Evandro Banzato, o ideal seria o emprego industrial, mais qualificado e que paga os melhores salários, mas qualquer posto de trabalho gerado deve ser comemorado. “O crescimento de qualquer setor para nós é positivo. Nesse primeiro trimestre de 2022, Santo André fechou com saldo positivo, criou 2,5 mil vagas de emprego. Pergunte às famílias que tiveram seus parentes com a carteira registrada o quanto significa isso. Claro que a gente gostaria de empregos ligados à indústria e à inovação, que é onde a gente tem os grandes salários, mas é sempre que o poder público facilite que essas novas vagas sejam geradas em todos os setores”, diz.
Cutri destacou que a FSA, atenta a isso, tem cursos especificamente voltados para o setor de serviços, como Engenharia de Produção com ênfase em serviços. “Justamente para trabalhar no setor de supermercado, de logística e bancário. Estamos sempre ouvindo as necessidades da região e pensando cursos que, muitas vezes, são profissões que nem existem ainda, mas que vão levar uma nova dinâmica para o mercado de trabalho”, completa.
Veículo: Online -> Site -> Site Repórter Diário - Santo André/SP
Seção: Economia