
Publicado em 06/05/2022 - 18:20 / Clipado em 06/05/2022 - 18:20
A movimentação comercial nas datas nada comemorativas no ABC
Por Prof. Dr. Sandro Renato Maskio
Há 10 anos o Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo se lançou ao desafio de estudar o comportamento do consumidor do ABC, bem como estimar a movimentação financeira com a compra de presentes nestas datas. Os períodos cobertos pela Pesquisa de Intenção de Compras são o Dia das Mães, o Dia dos Namorados, o Dia dos Pais, o Dia das Crianças e o Natal.
Embora o ABC possua um dos maiores potenciais de consumo do País, esta foi uma iniciativa até então inédita na economia regional. O que se observa, ao longo destes anos, infelizmente, tem sido uma trajetória de retração da movimentação financeira nessas datas, especialmente após a recessão de 2015 e 2016.
Ao se analisar os dados da Pesquisa para o Natal, na comparação entre 2012 e 2021, a movimentação financeira estimada com a compra de presentes retraiu cerca de 40%. Os dados da pesquisa para o Dia das Mães, na comparação entre 2012 e 2022, apontam uma retração de 34%. Estas são, tradicionalmente, as datas de maior movimentação no calendário comercial.
Mas o que está por traz da tamanha redução no mercado consumidor? O primeiro ponto a ser considerado é o desempenho da economia ao longo da década de 2010, que no biênio 2015/2016 viveu a maior recessão da história econômica registrada do País, apresentou lento ritmo de retomada nos períodos 2017 a 2019. Como se não bastasse, assim como os demais países do globo, foi duramente impactada pela pandemia nos últimos dois anos. Comparado o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil de 2020 com o de 2010, a economia brasileira cresceu aproximadamente 2,6% em dez anos, deflacionado pelo deflator interno do PIB.
Se considerarmos o desempenho entre os anos de 2009 e 2019, para os quais há dados oficiais sobre as economias municipais, enquanto a economia brasileira cresceu 9,7%, o Estado de São Paulo cresceu cerca de 9,5%, e a Região Metropolitana de São Paulo 4,1%, deflacionados pelo deflator interno do PIB paulista. Desempenhos estes bastante pequenos para um período de 10 anos.
Como uma das consequências, o PIB per capita também apresentou uma trajetória deprimente, com crescimento de apenas 5,5% no plano nacional e 1,9% no plano estadual. Na RMSP houve queda de cerca de 2,3%. Influenciou esta queda o período pós 2014, quando houve queda no PIB per capita em todos os recortes acima.
O que contribui para compreendermos a queda registrada na receita operacional líquida do setor comercial do País, especialmente nos anos de 2015 a 2017, conforme dados apresentados pela Pesquisa Anual do Comércio (PAC) realizada pelo IBGE. Infelizmente, a última edição publicada da pesquisa refere-se a 2019, não sendo possível avaliar os efeitos da pandemia dos últimos dois anos sobre a receita do setor comercial do País.
A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), também realizada pelo IBGE, aponta a mesma tendência da PAC para volume comercializado nos anos anteriores, tanto no cenário nacional como para o Estado de São Paulo. Para o período mais recente, a pesquisa apontou forte retração na movimentação comercial entre o primeiro e segundo trimestre de 2020, com tendência de retorno à trajetória de lenta recuperação nos meses seguintes. Entretanto, nos últimos seis meses, a média móvel trimestral aponta redução do volume de vendas em relação a igual trimestre do ano anterior.
O elo entre o baixo desempenho da economia e o comportamento do comércio está fortemente associado ao mercado de trabalho. Com a ampliação do desemprego, acompanhado de movimentos de queda e ou estagnação da massa de rendimentos e dos salários médios, a capacidade de consumo das famílias diminui. Assim como diminui a capacidade de obtenção de crédito para consumo.
Embora não tenhamos informações detalhadas, como as disponibilizadas pela pesquisa anual ou mensal do comércio para regiões metropolitanas ou municípios, é possível realizar algumas ilações para o ABC, a partir de alguns dados agregados disponíveis.
Para o mesmo decênio que utilizamos para comentar sobre os dados do PIB nacional e estadual, compreendido entre 2009 e 2019, a economia do ABC apresentou desempenho ainda mais negativo. No período, o PIB da região encolheu aproximadamente 17%, e a renda per capita 21%, deflacionados pelo deflator interno do PIB paulista.
Outro indicador importante nesta linha de análise é o comportamento do mercado formal de trabalho, já que não temos uma pesquisa regionalizada sobre desocupação e renda. Comparando os anos de 2020 com 2010, no Estado de São Paulo houve queda de 6,9% nos vínculos formais de emprego, com queda de 10% na massa de salários pagos e de 4,8% no salário médio, deflacionados pelo IPCA. Na RMSP, a queda foi de 6,9% nos vínculos formais de emprego, com queda de 10,8% e 4,2% na massa de salários pagos e no salário médio.
Na mesma comparação, no ABC, houve queda de 13% no total de vínculos formais no mercado de trabalho, com diminuição de 25% da massa de salários pagos e de 14% do salário médio. O que demostra uma retração mais intensa no mercado de trabalho local, cujos impactos sobre o poder de consumo também são maiores.
Ou seja, a queda no volume de renda circulante na região, dado pela retração da economia local, explica a queda no poder de consumo. Consecutivamente, as datas comerciais mais importantes, como maior potencial de movimentação financeira, também sentiram este impacto.
Para os próximos períodos parece claro que enquanto a economia local não recuperar o nível de atividade econômica e, consecutivamente, a ampliação da circulação de renda na sociedade local, a movimentação comercial terá de conviver com um poder de compra menor da sociedade. A ampliação do comércio online também se soma a este desafio, pois amplia as possibilidades de escolha dos consumidores com uma renda mais apertada, ao mesmo tempo em que pode se tornar uma boa oportunidade para os empreendedores que souberem explorar esta nova modalidade.
Veículo: Online -> Site -> Site Repórter Diário - Santo André/SP
Seção: Opinião