
Publicado em 01/05/2022 - 07:25 / Clipado em 01/05/2022 - 07:25
Pandemia acentua déficit educacional e exige aulas de reforço, alerta especialistas
Carlos Carvalho
Além de obrigar o fechamento de escolas e exigir o ensino remoto, a pandemia da covid-19 acentuou um desafio antigo: o déficit educacional. A partir do momento que as aulas migraram para o formato online, uma parcela de estudantes deixou de seguir o cronograma de aulas, seja pela falta de interesse e/ou material de apoio, o que resultou em atraso em massa no processo de aprendizagem.
Na semana em que se celebrou o Dia da Educação (28 de abril), o professor Paulo Sérgio Garcia, coordenador do Observatório de Educação da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), relata que não há muito o que comemorar. Na sua avaliação, é momento de as escolas terem um olhar introspectivo para acertar os ponteiros e compreender quais foram as perdas dos alunos. “Sinto que apesar de (as escolas) terem voltado, faltou avaliar quais foram as perdas dos alunos nesse período”, analisa o professor, doutor em Educação.
Durante entrevista ao canal RDtv, Paulo Sérgio Garcia defende que, neste momento de retomada, a avaliação dos alunos é medida imprescindível para que as escolas avancem nos conteúdos sem que hajam novas perda de aprendizado. “Só assim, depois da avaliação individual, é possível que as escolas olhem para frente e retomem com novos conteúdos sem perdas”, enfatiza. Resultado da falta de avaliação das escolas é o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que em 2020, demonstrou que alunos da região que concluíram o ensino médio no período apresentaram grande deficiência educacional e encerraram o ciclo escolar com conhecimentos equivalentes ao 1º ano do ensino médio.
Trabalho emocional e cognitivo
A falta de diagnóstico dos alunos também é motivo de preocupação da supervisora pedagógica do Colégio Singular, Sandra Lara, que apontou, ainda, a necessidade de um acolhimento emocional dos alunos no momento de retomada das aulas presenciais para um futuro de maior sucesso. “Não é só a questão do aspecto de aprendizagem que deve ser trabalhado pelas escolas, mas também o aspecto emocional e cognitivo”, avalia.
Segundo a professora, nos dois anos de pandemia os alunos sofreram para além da defasagem de conteúdo, e é essencial que as escolas realizem de antemão um acolhimento antes de retomar os conteúdos em sala de aula. “É importante diagnosticar, sim, qual o nível de aprendizado que o aluno está, mas entender se ele tem algum prejuízo para além do aprendizado é essencial. E no Singular temos feito isso, assim como muitas escolas que têm investido no acolhimento com equipes multidisciplinares”, explica.
De acordo com Sandra Lara, foi possível observar neste período que houve queda no rendimento dos alunos em todas as disciplinas, principalmente língua portuguesa. “Percebemos que a leitura e interpretação dos alunos foram muito afetadas nesse período. Uma grande parte (dos alunos) voltou para o colégio com dificuldade”, diz. Diante disso, o Colégio Singular criou uma oficina para reforço e recuperação gradativa.
Um ano para recuperação
Para garantir melhora no déficit educacional, ambos especialistas defendem que as escolas devem reforçar o trabalho de recuperação de conteúdo e que a medida deve ser aplicada a longo prazo. “É um trabalho cauteloso, que pode chegar a um ano só de retomada de conteúdo, mas que no fim das contas gera resultado”, afirma Sandra Lara ao frisar que o mesmo tempo de recuperação deve ser aplicado para aqueles alunos que mudaram de modalidade, passaram por exemplo do fundamental para o ensino médio. “Muitos tiveram essa troca de rotina ao longo da pandemia, e isso também precisa ser trabalhado de forma cautelosa para que nada seja atropelado no processo de aprendizagem”, avalia.
Educadores
A formação dos professores também foi atrasada devido à pandemia. Para Sandra, a adaptação ao modelo híbrido de ensino e ao uso de tecnologia, além do acolhimento, exigem tempo e recursos. “No começo foi muito difícil para os educadores administrarem, principalmente, a tecnologia. Por outro lado, atualmente percebemos que todos estão mais à vontade, com formações mediadas pela tecnologia, com formato de webinário, conteúdos audiovisuais, tudo que passou a ser incorporado nas aulas”, explica Sandra.
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Seção: Educação