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Publicado em 13/04/2022 - 16:02 / Clipado em 13/04/2022 - 16:02

Alta da gasolina coincide com aumento de 59% nas cartas para moto no ABC



Por George Garcia


O preço dos combustíveis já resulta na mudança da paisagem urbana; cada vez mais motocicletas serão vistas nas ruas e os números já provam isso. Um levantamento feito pelo Detran (Departamento Estadual de Trânsito) de São Paulo indica que o número de primeiras habilitações para categoria A (moto) emitidas em março deste ano cresceu 64,7% no Estado, se comparado com o mês de fevereiro. Foram 2.002, contra 1.214 habilitações. No ABC o aumento foi de 59,18%, foram 49 novas habilitações para moto em fevereiro, contra 78 em março. Esse número se refere apenas às novas habilitações e não considerou, por exemplo, o número de motoristas habilitados na categoria B (carro) que buscaram também a habilitação para conduzir veículo de duas rodas.

As vendas de motocicletas novas seguiram a mesma lógica; segundo a Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares) somente entre fevereiro e março deste ano o número de emplacamentos subiu 46,7% no país. Se comparado o mês de março deste ao com o mesmo período de 2021 a alta foi de 76,7%.

Os aumentos das habilitações e das vendas coincidem com o aumento do combustível. Em Santo André, por exemplo, a gasolina comum aumentou em média 6,8% em março comparado com os preços praticados em janeiro. A gasolina comum passou de R$ 6,39 em média para R$ 6,84, segundo o levantamento feito pela ANP (Agência Nacional do Petróleo).



Gráfico mostra o aumento de 46,7% de motos novas comercializadas no país entre fevereiro e e março, período que coincidiu com a alta dos combustíveis. (Fonte: Abraciclo)


O professor Enio Moro Júnior, gestor do curso de Arquitetura e Urbanismo da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), considera que o aumento nos preços dos combustíveis é apenas um fator que levou mais pessoas a procurarem a moto como solução de mobilidade. Para ele muitas pessoas recorreram à motocicleta como instrumento de trabalho; para fazer entregas, por exemplo. O professor considera que o impacto de uma maior quantidade de motos no trânsito pode agravar a disputa por espaço nas cidades entre os veículos de quatro e de duas rodas.

“O impacto das motos no trânsito é muito particular, pois, a priori, as motocicletas deveriam atender as mesmas regras para os veículos, em especial ao respeito das faixas, respeito à sinalização, locais de ultrapassagem, estacionamento, entre outros. A agilidade que a motocicleta oferece e ainda a possibilidade da rápida transgressão que ela oportuniza ao código de trânsito, transforma-a em um fato à metáfora que vivemos: do brasileiro oportunista e egoísta, quando na dura realidade, quanto mais viagens o entregador realizar, mais ele ganha. Então quem é o oportunista? A classe média com seus carros ou os trabalhadores afoitos com suas motos?”, analisa Moro Júnior.

Para o urbanista da USCS o maior número de motocicletas pode deixar ainda mais tensa a relação entre motoristas e motociclistas e para isso não acontecer seria necessário ressaltar mais as regras do código de trânsito para os novos e antigos habilitados. “Essas regras de convivência entre carros e motos devem ser melhor pactuadas, para assim tentarmos diminuir essa batalha desigual entre as quatro e as duas rodas”, diz o professor.

A iniciativa da prefeitura paulistana de criar faixas exclusivas para motos é criticada pelo especialista. “O município de São Paulo recentemente editou uma proposta para a avenida 23 de Maio que é a implantação da faixa exclusiva para motos. Esta proposta não traz novidades pois, em 2010, esta mesma prefeitura já havia implantado em outro espaço (avenida Domingos de Moraes) e logo foi retirada e transformada em ciclofaixa. Os princípios atuais de mobilidade urbana afirmam que o transporte coletivo deve ter prioridade em relação ao transporte individual motorizado, portanto, faixas exclusivas somente para ônibus e ciclovias somente para bicicletas”.


Velocidade

Na análise de Enio Moro Júnior o trânsito poderá ficar mais caótico se as prefeituras não reforçarem a sinalização e a fiscalização para dar mais segurança. Uma das medidas sugeridas é a redução do limite de velocidade. “O trânsito pode sim ficar mais caótico e, caso as regras de convívio não sejam pactuadas, as vítimas de acidentes fatais ou ainda com sequelas, serão os motociclistas, com todos os impactos: setor público de saúde, interrupção de renda familiar, desestruturação emotiva de famílias, entre outros. Uma recomendação imediata para diminuir esse perigo é retornar ao limite dos 50 km/h. Em muitos locais da nossa região se trabalha com o limite de 60 km/h que é muito mais perigoso”, alerta.

Segundo o professor, esse aumento do número de motociclistas é visto em países com situações econômicas e sociais semelhantes as do Brasil, tais como os países da América Latina, Ásia e África. “Esses países possuem problemas de conflito entre motos e carros muito parecidos; já na Holanda, as motos com até 50cc podem andar nas faixas de bicicletas, obviamente em velocidade reduzida. Enfim, uma solução imediata seria a diminuição da velocidade máxima nas vias principais – de 60 km/h para 50 km/h-, o aumento da fiscalização humana e eletrônica e campanhas de convivência pacífica, mas ações como faixas exclusivas devem ser descartadas”, completa Enio Moro Júnior.


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