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Publicado em 13/04/2022 - 16:00 / Clipado em 13/04/2022 - 16:00

Estudo aponta necessidade análise das cadeias de valores na indústria do ABC



Por George Garcia



Um estudo iniciado pela professora Cristina Froes de Borja Reis, aponta a necessidade de uma análise aprofundada das cadeias de valor das indústrias do ABC para encontrar gargalos, novas tendências e a necessidade de pesquisa e inovação para alavancar a produção e estimular o setor industrial que vem perdendo participação na região e no país. Cristina é professora adjunta do Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas e vice-coordenadora Programa de Pós-graduação em Economia Política Mundial, da UFABC (Universidade Federal do ABC), e doutora em Economia da Indústria e da Tecnologia.

“A meta é chegar na cadeia de valor de algumas indústrias do ABC e, olhando para elas, entender quais são as relações de trabalho, principalmente por aqueles que são deslocados para outras atividades. Não é um esforço isolado, existem diversas pesquisas sendo desenvolvidas para entender a indústria do ABC, pela UFABC e por outras universidades”, explica a professora. “As cadeias estão muito fragmentadas e envolvem um número muito grande e complexo de agentes, de empresas, de trabalhadores e de outras instituições. A proposta é entender como se organizam esses processos produtivos e como eles são influenciados e influenciam esses processos produtivos. Essas cadeias são dominadas por empresas transnacionais que detêm maior poder, acúmulo de capital e conhecimento para liderar os processos tecnológicos relacionados à produção e a geração de bens e serviços”, detalha Cristina em entrevista ao RDTv desta quarta-feira (13/04).


Estudiosa da indústria há pelo menos duas décadas e com interesse especial na cadeia de valor das empresas da região, Cristina acredita, como vem pregando a Agência de Desenvolvimento do ABC e universidades, que a união entre os poderes públicos, o conhecimento acadêmico, as empresas e os trabalhadores, conseguirá superar dificuldades e colocar a indústria da região em protagonismo no Estado e no país. “Eu acredito que esse arranjo de diferentes agentes é necessário para encontrar para reindustrializar ou para fortalecer essas cadeiras de valor do ABC. Em particular as universidades vão contribuir para a geração de conhecimento e de pesquisa em parceria com os outros agentes. Existem diferentes etapas para um plano de reindustrialização, mas um ponto importante que eu tenho reforçado é a formação de um pacto social, uma coalizão de forças à partir do mesmo objetivo que eu acredito que seja o desenvolvimento sustentável e inclusivo, com geração de empregos de qualidade, com a geração de uma dinâmica de renda virtuosa, que gere renda nos demais setores, não somente na indústria, com inovação tecnológica, mas que produza bens públicos de qualidade para que a vida na região seja melhor”, aponta a pesquisadora.


Pacto

“O sentido dessa reindustrialização precisa ser pactuado, no sentido do que nós, enquanto sociedade, queremos no ABC. A qualidade  de vida, que as pessoas sejam incluídas no mercado de trabalho, que elas tenham a garantia dos seus direitos e que tenham bem estar. O conceito é traçar um plano de desenvolvimento produtivo que esteja alinhado com os objetivos da sociedade. A direção desse desenvolvimento faz diferença e a gente tem que entender que a direção seja em prol da sociedade”, continua a professora da UFABC.

Cristina apresentou o projeto de estudos para obter uma bolsa junto ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), mas a proposta foi negada. Segundo a professora uma das razões é o pouco recurso disponibilizado diante das propostas que chegam. “O Brasil está em restrição de recursos e a pesquisa também precisa de recursos; eu gostaria que os estudantes estivessem mais envolvidos através de bolsas de estudos, que é o mínimo, e a  gente precisa de laboratórios. A ideia era conseguir recurso para pelo menos ter dois bolsistas para me apoiar”, explica a professora.

A metodologia de trabalho deste estudo seria baseada no mapeamento da trajetória estrutural das indústrias da região e a sua estrutura produtiva, e a análise do PIB (Produto Interno Bruto) da região dividida em setores. O trabalho também visa analisar o emprego industrial e suas variáveis. “A dificuldade maior em estudar uma cadeia de valor é justamente entender quem produz o quê e onde. Considerando que a maior parte das cadeias é liderada por empresas transnacionais e muitas das estratégias dessas empresas não vêm a público porque são diferenciais competitivos, que dados olhar para mapear as cadeias de valor? Um dos caminhos é fazer entrevistas e conversar com os executivos e trabalhadores”, aponta.

A professora de economia e política mundial diz que um dos caminhos que pode balizar o processo de reindustrialização do ABC é fomentar as pequenas empresas que surgiram de trabalhadores que saíram da grande indústria. “Um caminho é encontrar o trabalhador industrial que saiu da indústria e se transformou em CNPJ. Esse seria o caminho de aumentar a produtividade dele, para que possa empregar mais pessoas e que se estabeleçam outras firmas dessas cadeias de valor que sejam capazes de gerar emprego de maior qualidade e uma dinâmica de renda e transferência tecnológica positiva para a região essa é a esperança”, sintetiza Cristina.

A professora diz que já há um início desta união de forças que pode terminar com a formalização do Pacto Social. “A gente vai precisar de lideranças com vontade política. Eu tenho apostado muito na Agência de Desenvolvimento do ABC que tem realizado ações neste sentido, mas eu também vejo organizações sindicais com essa preocupação. Nós da UFABC estamos formalizando uma série de relações institucionais justamente para contribuir nesse esforço de inovação tecnológica e de geração de conhecimento. A questão política é sempre muito sensível, sobretudo nesse momento que a gente atravessa no nosso país de muitas tensões. Eu acredito que precisamos de prioridades que, ao meu ver, passam pelo combate de qualquer forma de pensamento, de ideologia ou de ação anti-técnica que exclui, que não zela pela vida, que cite um discurso de morte, isso tem que ser combatido. Nossa sociedade tem que lutar pela vida e pela qualidade de vida. E eu acho que essa é a frente ampla a ser constituída”.



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Seção: Economia