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Publicado em 14/03/2022 - 07:12 / Clipado em 14/03/2022 - 07:12

Faculdades migram para ensino a distância e assim manter oferta de cursos



Amanda Lemos


Cada vez mais, as instituições de ensino superior do ABC têm recorrido à educação a distância (EaD) para manter o ritmo de estudos e evitar o encerramento das atividades apesar da recessão econômica e pandemia. O RD conversou com especialistas para esclarecer qual o motivo da mudança do comportamento destas instituições e como ficam os estudantes neste momento.

O Ministério da Educação (MEC) publicou portaria com autorização da modalidade EaD para os cursos presenciais, com aulas transmitidas de forma remota. Apesar disso, algumas instituições da região deixaram a desejar no atendimento aos alunos, a exemplo da Universidade Brasil, do grupo Uniesp, em Ribeirão Pires. O estudante do curso de Educação Física, Danilo Cirqueira, 23, conta que um pouco antes da pandemia se agravar, a faculdade encerrou as aulas e, desde então, não ofereceu assistência aos alunos.

“A faculdade simplesmente deixou de oferecer cursos. Orientaram para que fizéssemos transferência para outra faculdade, mas quem devia fazer isso era eles”, reclama ao frisar que a instituição sequer ofereceu a opção de dar continuidade nas aulas em formato EaD. “A princípio, falaram que eles mudariam e atenderiam só em EaD, mas não sabemos de nada. Só encerraram o atendimento e deixaram a gente na mão, com os cursos pela metade”, comenta.

Na Faculdade de Mauá (FAMA), também pertencente ao Grupo Uniesp, a situação é parecida. As aulas presenciais foram suspensas e, alguns alunos matriculados na graduação, não tiveram notícias sobre a continuidade do curso. “Falaram no final do ano passado que mudariam alguns cursos para formato EaD, mas estamos esperando se posicionarem sobre. Até porque, se mudarem e continuarem a cobrar o mesmo valor nas mensalidades, mudaremos de faculdade”, diz Nathalia Dantas, estudante da instituição.

Questionado sobre a mudança dos cursos presenciais para o formato EaD e a possibilidade de encerrar as atividades na região, o grupo Uniesp não se manifestou até o fechamento da reportagem.


Mudanças na prática escolar

Em entrevista ao RD, o economista e professor de Ciências Econômicas do Centro Universitário da Fundação Santo André (FSA) e Universidade Municipal de São Caetano, Antônio Fernando Gomes Alves explica que o momento pós pandêmico trouxe papel primordial da tecnologia na educação e mudanças nas práticas escolares que vieram para ficar, não só nas faculdades e escolas, mas no mercado constituído por empresas e organizações.

De acordo com o professor, apesar da atualização, há também uma discussão, no atual momento, sobre a mudança da infraestrutura que aumenta custos, mediado pela tecnologia que envolve grandes investimentos. “O ensino tem sido concorrencial, com grandes grupos educacionais, principalmente aqui na região. Contudo, a migração dessas faculdades menores para oferta no EaD ocorre pela oportunidade de manter a oferta de cursos e com menores custos nessa conjuntura econômica desfavorável de mercado”, explica.

Mesmo com a ampliação da gama de cursos com a modalidade a distância, o professor defende que a medida pode ser um erro estratégico, se for pensado somente pelo viés de precificação. “Não devemos olhar o EaD unicamente como estrutura de custos, mas reafirmar a qualidade na oferta de plataformas educacionais que garantem o aprendizado e a experiência na qualificação profissional, o que assegura um melhor processo de ensino-aprendizagem”, ressalta.

Com a migração, o professor elenca pontos positivos e aqueles que merecem cuidado e atenção dos alunos ao optarem pelo EaD:


Positivos:

  1. Facilitação da mobilidade – em cidades metropolitanas como é a configuração do ABC.
  2. Diminuição de gastos adicionais como transporte e refeição.
  3. Oportunidade de relacionamento com pessoas fora do circuito onde mora ou trabalha: permite networking maior diante da complexidade das profissões, até para mudança de emprego, carreira ou cidade para viver e morar.

De acordo com Alves, é necessário que os estudantes tenham autonomia ao optar pelo EaD. “Requer organização para os estudos. O EaD é diferente do remoto, e isso precisa ser esclarecido”, afirma o professor ao alertar que no modelo remoto, não se tem horário estabelecido para a aula, ao contrário do EaD, que o estudante precisa de uma rotina de estudos, a partir das regras da instituição. Além disso, é necessário ter disciplina quanto ao que vai ser cursado no ano letivo, com horários para as disciplinas e avaliação.

A Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) realizou um levantamento, com intuito de avaliar o impacto do EaD no ensino presencial durante a pandemia no Brasil e revelou que o volume de matrículas no ensino a distância aumentou até 50% na pandemia. Também apresentaram crescimento das taxas de evasão escolar e inadimplência.


Encerramento de atividades

O desinteresse da continuidade das instituições de ensino nas cidades da região preocupa o especialista, que defende uma relação direta entre grau de escolarização e renda para migração dos estudantes para a modalidade a distância. “Se há uma relação direta com a saída das faculdades, o impacto no fluxo de bens e serviços daquela região é sensível nessa oscilação, pois a renda é diretamente proporcional”, explica Alves.

Assim como aconteceu na Universidade Brasil, em Ribeirão Pires, que suspendeu o atendimento presencial aos estudantes, outras universidades e faculdades do ABC buscam novos mercados ou mesmo ampliar seus espaços. “Havendo uma queda e/ou fechamento de instituições, os estudantes poderão não investir ou se deslocar para o município ou mesma região. Portanto, o fechamento de instituições de ensino, fábricas e/ou indústrias deve ser uma preocupação não somente no âmbito privado, mas da política pública local para que verifique o que fazer para minimizar os impactos”, afirma.


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Seção: Educação