
Publicado em 12/03/2022 - 14:42 / Clipado em 12/03/2022 - 14:42
Setor econômico teme inflação ainda maior após alta da gasolina e do diesel
George Garcia
Economistas e representantes de setores econômicos anteveem uma forte inflação, já nos próximos dias por conta do aumento substancial no preço dos combustíveis que passou a valer nesta sexta-feira (11/03). O presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do ABC, Aroaldo Oliveira da Silva, considera que a região deve ser profundamente impactada pelos efeitos que vierem do aumento dos combustíveis. O economista Antonio Fernando Gomes Alves, que é delegado regional do Corecon (Conselho Regional de Economia) e professor da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) e da Fundação Santo André, também considera efeito cascata na indústria química e de borracha, além do efeito em todas as cadeias produtivas por conta do frete.
A indústria metalúrgica, química e farmacêutica terão insumos com preços majorados e a população mais pobre vai sofrer mais, segundo a análise do presidente da agência. “Um dos efeitos pode ser também a redução da demanda por determinados produtos, especialmente os menos essenciais, afetando a recuperação da economia brasileira e regional. Na indústria de alimentos, os corantes, conservantes e flavorizantes têm efeito importante que são os derivados de petróleo, como também os ligados à indústria química e farmacêutica”, analisa. “A região vai ter efeitos na atividade econômica por conta da elevação de preços desses insumos derivados do petróleo como medicamentos derivados do benzeno, tipo aspirina, e também nos segmentos de asfalto, plásticos e resinas plásticas, detergentes e cosméticos”, prevê.
Automóveis
De acordo com Aroaldo Silva a indústria automotiva novamente vai sofrer mais. “Como nossa região é industrial, vamos sentir mais nos segmentos que tiverem maior potencial de redução da demanda imediata, de automóveis por exemplo, anulando o efeito da redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e na população que vai perder poder aquisitivo porque a inflação deve dar um repique”. O governo federal determinou no início de março a redução de 18,5% no IPI dos veículos.
A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) informou que não há movimento no mercado consumidor visando a compra de veículos mais econômicos. As indústrias brasileiras produziram 311 mil veículos entre janeiro e fevereiro deste ano, número bem abaixo dos 457 mil produzidos no mesmo período de 2019. A falta de semicondutores tem sido o maior problema desde o ano passado. Em nota, a entidade diz que a maioria de quem compra carro novo não procura os mais econômicos. “Não notamos procura maior pelos veículos de menor porte e peso, mais econômicos. Pelo contrário, os segmentos que mais crescem no país são os SUVs e as picapes”. A Anfavea disse ainda que não tem como avaliar os efeitos que a alta dos preços dos combustíveis trará ao mercado, mas disse que isso será tratado na próxima reunião e coletiva de imprensa, marcada para o dia 8 de abril.
Para o delegado do Corecon, a inflação que já não estava sendo contida pela equipe econômica do governo federal, tende a piorar bem mais. “O governo tem fortalecido seu caixa porque tem acumulado nos últimos meses o efeito do superávit dos commodities. A política de preços do governo orienta a economia interna e é uma política de preços monetária. Isso impacta em toda a cadeia de valor, na área de borracha, de celulose e, principalmente nas frotas porque as transportadoras repassam para seus preços. O que podemos esperar, não é muito animador, uma alta inflacionária nos próximos meses”, interpretou Antonio Fernando Gomes Alves.
Para o professor de Economia da Universidade Metodista, Sandro Maskio, o aumento da gasolina e do diesel na bomba é apenas o primeiro efeito. “O petróleo é usado em diversas cadeias de produção, no segmento de acrílicos, como nylon, sintéticos e plásticos. Todos os segmentos vão ter um aumento de custo de produção”, diz.
Anuar Dequech Júnior, presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) prevê o que chamou de inflação industrial bastante significativa. “A gente se adapta; a gente tenta negociar com nossos fornecedores e clientes, mas sofrer dessa forma, segurar essas pontas, não vai ser fácil”.
Oportunidade
Para o presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do ABC, o momento é uma oportunidade para que a região saia fortalecida da crise. “É a oportunidade potencial para retomar a produção nacional de bens estratégicos para as nossas cadeias produtivas e para a soberania nacional, exemplo óbvio é o IFA (Insumo Farmacêutico Ativo), vacinas e semicondutores. Somos um país grande, se tivermos acesso à tecnologia podemos fazer qualquer coisa”, conclui.
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Seção: Economia