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Publicado em 10/03/2022 - 07:42 / Clipado em 10/03/2022 - 07:42

No ABC, apenas duas cidades oferecem acesso mínimo à dignidade menstrual



Por Amanda Sakumoto


A dignidade menstrual é um direito de jovens, mulheres e pessoas que menstruam. Isso torna essencial o enfrentamento à pobreza ou precariedade menstrual, caracterizada pela falta de recursos, infraestrutura e conhecimento para que lidar com a menstruação de maneira mais saudável.  E isso inclui o acesso a absorventes e itens de higiene, bem como saneamento adequado em áreas sociais e residenciais. No ABC, apenas duas cidades, Diadema e São Caetano, já colocam em prática ações de combate à pobreza menstrual.

Desde 2021, Diadema promove o programa “Ciclo do Bem” e arrecada, nas unidades de saúde, fundo social e paço municipal, absorventes e itens para higiene íntima, que são distribuídos entre as cerca de 40 mil famílias em situação de vulnerabilidade do município.



Em São Caetano, kits de higiene menstrual já estão disponíveis para alunas do ensino fundamental e médio da rede municipal de ensino (Foto: Divulgação/PMSCS)


São Caetano anunciou nesta terça-feira (8/3), a distribuição de absorventes para as escolas de ensino fundamental e médio da rede municipal. Os kits de higiene podem conter lenço umedecido, desodorante, entre outros itens de higiene, conforme a necessidade apontada por cada unidade. Os kits ainda podem ser entregues às alunas em situação de vulnerabilidade social, para que levem os itens para casa.

No Brasil, 713 mil meninas vivem sem acesso a banheiros ou chuveiros em residências, e mais de 4 milhões sofrem com pelo menos uma privação de higiene nas escolas. Os dados foram reunidos na pesquisa “Pobreza Menstrual no Brasil: Desigualdade e Violações de Direitos”, promovida pela Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Do total de alunas, quase 200 mil estão privadas de condições mínimas para cuidar da sua menstruação na escola, fato que pode incentivar a evasão escolar. “A falta de acesso à higiene menstrual afeta o emocional e gera medo, insegurança, ansiedade. Jovens e mulheres podem se isolar, ter a autoestima rebaixada e até mesmo deprimir. Fatores esses que impactam nas suas relações sociais, na sua produtividade, em toda sua vida”, explica a psicóloga Marlene Bueno Zola, coordenadora do curso de Psicologia da Fundação Santo André.

Ações de combate à pobreza menstrual, além de dar acesso á higiene e promover melhoria da saúde, ainda resgata a autoestima. “É uma questão de saúde e direitos humanos, que envolve a dignidade e o respeito”, afirma.


Pobreza menstrual

Ribeirão Pires informa, em nota, que prevê a distribuição gratuita de absorvente às mulheres de baixa renda, conforme Lei nº 6648/2021, e que as mulheres devem se cadastrar junto à prefeitura para obter o benefício, mas não informa como será feito o acesso ao programa.

São Bernardo informa que está em andamento projeto com o tema dignidade menstrual, para a distribuição de absorventes e materiais de higiene íntima pessoal para mulheres e homens transgênero em idade fértil, entre 10 e 49 anos, e em situação de vulnerabilidade. As questões de distribuição e abordagem ainda estão em discussão com os departamentos responsáveis pela ação.

Nesta terça-feira (8/3), o governo federal liberou a distribuição gratuita de absorventes restrita a alguns grupos de mulheres e condicionada à existência de orçamento. Rio Grande da Serra informa que aguarda orientações federais para determinar as ações relacionadas ao tema.

Santo André e Mauá não enviaram informações até o fechamento desta matéria.


Quebra de Tabu

Para Marlene, a  discussão sobre dignidade menstrual vir à tona é positiva para toda sociedade. “É um ganho, é uma quebra de tabus. Além de darmos voz para aqueles que sofrem com o problema, fazemos a escuta e o acolhimento dessas pessoas, e também colocamos em evidência como a falta de saneamento básico afeta a saúde de diversas maneiras, inclusive durante a menstruação”, aponta.

A psicóloga também ressalta que o debate promoverá mais acesso à informação e ao conhecimento, fatores que em falta também afetam a dignidade menstrual. Como o assunto é tabu em muitas famílias e na sociedade em geral, muitas meninas, mesmo que não  em situação de vulnerabilidade, acabam por não terem às informações, com isso também enfrentam a precariedade menstrual.

Por desinformação, muitas pessoas podem não saber como lidar com o próprio corpo. Isso dificulta também as escolhas, por exemplo, com relação ao melhor produto a ser utilizado e como se cuidar. “Sem a orientação e na falta do absorvente, a pessoa pode escolher algo inadequado. Há casos de utilização de jornais ou panos não higienizados, que podem causar infecções e trazer inúmeros problemas à saúde”, aponta Marlene.


https://www.reporterdiario.com.br/noticia/3072161/no-abc-apenas-duas-cidades-oferecem-acesso-minimo-a-dignidade-menstrual/

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Seção: Saúde