
Publicado em 08/03/2022 - 07:09 / Clipado em 08/03/2022 - 07:09
Sindicato denuncia crise nas instituições privadas de ensino superior no ABC
George Garcia
Ensino online com grande número de estudantes em uma única sala, redução do número de professores e de instituições, esse é o quadro que o SinproABC (Sindicato dos Professores do ABC) considera para constatar uma crise no sistema de ensino superior privado na região. Essa crise já fez encolher em 20,8% o número de instituições na região em pouco mais de dez anos. Edilene Arjoni e Aloísio Alves da Silva, respectivamente presidente e secretário geral do sindicato, participaram do RDTv desta segunda-feira (07/03) e falaram sobre o tema aos jornalistas Carlos Carvalho e Leandro Amaral.
Segundo Edilene nos últimos dez anos instituições privadas chegaram à região e abriram muitos cursos por causa dos programas como o Fies (Financiamento Estudantil) e Pró-Uni (Programa Universidade Para Todos). Instituições como a Anhanguera, comparam instituições tradicionais na região e com desestímulo aos programas educacionais entraram em crise. “A Anhanguera realocou e juntou cursos, fechando alguns prédios. Dizem que a demanda reduziu muito e a gente atribui também a conjuntura e ao sufoco financeiro que estamos vivendo. Isso trouxe uma política muito ruim, a do ensalamento”, aponta. O ensalamento são aulas online com um grande número de alunos o que torna impossível a tirada de dúvidas.
“Eles ensalam, diminuem a carga horária do professor e isso é ruim para o aluno que não tem a mesma atenção que tinha antes. Na FEI e na Engenharia Mauá o Sinpro já notou que foram feitas muitas homologações. “São muitos demitidos principalmente os mais antigos e de salários mais elevados. Não é uma demissão em massa, mas é algo que não acontecia”, diz a presidente do sindicato. Em contrapartida a USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) está aumentando o número de salas para dar conta dos alunos que vêm da Anhanguera e da Metodista. Segundo Edilene, na Fundação Santo André também há relados de cursos abrindo.
Para Aloísio Alves da Silva ficou bem clara a divisão entre os dois momentos da educação superior no ABC. “Num momento teve uma explosão de oferta de vagas na região com o Prouni e o Fies; para a população de baixa renda houve um boom de vagas. Teve a chegada da Anhanguera, que tinha boa parcela dos alunos vinculados ao Prouni e o Fies. Eu analiso que, com a chegada da Anhanguera e a redução das mensalidades muitas instituições, como a FSA e Metodista, começaram a perder alunos para a Anhanguera que foi adquirindo instituições como a Faenac e Uniban. Depois Universidade Brasil, com preços competitivos. Quando vem a mudança de governo e o fim dos financiamentos públicos essas instituições começam a perder alunos. Algumas criaram formas de financiamento próprio, mas que não foram como o financiamento publico e depois teve a crise financeira”, analisa. Segundo Silva, em 2010 o ABC tinha 24 instituições e hoje são só 19 instituições, uma redução de 20,8%, por causa das aquisições e fechamento, com isso se fecharam muitos postos de trabalho.
Edilene chama a atenção para a redução de carga horária, com instituições que dão aulas somente de segunda à quarta-feira e até as 22 horas. Para ela cursos de maior complexidade podem ser prejudicados. “O financiamento não existe mais, a população está assolada numa crise e a educação não é mais prioridade. Todos os professores estão sendo prejudicados e o alunato também com essa carga horária muito pequena para cursos muito importantes, soma-se mais essa troca de profissionais muito experientes, por outros novos. Se vê aí uma ideia de sucateamento que nos entristece”, diz a dirigente sindical.
A luta pela regulamentação do EAD (Educação à Distância) e de que o tutor também tem que ser reconhecido como professor são as maiores frentes de atuação do SinproABC. “O ensalamento mantém o lucro do empregador e precariza para o aluno porque o professor não tem como atender 200 a 300 alunos em sala. Aí inventaram a figura do tutor, que infelizmente não estão protegidos da forma como nós gostaríamos na nossa convenção coletiva. Tutor também é professor”, diz Silva.
Metodista
A situação de uma das mais tradicionais instituições de ensino superior do ABC, a Metodista, é tema de muita animosidade entre sindicato e a instituição. Há praticamente uma década a universidade não consegue regularizar pagamentos. No início de fevereiro a justiça determinou o fim do processo de Recuperação Judicial da instituição, que fechou um de seus braços, o Colégio Metodista.
“É um pesar e uma angústia muito grande. Metodista não evolui por mais que a gente lute. Estamos lutando há muitos anos e nos últimos dois mais intensamente. Ela tentou fazer a recuperação judicial e não deu certo. A recuperação judicial seria muito bem vinda, mas não da maneira como ela foi apresentada. O plano era nefasto que prejudicaria absurdamente a classe trabalhadora. Somos contra o plano e não contra a recuperação. No ensino superior a situação é a mesma, tiveram atraso de 13° e férias. O fato é que toda vez que se senta para conversar a gente não consegue perceber um envolvimento da igreja, que detém o poder econômico, para resolver. É com tristeza a gente diz que está na mesma situação e a gente não consegue enxergar uma luz no fim do túnel”, resume Edilene. “Estamos tentando reconstruir de novo o cinturão de educação do ABC para que possamos ter a excelência que tínhamos no passado”, conclui a sindicalista.
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Seção: Educação