
Publicado em 18/02/2022 - 18:11 / Clipado em 10/02/2022 - 18:11
Especialista da USCS prefere cautela ao analisar queda nos casos de feminicídio
George Garcia
Desde que e a Secretaria de Segurança Pública passou a divulgar, em separado, os casos de feminicídio, em 2018, pela primeira vez o número de mortes violentas de mulheres por questões de gênero ficou abaixo de 20 em um ano, na região metropolitana de São Paulo, excluindo a Capital. O ano de 2021 registrou 16 casos de feminicídio contra 33 em 2020, 34 em 2019 e 29 em 2018. Ao todo 112 pessoas perderam a vida nestes quatro anos só porque eram mulheres; média de dois feminicídios por mês ou um a cada 15 dias.
Para o professor David Siena, coordenador do Observatório de Segurança Pública da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), é prudente e recomenda esperar mais um ano para cravar queda nos números da violência contra a mulher. “Eu preferiria esperar para falar em queda, podemos cogitar falar em uma melhoria na rede de proteção à mulher, na melhora das políticas públicas, mas quanto a quedas eu prefiro esperar mais um ano para ver se essa tendência se confirma, porque essas flutuações nas estatísticas criminais ocorrem muito”, diz.
Segundo o professor da USCS, é possível que casos de feminicídio tenham sido registrados como homicídio simples. Diz que, na verdade, o feminicídio é uma qualificadora do homicídio e o delegado, ao registrar o fato, faz a sua análise, que é subjetiva, dos dados que tem. Isso pode interferir na estatística e não acontece com o objetivo de maquiar dados, e sim porque, na análise do delegado, não havia elementos suficientes para registrar como feminicídio. “Para qualificar dessa forma é preciso que o autor tenha matado por menosprezo à mulher ou por violência doméstica. É mais fácil qualificar nos casos de violência doméstica, os outros a gente fica sem saber se o crime foi motivado pelo fato de a vítima ser mulher. Pode ser que o promotor, mais tarde, venha a denunciar o crime como feminicídio, mas a estatística de quando o caso foi registrado na delegacia não é atualizada, ela não muda”, explica.
O especialista diz que, independente dos números estatísticos, a política pública de atenção à mulher vítima de violência melhorou muito nos últimos anos. “Trata-se de um problema complexo e multidimensional, que tem de ser tratado também de forma multidimensional. Tivemos a lei do feminicídio que foi um avanço, a criação das Delegacias de Defesa da Mulher , as Varas da Mulher e as políticas públicas de atendimento dos municípios”, enumera.
Novo caso
O caso mais recente de assassinato de uma mulher na região aconteceu no início da noite de segunda-feira (07/02) em Diadema, quando uma mulher que trabalhava como cozinheira em um bar na Vila Nogueira foi assassinada no local de trabalho por um homem que a polícia ainda está à procura. A vítima é Antônia Selma Nogueira, de 50 anos, conhecida como a Selma dos Caldos. O crime foi flagrado por câmeras de monitoramento do estabelecimento comercial. Um homem de moletom cinza, com capuz e calça escura, chega ao bar, pergunta por Selma e, ao encontrá-la atrás do balcão, saca uma arma e atira várias vezes contra ela.
As imagens mostram que o atirador ainda desvia a arma de outro funcionário para mirar na vítima que é atingida pelas costas. A mulher ainda foi socorrida e levada para o Pronto Socorro do Hospital Municipal de Diadema, onde foi constatado o óbito. Este caso ilustra bem o que o que diz o professor David Siena, sobre os elementos que o delegado tem no momento do registro da ocorrência e o início das investigações. O caso foi registrado como homicídio simples pelo plantão do 3° Distrito Policial de Diadema e é investigado pela Delegacia de Homicídios.
Veículo: Online -> Site -> Site Repórter Diário - Santo André/SP
Seção: Polícia