
Publicado em 16/10/2024 - 18:16 / Clipado em 16/10/2024 - 18:16
Biografia resgata Luiz Tortorello, homem que mudou São Caetano
Evaldo Novelini
Obra conta a vida do prefeito que universalizou os serviços de água e esgoto, pavimentou e iluminou 100% das ruas e vacinou todas as crianças
Era dia de Sol claro e quente na cidade de Salvador. Luiz Olinto Tortorello visitava a Capital da Bahia quando recebeu de um amigo, o médico Paulo Nunes Pinheiro, o convite para um passeio de barco pela esplendorosa Baia de Todos-os-Santos. A ideia seria irrecusável para a maioria dos turistas, mas ele recusou: “Não quero passear de lancha, gosto de ver as pessoas da cidade, gosto de ver o povo, quero sair pelo Centro da Cidade”.
Esse e outros inúmeros episódios em que Luiz Olinto Tortorello deixou atividades mais exclusivas para conversar e conviver com gente simples recheiam Prefeito Tortorello – Uma Lenda que Governou São Caetano do Sul (Novos Horizontes, 420 páginas, R$ 50), biografia do professor, advogado e juiz de direito que foi eleito prefeito por três vezes, e morreu no exercício do mandato, aos 67 anos, em 17 de dezembro de 2004.
Com direito a robusto caderno de imagens, que reproduzem fotos e documentos de passagens importantes da vida do prefeito, o livro é uma biografia autorizada pela família Tortorello. “Nossa ideia, desde o começo, foi fazer uma homenagem ao político mais importante da história de São Caetano”, diz Edgar Nóbrega, ex-vereador e coautor da obra junto com Marcos Antonio Biffi, ex-reitor da USCS (Universidade Municipal de São Caetano).
Divididos em oito capítulos, o livro resgata os principais episódios da história pessoal e profissional de Tortorello, desde que nasceu, em 15 de abril de 1937, no município de Matão, no Interior paulista, filho do ferroviário José Tortorello e da dona de casa Antonia Capovilla.
Foi na cidade natal que Luiz Tortorello deu seus primeiros passos na política, seguindo os passos do pai, que de chefe da estação de trem passou a vereador. Contemporâneos atribuem a José uma personalidade destemida, uma forte capacidade de liderança e um espírito pacificador, qualidades herdadas pelo filho.
“Nas eleições municipais no final dos anos 1950, o jovem Luiz resolveu sair candidato a vereador, e o pai também era candidato. O Luiz foi o mais votado do partido e o pai, o segundo, com um voto a menos”, relembra, no livro, Jayme Aparecido Tortorello, um dos seis irmãos do homenageado e um dos 58 entrevistados pelos autores.
Além de Matão, Luiz Tortorello foi vereador em São Joaquim da Barra. O interesse pela política era dividido com outras atividades profissionais. Formado em direito, exerceu a advocacia e foi juiz de direito, carreiras que o levaram a morar em várias cidades.
Chegou a São Caetano em 1969, por indicação de um familiar, que atuava na Polícia Civil no município. Ele via no parente a possibilidade de indicações de serviços advocatícios na área criminal. Trabalhou muito mais do que isso. Dedicou-se ao desenvolvimento da cidade e caiu nas graças da população.
Já na cidade do Grande ABC, na qual se transformaria em ícone político, Tortorello foi eleito deputado estadual em 1986, com 28.009 votos. Exerceu dois anos de mandato na Assembleia, de onde saiu para assumir a Prefeitura de São Caetano, que governou de 1989 a 1992, e de 1997 até 17 de dezembro de 2004, quando morreu por insuficiência respiratória em decorrência de infecção pulmonar – os 14 dias de mandato foram exercidos pelo vice, Silvio Torres.
Durante seus três mandatos, universalizou os serviços de água e esgoto, pavimentou e iluminou 100% das ruas e vacinou todas as crianças. Foi durante seu governo que a ONU (Organização das Nações Unidas) reconheceu São Caetano como a detentora do maior IDI (Índice de Desenvolvimento Infantil) das cidades brasileiras com mais de 10 mil habitantes. De quebra, fundou em 1989 a AD São Caetano, time que, 13 anos depois, conquistou o vice da Taça Libertadores da América.
Onze pessoas se recusaram a dar entrevistas; Temer assina prefácio
Uma das dezenas de imagens que ilustram a biografia Prefeito Tortorello – Uma Lenda que Governou São Caetano do Sul reproduz carta enviada à população, em agosto de 2004, na qual Luiz Olinto Tortorello indica “um moço, um médico de família tradicional (...) e de muita experiência” para a sua sucessão no Paço: José Auricchio Júnior, que hoje se encontra perto de concluir o quarto mandato.
A despeito da indicação de Tortorello, feita a quatro meses de sua morte, Auricchio rompeu rapidamente com o antecessor. Viva até hoje, a rixa é tão forte que 11 aliados do ex-prefeito, e que hoje estão com o sucessor, recusaram-se a conceder entrevistas. “Não quero me envolver porque tenho medo de perder o emprego”, disse ter escutado de todos eles o coautor Marcos Antonio Biffi.
O próprio Auricchio, porém, deu depoimento. Por 90 minutos, relembrou dos oito anos em que atuou como diretor de Saúde de Tortorello, cargo hoje equivalente ao de secretário. O prefeito contou que foi a ele, alguns meses antes de ser internado no Hospital Albert Einstein, na Capital, em 16 de novembro de 2004, que o aliado reclamou pela primeira vez das dores nas costas que o matariam.
Além de Auricchio, outras 57 personalidades contribuíram com histórias que viveram com Tortorello. Todas são listadas em quadro no início do volume. Um deles é o ex-presidente da República Michel Temer (MDB), que governou o Brasil de maio de 2016 a dezembro de 2018. O emedebista assina um dos prefácios – o outro é de autoria do professor e amigo do biografado Daniel Contro.
Temer chama Luiz Tortorello de “amigo que a vida me presenteou”. O ex-presidente revelou que conheceu o biografado em 2002, no Palácio dos Bandeirantes, sede do Poder Executivo paulista, durante sua campanha para a Câmara dos Deputados. “Ele não era apenas um político, mas um líder, cujo compromisso com a melhoria da vida das pessoas era inspirador”, escreveu.
Mas não só de figurões vive o livro. Uma das histórias mais saborosas é a do garçom Florisvaldo Moreira Rocha, o James, cuja dedicação ao metiér em um casamento impressionou Tortorello a ponto de o convidar para atuarem juntos caso um dia viesse a governar São Caetano – o que ocorreu em 1989. Trinta e cinco anos depois, James segue mordomo do gabinete, agora servindo a Auricchio.
Filhos argumentam que legado do pai é eternizado com livro
Nenhum dos quatro filhos de Luiz Olinto Tortorello conseguiu manter os olhos secos ao falar da emoção de ver a trajetória do pai recontada em livro, Prefeito Tortorello – Uma Lenda que Governou São Caetano do Sul, cujo lançamento oficial será realizado hoje à noite. Para eles, a biografia eterniza mais que as conquistas profissionais do político, do professor, do advogado e do juiz de direito, mas as qualidades do homem que ele foi.
O advogado Marco Antonio Capovilla Tortorello, conhecido como Marquinho, segundo mais velho entre os irmãos, que seguiu os passos do pai na política e chegou a deputado estadual, ficou com os olhos marejados ao dizer que o livro resgata o nome dos Tortorellos do limbo para onde foi arremessado depois que o patriarca morreu, em 17 de dezembro de 2004.
“Nossos amigos se afastaram. Ficamos bastante isolados. O pessoal atravessava a rua para não nos cumprimentar”, confidenciou Marquinho. “A força que nós tivemos para aguentar tudo isso veio dessas histórias, dessas lembranças. Fizeram de tudo para que meu pai caísse no esquecimento em São Caetano.”
Mais velho dos irmãos, o também advogado Luiz Olinto Capovilla Tortorello revelou ter ficado tocado com o quanto a “humanidade” e “o coração” do pai influenciaram a vida dos 58 entrevistados. “Alterou a vida de todos os que estiveram ao lado dele durante a trajetória dele.”
A professora Marta Cristina Capovilla Tortorello afirmou que as histórias relatadas na biografia mostram o nome “poderoso” que o pai tinha. “Ele andava em todo lugar, falava com todo mundo.” A filha contou que, até hoje, quando a reconhecem na rua, moradores de São Caetano vêm lembrá-la do governo do pai, especialmente pelo programa de bolsa de estudos universitários que o então prefeito instituiu. “Pessoas dizem que se hoje eu sou, se hoje eu tenho, se o meu filho é doutor, foi graças ao prefeito Tortorello”, enumerou.
Caçula das filhas, a empresária Maria Angelica Capovilla Tortorello revelou estar ansiosa pela solenidade de lançamento do livro. “Eu me emociono muito. Vou reencontrar meu pai. É tudo retratado tão maravilhosamente, o quanto meu pai deixou a cidade feliz. Até hoje, de dez pessoas que encontro, nove falam: Que falta que seu pai faz.”
Um dos coautores da obra, junto com Edgar Nóbrega, Marcos Antonio Biffi explicou que a divisão dos capítulos da biografia foi premeditada exatamente para eternizar o homenageado: “O livro é dividido em oito capítulos porque oito é um número que representa o infinito e a ideia é que o nome do prefeito Tortorello nunca seja esquecido”.
LANÇAMENTO
A biografia será lançada em jantar restrito para 400 convidados, no Restaurante 7 Mares, a partir das 19h30. Cada um dos presentes poderá indicar instituição de São Caetano para receber exemplares gratuitos do livro. A obra será comercializada a partir de novembro, por R$ 50.
Veículo: Online -> Site -> Site Diário do Grande ABC - Santo André/SP
Seção: São Caetano