
Publicado em 25/08/2024 - 08:40 / Clipado em 25/08/2024 - 08:40
Gestão de Auricchio declara fim de marcas históricas em São Caetano
A extinção de clubes e instituições sociais se soma ao “desaparecimento” do time de futebol.
Em meio a críticas por um aumento de 76% nos salários dos altos funcionários (prefeito, vice e secretários) a partir de 2025, a gestão do prefeito José Auricchio Júnior (PSD) em São Caetano tem sido marcada pela conclusão de ciclos históricos para a cidade e, consequentemente, para seus moradores. Essas perdas reverberam em diversos setores.
O chefe do Executivo cumprirá seu mandato até o final de dezembro em seu quarto mandato; ele ocupou o cargo de 2005 a 2008, de 2009 a 2012, e de 2017 a 2020. Esses períodos coincidiram, por exemplo, com o desaparecimento do Azulão, o único clube profissional do município, dos cenários nacional e estadual do futebol; a demolição de espaços públicos, e a rescisão de projetos de administrações anteriores, como a do ex-executivo Luiz Olinto Tortorello, que governou a cidade de 1989 a 1993, de 1997 a 2000, e de 2001 a 2004.
No segmento esportivo, o município testemunhou a ascensão da Associação Desportiva São Caetano no início dos anos 2000, tanto nacional quanto internacionalmente. A equipe foi vice-campeã brasileira em 2000 e 2001, e finalista da Libertadores em 2002, além de ser campeã da elite paulista em 2004. Este sucesso veio com o apoio do ex-prefeito Tortorello, que faleceu no último mês de seu mandato. Com a mudança na administração municipal, a situação do clube se deteriorou.
São Caetano perdeu seu charme e deixou de ser protagonista. No campeonato brasileiro, a equipe foi rebaixada para a Série B em 2006, Série C em 2013, e Série D no ano seguinte. Seu desaparecimento do cenário nacional ocorreu em 2020, quando terminou em último na Série D—sofreu uma derrota chocante de 9 a 0 para o Pelotas—e perdeu definitivamente seu lugar na competição. No Campeonato Paulista, que exige menos investimento e teoricamente conta com rivais menos proeminentes, particularmente nas divisões intermediárias, o Azulão alternou entre bons e maus momentos. Além de ser vice-campeão da elite estadual em 2007, conquistou títulos na Série A-2 em 2017 e 2020, mas enfrentou rebaixamentos nos últimos anos, incluindo a Série A-3 em 2023, e, nesta temporada, para a Série A-4.
Péssimas atuações em campo refletiram a falta de apoio do governo municipal e a má gestão administrativa. Frente a dívidas substanciais, o clube foi colocado à venda em dois leilões, em 2022 e 2023, com lances iniciais de R$ 90 milhões e R$ 60 milhões, respectivamente. Nenhuma proposta de compra foi recebida.
O já sombrio cenário tornou-se trágico na semana passada quando o clube decidiu entrar com um pedido de recuperação judicial na esperança de evitar a falência. As obrigações agora ultrapassam R$ 73 milhões, e a medida visa reestruturar as finanças do clube. A diretoria revelou o apoio incondicional dos torcedores, um sentimento que não é compartilhado com a administração municipal, que ignorou a situação do clube que trouxe tanta alegria à cidade.
Para agravar a situação, o Estádio Anacleto Campanella, onde o time profissional do Azulão e suas categorias de base realizam seus jogos em competições oficiais, está se deteriorando. Parte das arquibancadas é inadequada para receber espectadores. Nas seções tubulares, por exemplo, a ferrugem domina um número significativo de assentos. Além disso, objetos encontrados em áreas aparentemente abandonadas do estádio, como cadeiras, ervas daninhas e pedras, podem se tornar armas nas mãos dos torcedores.
A evidente negligência da cidade com os clubes não parou em São Caetano. Decisões recentes da administração Auricchio geraram controvérsias e afetaram diretamente a vida cotidiana de muitos moradores—que, por exemplo, utilizavam as instalações da Abrev (Associação Recreativa e Beneficente) Vila Barcelona e Acascs (Associação Cultural e Artística de São Caetano). Com mais de 50 anos de existência, ambas as unidades na Avenida Presidente Kennedy tiveram parte de suas estruturas demolidas no ano passado para a construção de um parque linear que irá integrar com o Parque Cidade das Crianças e o Teatro Municipal Paulo Machado de Carvalho, localizado do outro lado da rua—parte da Serc Santa Matia também foi afetada pelas intervenções.
O projeto do parque linear foi recebido com protestos de moradores e ex-membros dos clubes—somente a Abrev tinha mais de 5.000 associados que utilizavam a estrutura para festas e atividades de lazer. Uma petição com mais de 2.000 assinaturas se opondo à intervenção foi sumariamente ignorada pelo prefeito e pela Câmara Municipal de São Caetano.
A situação escalou dramaticamente desde outubro, quando a Ordem de Serviço foi assinada com a Versátil Engenharia, o custo da construção do parque aumentou em R$ 10 milhões. O valor anteriormente acordado de R$ 47,8 milhões foi complementado com um aditivo contratual de R$ 9,4 milhões em maio, autorizado pelo chefe do Executivo, e mais recentemente (em julho), um adicional de R$ 649,1 mil após nova licitação, para a compra de postes e outros equipamentos de iluminação. Com um orçamento atualizado de R$ 57,9 milhões, o espaço deve ser entregue em outubro, coincidindo com as eleições municipais.
Se o aumento de R$ 10 milhões no valor não fosse suficiente, o projeto também despertou grande atenção na cidade, uma vez que as obras começaram sem a devida autorização. Em maio do ano passado, conforme foi relatado pelo Diário na época, as máquinas começaram a demolir áreas sem que o EIA/Rima (Estudo de Impacto Ambiental/Relatório) fosse elaborado. Um claro sinal de que os processos legais necessários nem sempre são seguidos rigorosamente pela administração Auricchio.
O Clube Esportivo e Recreativo Pedro Furlan, conhecido como Tamoyo, também foi impactado pelas decisões da atual administração. Com quase 80 anos de existência, a área de lazer no bairro Cerâmica sofreu com a falta de investimento do município ao longo dos anos e foi transformada no Parque Elis Regina, inaugurado no dia 18, após um investimento de R$ 14,9 milhões, sendo R$ 10 milhões oriundos de um convênio com o governo estadual.
As críticas à gestão Auricchio se intensificaram com a suspensão das atividades da Fundação Anne Sullivan, destinada a atender crianças, jovens e adultos com deficiência. A entidade cessou as atividades após 45 anos e deixou os pais à procura de um espaço para continuar o tratamento de seus filhos. A justificativa da Prefeitura foi o projeto para construir um Complexo Municipal de Atendimento a Pessoas com Deficiência, ainda em desenvolvimento.
A ex-secretária de Saúde de São Caetano, Regina Maura Zetone (PSD), candidata a vice-prefeita na chapa do partido no poder liderada por Tite Campanella (PL), teve que depor na Justiça sobre a situação. No entanto, ela forneceu respostas evasivas aos pais dos alunos presentes no fórum da cidade.
Regina Maura foi acompanhada pela secretária da Educação, Minéa Paschoaleto Fratelli, que não quis discutir o fechamento da Anne Sullivan.
A Prefeitura de São Caetano foi contatada para comentar sobre essas questões, mas não respondeu até a data em que esta edição foi para impressão.
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Seção: São Caetano