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Publicado em 24/07/2024 - 17:24 / Clipado em 24/07/2024 - 17:24
Tecnologia não tira importância do carteiro; no ABC são cerca de mil profissionais
George Garcia
Mesmo em tempo em que a instantânea acabou com as cartas, os carteiros ainda são extremamente necessários entregando documentos e encomendas de porta em porta. Uma das poucas empresas presentes em 100% do território nacional, os Correios mantém 46 mil pessoas nesta função em todo país. No ABC são cerca de mil carteiros e carteiras e a função, apesar de ser extremamente respeitada pela população, não é uma carreira que desperta muito interesse do jovem, mais atraído pela tecnologia, porém a estatal deve abrir concurso até setembro, ainda sem a quantidade de vagas definidas.
O nome “carteiro” vem, claro, das correspondências, mensagens que antes eram escritas à mão e enviadas para todas as partes do mundo, eram cartas demonstrando a saudade de um parente distante, cartas apaixonadas, fotografias, mas hoje a tecnologia facilitou o contato de tal forma que essas cartas praticamente não existem, o que se entrega em papel são, em geral, documentos e a maioria do trabalho é de entrega de encomendas. Segundo os Correios são entregues todos os dias 12 milhões de encomendas e documentos.
“Carteiras e carteiros estão entre os profissionais mais respeitados do Brasil e são reconhecidos nas localidades onde prestam serviço. Embora hoje, tanto no Brasil como em outros países, a entrega de cartas tenha reduzido, a de encomendas cresceu e são os carteiros quem fazem essas entregas. A profissão também se atualizou: em um cenário em que o comércio eletrônico é o principal impulsionador do segmento de encomendas expressas nos Correios e no mundo, a empresa tem direcionado suas operações e soluções com foco no e-commerce, e assim, hoje os carteiros usam smartphones para atualizar em tempo real o status de entregas”, diz nota dos Correios.
A empresa quase foi privatizada, porém essa possibilidade foi afastada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que garantiu a empresa como pública. Os Correios também vão atender a uma antiga reivindicação da categoria e realizar um concurso público. A previsão é que o edital seja lançado em setembro para duas funções; nível médio (cargo Agente de Correios) e nível superior (cargo Analista de Correios). O número de vagas bem como outras informações estão em definição.
Os Correios sustentam que melhorou a relação trabalhista, que foram resgatadas em mesa de negociação 40 cláusulas que tinham sido extintas pelo governo anterior e que houve um aumento de 12% nos salários. “Também foi criado um programa inédito de concessão de bolsas de estudos para empregadas e empregados de nível médio, entre eles carteiras e carteiros, para cursarem a faculdade de sua escolha, com paridade de gênero. Além disso, mais de 2 mil bicicletas elétricas foram entregues às empregadas e empregados que atuam da distribuição de cartas e encomendas. No total, em 2023 e 2024, a empresa está investindo R$ 580 milhões em obras e engenharia e R$ 430 milhões em segurança, além de aumentar os valores destinados à renovação da frota, em comparação ao governo anterior”, diz a estatal.
Os Correios estão diversificando suas atividades, para rentabilizar a estrutura instalada, por meio da oferta de novos produtos, serviços e comodidades para as pessoas e as empresas. Dentre as novas frentes de trabalho estão a oferta de seguros e um marketplace está para ser lançado.
Carteiro relata as dificuldades e as compensações da função
Mas a função do carteiro ainda deve ser, por muito tempo, a materialização do que os Correios significam. O trabalho em sua síntese permanece o mesmo, separar, carregar e entregar encomendas, seja à pé, de porta em porta ou em veículos como motos e vans. A função é desgastante, mas tem suas compensações como conta Júlio (nome fictício) de um carteiro com 22 anos de profissão, 40 de idade e que trabalha e Mauá. Ele diz que começou com 18 anos de idade, tentou pesquisar outras opções de trabalho ao longo destas mais de duas décadas, mas acabou ficando nos Correios. Do salário como carteiro, somado ao da esposa, sai o sustento dos três filhos, o mais velho com 15 anos.
Júlio trabalhou por 17 anos carregando a bolsa cheia de cartas, documentos e encomendas pelas ruas à pé e há cinco anos faz as entregas de volumes maiores e em quantidade usando um veículo. “Hoje a entrega de cartas caiu 80% se comparado com 10 anos atrás. A gente entrega mais encomendas, tanto que a área de cartas reduziu em um terço o número de funcionários. Mas o trabalho seja à pé ou de carro é o mesmo, não é só entregar nas casas, tem que separar, carregar e entregar, é muito cansativo”, relata.
Ele diz que um dos maiores inimigos do carteiro é o sol que castiga principalmente quem trabalha à pé. “É muito desgastante, fora o peso. Eu, por exemplo, tenho duas hérnias de disco e condromalácia (desgaste da cartilagem do joelho). Além disso tem que fazer a triagem, separar carregar o caminhão e entregar aí vem o sol que esgota a gente, por isso os carteiros são pessoas que aparentam mais idade. Antes ainda tinha uma gerência de saúde, que cuidada do protetor solar, da ginástica laboral antes da atividade, cuidada da ergonomia, óculos de sol, agora não tem mais isso”, aponta.
Mas o maior problema dos carteiros, principalmente os que estão em carros da empresa, são os assaltos. Júlio diz que já foi vítima de pelo menos dez, já foi colocado no baú da van, já foi obrigado a dirigir sob mira de um revólver e, em todas as vezes, com muita violência. “Isso deixa a gente por dias sem dormir, com medo de qualquer pessoa que se aproxime, mesmo assim no dia seguinte tem que levantar e voltar ao trabalho. A gente fica na profissão porque tem uma certa estabilidade, o salário lá fora está muito baixo e, como tenho família. peso tudo isso e acabei ficando. Mas sem programas de bolsa eu não vou ter como bancar a faculdade dos meus três filhos. Se um dia um deles disser que quer trabalhar como carteiro, vou dizer para ele que o risco é muito grande, vou falar para ele procurar algo na área de tecnologia, porque esse nosso trabalho é muito duro”.
Mas Júlio tem também algo muito bom a dizer da profissão, que é o contato com as pessoas, coisa que não se perdeu nem mesmo com todas as mudanças pelas quais a atividade passou nas últimas décadas. “A interação com as pessoas é a melhor parte do nosso trabalho. Nem mesmo essa correria e a insegurança nos tirou isso, as pessoas ainda abrem suas portas quando tocamos a campainha, algumas nos conhecem pelo nome e até oferecem uma água. Tem essa coisa do uniforme amarelo dos Correios que carrega muito respeito das pessoas. Com esse uniforme somos reconhecidos e respeitados”, completa.
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Seção: Cidades