
Publicado em 06/06/2024 - 20:10 / Clipado em 06/06/2024 - 20:10
Editorial - São Caetano c’est moi
POR REDAÇÃO
O rei Luís XIV passou à história como o mais longevo ocupante de um trono. Governou a França por 72 anos, após ascender ao poder quando tinha apenas 5, e foi o principal nome do absolutismo europeu. A concentração de seu poder era tamanha que sua alcunha principal era Rei Sol. Para impor sua vontade a qualquer custo e impedir a mínima manifestação de divergência, atuava para que o populacho tomasse o rei pelo reino, de modo que eventual crítica a um era entendido como agressão a outro. O monarca estimulava a confusão entre homem e instituição. Tanto que os livros atribuiram-lhe a autoria da frase L’état, c’est moi, o Estado sou eu – que, a bem da verdade, ele nunca disse.
As poucas pinceladas biográficas do monarca francês são suficientes para estabelecer parâmetro – canhestro, ressalte-se – com uma figura regional que busca reproduzir em São Caetano o jeito despótico de exercer o poder. Com sua administração sendo alvo de cobertura crítica por parte deste Diário, pelas razões que qualquer cidadão consegue compreender, o prefeito José Auricchio Júnior (PSDB) passou a desqualificar o trabalho do jornal e a desrespeitar os profissionais desta Casa. À jornalista Camila Pergentino, vítima da truculência e misoginia do tucano, chegou a dizer que o veículo em que ela trabalha não é bem-vindo na cidade, como se ele fosse o dono do município, seu Rei Sol.
Líder do governo na Câmara, Gilberto Costa (PP) defendeu a agressão de Auricchio, argumentando que o prefeito apenas reagiu a supostos ataques que o Diário estaria fazendo a São Caetano – outro a tentar ‘vender’ a crítica ao administrador como agressão à administrada. No fundo, ambos sabem que este jornal só está expondo as mazelas que a dupla gostaria de manter escondidas. Mas tentam criar cortina de fumaça para não comprometer a pré-candidatura governista à sucessão, encabeçada por Tite Campanella (PL). Na ânsia de preservar o poder no município, esquecem-se todos da sentença profética de Luís XIV: “Cada vez que nomeio alguém a um cargo vago, faço cem infelizes e um ingrato”.
https://www.dgabc.com.br/Noticia/4142774/sao-caetano-c-est-moi
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Seção: Editorial