
Publicado em 25/03/2024 - 08:38 / Clipado em 25/03/2024 - 08:38
São Caetano: em duas décadas, clube do ABC paulista vai do vice-campeonato da Libertadores à última divisão estadual
Time foi rebaixado na A-3 do Paulistão e se despediu da competição de forma melancólica neste sábado
Por Laura Mariano*
Em 31 de julho de 2002, um pequeno time do ABC paulista vivia o seu apogeu: o São Caetano disputava a final da Libertadores contra o tradicional Olimpia, do Paraguai. Perdeu (no detalhe), mas fez História. Duas décadas depois, a situação é a inversa. Há dois anos, o clube foi despejado da sua sede e viu o presidente ser preso. E, no sábado, afundou ainda mais na crise ao ter o rebaixamento à última divisão do Campeonato Paulista (A-4)consolidado ao perder para o Sertãozinho por 2 a 0. Sem calendário definido até o final do ano, o Azulão luta pela sobrevivência.
Anteontem, o Azulão entrou em campo já com a sentença confirmada por não poder mais ultrapassar o antepenúltimo colocado Rio Preto. Sob o olhar de 145 torcedores que compareceram ao Estádio Municipal Anacleto Campanella, os jogadores pisaram no gramado encharcado apenas para cumprir tabela.
Aos sons de vaias e xingamentos — sem a presença das três torcidas organizadas —, o técnico interino Guilherme Macuglia comandou o time. Ele assumiu a equipe após a saída do treinador Rogério Zimmermann na última quinta-feira. Os torcedores mandaram confeccionar uma série de faixas que foram expostas no estádio para mostrar a derrocada do clube.
Tragédia nos gramados
Fundado em 1989, o São Caetano levou apenas uma década para surpreender os gigantes do futebol brasileiro. De 2000 a 2002, a equipe foi vice-campeã da Copa João Havelange — o time do ABC veio do Módulo Amarelo, considerado a Série B, e disputou a final com o Vasco, do Módulo Azul, a então Série A —, do Campeonato Brasileiro de 2001, perdendo para o Athletico, e da Libertadores, chocando o continente ao decidir o título com o Olimpia-PAR. Perdeu em casa, nos pênaltis.
— Pegamos uma equipe da segunda divisão, subimos e fizemos um ótimo trabalho, deixando o São Caetano entre os maiores da época. Eram todos jogadores desconhecidos, vindos do interior de São Paulo. Era lindo ver aquela equipe jogar sempre atacando — explica Jair Picerni, treinador do clube nos anos 2000.
O estigma de “vice” acabou apenas em 2004 , quando se sagrou campeão paulista da Série A-1, com Muricy Ramalho no comando.
Naquele ano, uma tragédia abalou o clube do ABC paulista. O zagueiro Serginho sofreu uma parada cardiorrespiratória durante o jogo contra o São Paulo, no Morumbi,e morreu em campo diante das câmeras da TV.
Após serem indiciados por homicídio doloso, o presidente do Azulão naquele período, Nairo Ferreira, e o médico, Paulo Forte, acabaram absolvidos pelo Superior Tribunal Federal, que desqualificou a denúncia.
O time foi punido esportivamente com a perda de 24 pontos no Brasileirão daquele ano. Mesmo assim, conseguiu se manter na elite. Nairo ficou dois anos afastado das atividades, enquanto Paulo ficou quatro anos sem poder exercer a função no futebol —ambas punições aplicadas na época pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) .
Desde então, o clube não conseguiu recuperar o protagonismo no futebol nacional, perdeu patrocínios e entrou em crise financeira, com atrasos nos salários, greve de jogadores e perda da sede após reintegração de posse requerida pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo.
Crise sem fim
Já em 2006, a equipe foi rebaixada à Série B do Brasileirão, onde ficou por sete anos. A partir daí, teve dois rebaixamentos seguidos: em 2013 para a Série C, e, em 2014, para a Série D. Em 2015, disputou a quarta divisão e não voltou mais.
A segunda divisão do estadual virou realidade em 2013. Foi rebaixado à terceira divisão em 2019 e em 2021.
— Faz anos que eu ouço que tudo aconteceu por causa da morte do Serginho. Outros falam que é pela morte do ex-prefeito (Luiz Olinto) Tortorello (em 2004). Isso não passa de comentário. Futebol mudou muito, não seria diferente com o São Caetano — afirmou Nairo, que foi presidente do clube por 25 anos, e se afastou em 2021.
O auge da crise financeira ocorreu justamente em 2020, quando o Azulão acumulou mais de seis meses sem pagar salários para atletas, fornecedores e funcionários. Revoltados com a situação, jogadores se recusaram a entrar em campo na partida da Série D do Brasileiro, quando o Marcílio Dias (SC) venceu por W.O. Antes da greve, houve ainda uma derrota em casa para o Pelotas (RS) por 9 a 0.
Em maio de 2022, o Azulão teve que desocupar a antiga sede, localizada no complexo que abriga o estádio Anacleto Campanella, na cidade de São Caetano do Sul (SP). Segundo a prefeitura do município, o pedido de reintegração de posse foi feito após o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo vetar o uso de espaços públicos por clubes de futebol.
Apesar da queda para a última divisão do Paulista, o clube prevê a construção de uma arena própria e já tem o projeto finalizado. A curto prazo, a meta é conseguir recolocar o clube na elite estadual e conquistar uma vaga na Série D do Brasileiro.
Veículo: Online -> Portal -> Portal O Globo - Rio de Janeiro/RJ