
Publicado em 15/12/2023 - 14:58 / Clipado em 15/12/2023 - 14:58
Em um mês de gratuidade, São Caetano do Sul dobra usuários de ônibus no ABC paulista
Programa Tarifa Zero no período de um ano deverá custar R$ 35 milhões ao município; prefeito comenta os impactos
São Paulo | Agência Brasil
Um mês após o início do passe livre nos ônibus de São Caetano do Sul, na região metropolitana de São Paulo, o número de usuários do sistema dobrou.
Em média, eram 25 mil pessoas transportadas diariamente até 1° de novembro, quando o programa entrou em vigor. Um mês depois, segundo os primeiros dados consolidados, o número de usuários diários passou para 52 mil.
São Caetano do Sul passou, então, a ser o município mais populoso do estado – são 165 mil habitantes – a adotar o passe livre pleno no transporte público.
Os impactos na cidade já são visíveis, a começar pela queda no número de remarcações de consultas no SUS (Sistema Único de Saúde) e pela diminuição da fila dos carros de aplicativos no terminal rodoviário.
Dinheiro economizado
“Hoje mesmo, minha filha vinha para a escola e eu falei: vamos de ônibus. Dispensei a perua, vamos de ônibus, aproveitar, né?”, contou o comerciante José Ednaldo de Santos, de 63 anos, que tem uma banca de produtos eletrônicos no terminal rodoviário.
O dinheiro economizado com as passagens agora tem outra finalidade. “Serve para comprar mistura, pagar algumas coisas, fatura do cartão, boleto, água, luz.”
José Auricchio Júnior, prefeito de São Caetano do Sul
Paulo Pinto/Agência Brasil
O prefeito da cidade, José Auricchio Júnior, elenca as vantagens econômicas que o programa está gerando ao município, mas, antes, defende o Tarifa Zero como direito social.
“Eu sempre tive uma tendência de achar que o transporte público é quase que um dever do Estado. Como você tem saúde, como tem educação”, afirmou.
Do ponto de vista econômico, a previsão do prefeito é que a gratuidade no transporte comece a apresentar resultados mais visíveis em 2024, principalmente no comércio.
“Eu deixo de pagar passagem ida e volta, são R$ 10. Eu como um lanche, vou ao açougue, vou gastar no comércio. No final da semana, eu economizei R$ 60, R$ 70, o que me permite sair com a minha família”, destaca o prefeito.
Auricchio chama a atenção para a desoneração das empresas instaladas na cidade com a gratuidade dos ônibus. Com o passe livre, os empresários deixaram de ter de pagar o vale-transporte.
“Esse pequeno comerciante, pequeno empresário, quando tiver que contratar o próximo funcionário para a empresa dele, vai querer o cara morando onde? Aqui. Então, acho que tem um ciclo virtuoso aí”, acrescenta.
Fundo de apoio
O primeiro mês de Tarifa Zero custou cerca de R$ 2,9 milhões à prefeitura — a cidade tem oito linhas de ônibus que são operadas com 54 veículos pela única concessionária, a Viação Padre Eustáquio. A execução do programa no período de um ano deverá custar R$ 35 milhões, o que corresponderá a 1,5% do orçamento total do município previsto para 2024 (R$ 2,434 bilhões).
Os recursos, segundo a administração municipal, já estão garantidos e não será necessária a criação de novos impostos ou taxas.
O programa é bancado pelo Fundo de Apoio ao Transporte (Fatran) da prefeitura, composto por recursos de multas de trânsito, ações publicitárias envolvendo o sistema de transporte e dotações orçamentárias próprias de fontes relacionadas à mobilidade urbana e à sustentabilidade socioambiental.
Prefeitura da cidade iniciou o programa Tarifa Zero para o transporte publico
Paulo Pinto/Agência Brasil
“Nós já tínhamos um sistema relativamente bem gerido e ocioso. Ele tinha espaço, cabia um espaço nele para a gente trazer passageiro novo para dentro do sistema sem onerar”, ressalta o prefeito.
São Caetano do Sul é a oitava cidade paulista a adotar o sistema de passe livre pleno em 2023, ao lado de Porto Feliz, Piedade, Santa Isabel, Jales, Tietê, Ibaté e Nazaré Paulista.
O movimento no sentido da tarifa zero no transporte coletivo não é apenas paulista. Das 89 cidades que têm o passe livre pleno, 27 adotaram o sistema em 2023.
Uma característica comum entre esses municípios é a diminuição do número de passageiros nos últimos anos e a consequente redução dos recursos oriundos da cobrança da passagem.
“Em São Caetano, era um mergulho [a queda no número de passageiros], porque parece que não, mas a passagem impacta na vida das pessoas. E não adianta a gente olhar só para aqueles que tinham a gratuidade, que no nosso caso eram os idosos, gestantes, deficientes, e o passe escolar. Você tem o trabalhador informal, porque o trabalhador formal tem o VT, mas o informal e o desempregado não”, pondera Auricchio.
Segundo o pesquisador da Universidade de São Paulo Daniel Santini, o movimento em direção ao passe livre está relacionado a uma crise no sistema de financiamento de transporte com cobrança de passagens.
Ele diz que, com o encolhimento do número de pessoas transportadas, torna-se mais difícil o equilíbrio financeiro a partir da receita da catraca.
“A gente tem aí um horizonte que é muito preocupante para a sobrevivência e a continuidade do transporte público. Esse é o principal fator que explica por que estão sendo estudadas e testadas novas possibilidades de financiamento e organização”, diz.
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Seção: Notícias