
Publicado em 14/11/2023 - 21:24 / Clipado em 14/11/2023 - 21:24
'CPI do Apagão': Alesp tem queda de energia durante audiência com presidente da Enel; assista
Presidente da empresa em São Paulo, que participa da sessão, ouviu piadas dos demais presentes
Por Guilherme Caetano — São Paulo
A sessão desta terça-feira da CPI da Enel na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) ficou às escuras por alguns segundos após uma queda de energia. O presidente da empresa em São Paulo, Max Xavier Lins, presente na sala, ouviu chacota dos presentes: "É a dona Enel", gritaram alguns.
Lins obteve na segunda-feira uma decisão do Tribunal de Justiça que o garantiu a ir à CPI na condição de investigado e não como testemunha. Assim, ele poderá ficar em silêncio caso sejam feitas perguntas que o incriminem.
Entre outros assuntos, a CPI tem o objetivo de investigar as causas do apagão que acometeu São Paulo por vários dias no começo do mês, após um vendaval derrubar centenas de árvores na cidade.
Após a fala de Xavier Lins, que justificou o apagão pelo temporal inesperado e a queda de árvores na cidade, o presidente da CPI, Thiago Auricchio (PL), afirmou que uma TV e um adaptador queimaram com a queda de energia nesta manhã.
— A Assembleia foi vítima da própria Enel — afirmou, ao lado do presidente da companhia.
Lins, ao assumir a palavra na CPI, se desculpou com a população mais afetada pelo apagão e pediu para mostrar um material que ajudaria a fazer os esclarecimentos aos deputados. A apresentação que o presidente da Enel tinha preparado para levar à CPI não pôde ser mostrada imediatamente em razão da falta de energia.
— O computador desligou com a falta de energia, estamos aguardando que a energia seja reestabelecida para ligá-lo. O senhor pode continuar explicando, mesmo sem a apresentação — disse Auricchio.
Por meio de nota, a Enel afirmou que "a oscilação de energia na Assembleia Legislativa nessa manhã (14) não tem relação com a rede de distribuição da companhia”. Em sua réplica, o próprio Xavier Lins afirmou que a companhia não teve responsabilidade na queda de energia momentos antes.
A audiência começou com queixas de prefeitos das cidades da Região Metropolitana de São Paulo atendidas pela Enel. O prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, fez duras críticas ao empresário e declarou que a Enel "atrapalha o desenvolvimento econômico de São Paulo" em razão da morosidade na prestação do serviço. Ele chegou a chamar a empresa de "lixo". José Auricchio Júnior, prefeito de São Caetano do Sul e pai do presidente da CPI, endossou o colega e chamou a Enel de "pior prestadora de serviço público do país".
O prefeito de Cajamar, Danilo Joan, proferiu palavrões ao se dirigir a Lins, pediu ressarcimento à população e defendeu "ir para cima da Enel" e "apertar a regulação" junto à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
— Vocês sabem por que ele vem aqui e mente desse jeito? Porque está sentado debaixo de um contrato frouxo. Está todo mundo cansado de ouvir a mesma m* aqui, desculpa — disse Joan.
A relatora da CPI cobrou Lins pelo fato de ter pedido habeas corpus para poder se manter calado durante a oitiva, e ouviu dele que a medida foi uma orientação do setor jurídico da empresa, mas mesmo assim responderia aos questionamentos de maneira transparente. Enquanto Carla Morando indagava Lins a respeito de questões técnicas, o seu marido batia boca com o diretor de Relações Institucionais da Enel, Marcos Mesquita, do lado de fora da sala, no corredor da Assembleia.
Luiz Fernando, deputado do PT, usou sua fala para criticar a privatização do serviço de fornecimento de energia e aproveitou para defender a não concessão da companhia de saneamento e água (Sabesp), argumentando que "energia elétrica e água não são mercadoria para serem exploradas por particulares". Ele questionou o fato de a Enel, uma empresa estatal italiana, ter adquirido o controle do serviço em São Paulo.
Lins também foi questionado sobre a reunião que teve com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, na tarde da segunda-feira no Palácio dos Bandeirantes, e afirmou ter tratado de medidas complementares para a melhoria da prestação do serviço e "passos adicionais de ressarcimento (dos clientes atingidos) que não está previsto na legislação".
O presidente Enel São Paulo teve algum respiro durante a vez do deputado Lucas Bove (PL), que cobrou também o poder público em relação à poda de árvores e criticou o colega Marcolino (PT) pelo discurso antiprivatização. Mas Lins se recusou a responder sobre a versão da Prefeitura de São Paulo de que a empresa "atrapalha" o serviço municipal.
— Fica o meu compromisso de resgatar o relacionamento (com as prefeituras), porque claramente existe uma insatisfação muito forte acumulada. Isso passa inclusive por muita transparencia nas relações — afirmou o empresário.
Veículo: Online -> Portal -> Portal O Globo - Rio de Janeiro/RJ
Seção: Política