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Portal O Globo - Rio de Janeiro/RJ

Publicado em 05/11/2023 - 08:28 / Clipado em 05/11/2023 - 08:28

Apagão da Enel em SP se torna arma da oposição contra a privatização da Sabesp


Bianca Gomes

Problemas da concessionária privada de energia são citados por pré-candidatos à prefeitura paulistana e até ministro de Lula como sinais de piora no serviço após desestatização

 

 

O apagão que deixou 1,1 milhão de imóveis sem energia elétrica em São Paulo por mais de 48 horas virou munição contra a privatização da estatal paulista de saneamento básico (Sabesp), um dos principais projetos da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), cuja votação deve ocorrer ainda este ano na Assembleia Legislativa estadual (Alesp). Nas redes sociais, deputados contrários à desestatização, e até pré-candidatos à eleição municipal de 2024 e um ministro do governo Lula, citaram a resposta lenta da Enel à crise de energia para justificar a necessidade de manter serviços essenciais, como água e luz, sob controle público.

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), pré-candidato à prefeitura paulistana em 2024, informou que irá solicitar à Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (ARSESP) e à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para cobrar uma "punição rigorosa" à Enel, concessionária privada de energia que atende São Paulo e 23 municípios da região metropolitana da capital paulista.

"O povo de São Paulo não pode ficar à mercê de uma empresa que, além de cobrar tarifas absurdas, não garante o mínimo de qualidade no atendimento", escreveu Boulos, que lidera a corrida eleitoral na capital paulista, segundo a última pesquisa Datafolha.

O também deputado federal Ricardo Salles, que deve deixar o PL para encontrar outra legenda que garanta seu ticket na corrida pelo comando da prefeitura de São Paulo no ano que vem, não atacou a privatização, mas criticou o atual prefeito e candidato assumido à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), apesar da concessionária de energia não estar sob a alçada de vigilância da Prefeitura.

"Na Nuneslândia, há mais de 2 anos com caixa cheio e nenhum planejamento, sobram contratações emergenciais sem foco nem resultado, enquanto a cidade toda sofre com a falta de luz das árvores e postes derrubados. Tudo pela reeleição, nada pelo povo", declarou o ex-ministro do Meio Ambiente do governo Jair Bolsonaro.

A deputada Tabata Amaral (PSB), que também deve disputar a prefeitura paulistana em 2024, se restringiu a dizer que o poder público precisa se preparar para lidar com esses desastres.

 

Relação 'não muito amigável'

Ontem, ao GLOBO, o prefeito Ricardo Nunes criticou o que chamou de inação da Enel no momento de crise. Ele disse que pedirá uma reunião com a Aneel para discutir as falhas da companhia.

—Essa Enel é terrível. Estamos sofrendo com falta de respostas deles — disse o prefeito, antes de se encontrar com executivos da companhia. — As chamadas demoram, tem pouca equipe. Eu falei para o presidente da Enel chamar a equipe de outras concessionárias, trazer pessoas de outros estados. Nunca houve tantos pedidos para a Defesa Civil como agora. Faltou e está faltando ação — completou.

Depois, em entrevista coletiva no centro de operações da empresa, Nunes disse que, em alguns momentos, a relação com a companhia não foi "muito amigável", mas que agora melhorou, e todos os pedidos feitos pelo poder municipal foram atendidos.

Nunes não fez comentários sobre o fato da concessionária ser uma empresa privada. Contrário à venda da Sabesp até o final do ano passado, o prefeito tem indicado a aliados que apoiará a desestatização. Adversários afirmam que a mudança de opinião foi um aceno para o governador Tarcísio de Freitas, de olho no apoio do chefe do Palácio dos Bandeirantes em 2024.

Mesmo políticos favoráveis a privatizações passaram a criticar a Enel e a possível venda da Sabesp. Caso de Fabio Wajngarten, ex-secretário especial de Comunicação Social (Secom) do governo Jair Bolsonaro que é cotado para ser vice na chapa de Ricardo Nunes.

"Em teoria a privatização é maravilhosa. Bairros de SP estão no escuro há mais de 30 horas. Se com energia elétrica o transtorno é enorme, imaginem se a companhia de água cair nas mãos de grupos tão incompetentes quanto os de energia… Enquanto no país tudo se resumir a medidas de curto prazo, pra gerar caixa pra frutos emergenciais ao custo de entregar o país para as "BlackRocks" da vida, o Brasil vai seguir sendo uma colônia", afirmou o ex-Secom, que hoje é advogado de Bolsonaro.

Paulo Teixeira, ministro do governo Lula à frente da pasta de Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, disse no "X" (ex-Twitter) que a demora no restabelecimento da energia deixa claro o "desinvestimento" das empresas de energia em manutenção. "Isso se deveu à privatização do setor elétrico. Deve ser exemplo para a não privatização da Sabesp", defendeu.

 

Oposição estadual

"24 horas depois das fortes chuvas de ontem ainda tem regiões sem energia elétrica e lamentavelmente as pessoas não conseguem falar com a Enel! Isso mostra os prejuízos da privatização. E ainda tem gente que acredita que a água deve ser privatizada", escreveu Emídio de Souza (PT), coordenador da Frente Parlamentar Contra a Privatização da Sabesp na Alesp.

O deputado Carlos Giannazi, do PSOL, também enfatizou a dificuldade que os consumidores estão enfrentando para entrar em contato com a empresa. No sábado, em entrevista coletiva, um representante da Enel afirmou que a alta procura gerou "congestionamento" no call center.

"A chuva de ontem deixou vários bairros, até agora, no escuro. A Enel, empresa privatizada de energia, não atende à população e diz que a energia volta até terça-feira. Tarcísio agora quer privatizar a Sabesp. Já pensou como será a próxima crise hídrica se isso ocorrer?", escreveu o parlamentar.

 

Viu isso? Privatização da Sabesp esquenta embate entre direita e esquerda em SP

—Essa Enel é terrível. Estamos sofrendo com falta de respostas deles — disse o prefeito, antes doe se encontrar com executivos da companhia. — As chamadas demoram, tem pouca equipe. Eu falei para o presidente da Enel chamar a equipe de outras concessionárias, trazer pessoas de outros estados. Nunca houve tantos pedidos para a Defesa Civil como agora. Faltou e está faltando ação — completou.

Mesmo políticos favoráveis a privatizações passaram a criticar a Enel e a possível venda da Sabesp. Caso de Fabio Wajngarten, ex-secretário especial de Comunicação Social (Secom) do governo Jair Bolsonaro que é cotado para ser vice na chapa de Ricardo Nunes.

"Em teoria a privatização é maravilhosa. Bairros de SP estão no escuro há mais de 30 horas. Se com energia elétrica o transtorno é enorme, imaginem se a companhia de água cair nas mãos de grupos tão incompetentes quanto os de energia… Enquanto no país tudo se resumir a medidas de curto prazo, pra gerar caixa pra frutos emergenciais ao custo de entregar o país para as "BlackRocks" da vida, o Brasil vai seguir sendo uma colônia", afirmou o ex-Secom, que hoje é advogado de Bolsonaro.

 

Greve contra a privatização

Em outubro, a privatização da Sabesp também virou pauta política de uma greve que reuniu funcionários do metrô, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e da própria empresa de saneamento básico. A paralisação durou 24h e interrompeu o funcionamento de nove linhas.

Vereadores da cidade de São Paulo, que é a principal cliente da Sabesp, também se manifestaram entre ontem e hoje. Em outubro, a Casa instalou uma comissão especial para estudar a privatização.

"16 horas sem energia elétrica em dezenas de bairros em São Paulo. Inclusive no meu. A Enel cortou canais de atendimento. Mas fiquem tranquilos, que o lucro está garantido para o acionistas! E o bolso-governador de SP ainda quer privatizar a Sabesp. Não podemos permitir!", disse Luana Alves (PSOL).

 

Maioria consolidada

Parlamentares do governo e da oposição acreditam que Tarcísio já tem maioria para aprovar a venda da Sabesp na Alesp. Por isso, a estratégia de partidos como PT e PSOL tem sido questionar aspectos jurídicos do processo, em especial, o fato de o governador ter enviado um Projeto de Lei, e não uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) estadual. A diferença prática se dá no número de votos necessários para aprovação. A primeira necessita de 48 deputados favoráveis (a chamada “maioria absoluta”). Já a segunda, 57 (“maioria qualificada” ou três quintos da Alesp).

Outro braço da estratégia para impedir a desestatização é a própria mobilização social. É aí que a falta de luz entra: para deputados, a demora excessiva em restabelecer a energia elétrica cria um constrangimento para a Enel, que foi a segunda empresa com mais reclamações no Procon em 2022.

Parlamentares da oposição de Tarcísio têm lembrado com frequência o fato de a própria base do governo ter instalado uma Comissão parlamentar de inquérito (CPI) para apurar possíveis irregularidades e práticas abusivas cometidas pela Enel e investigar as quedas de energia e cobrança de valores no período de 2018 até 2023. O presidente da CPI é o deputado Thiago Auricchio (PL).

 

https://oglobo.globo.com/brasil/sao-paulo/noticia/2023/11/05/apagao-da-enel-em-sp-se-torna-arma-da-oposicao-contra-a-privatizacao-da-sabesp.ghtml

 

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Seção: São Caetano