
Publicado em 19/10/2023 - 18:26 / Clipado em 19/10/2023 - 18:26
“Hoje, meu filho não é só tolerado. Ele é aceito”, diz mãe de menino com Síndrome de Down
Amanda Moraes
Caio Romero, 13, enfrentou vários desafios na sua vida escolar, mas, felizmente, encontrou uma turma de amigos acolhedora que fez a diferença. “O Caio tem muitos ganhos com essa convivência e os amigos também tem um ganho de cidadania, de tolerância e de amor”, diz a mãe, Fernanda Romero, em entrevista à CRESCER. Saiba mais sobre a história!
A jornada de Caio Romero, 13 anos, de São Caetano do Sul (SP), pela educação teve seus altos e baixos. Ele foi diagnosticado com Síndrome de Down no parto e, desde então, sua mãe, Fernanda Dessoti Romero, 46 anos, tem feito de tudo para que ele conseguisse se desenvolver plenamente. “Com apenas 15 dias de vida, ele já teve acesso às terapias recomendadas. Ele sempre fez terapia ocupacional, fisioterapia e fonoaudiologia. A nossa ideia sempre foi ofertar o mais próximo da realidade dos irmãos, porque ele é o caçula”, diz Fernanda, em entrevista à CRESCER.
Quando o pequeno completou dois anos, começaram a procurar uma escola para ele. “A princípio, coloquei na escola que meus outros filhos estudavam, mas não tive uma recepção muito boa. Foi uma porta fechada de uma forma muito velada”, explica. Por isso, foi atrás de outras. Foi uma longa busca, pois queria uma na qual Caio pudesse estudar até o Ensino Médio para que não precisasse passar por essa saga novamente no futuro.
"Quando ele entrou no colégio, tinha uns dois anos e meio, ainda usava fralda, era pequenininho, falava muito pouco… E aí ele teve avanço muito significativo! As terapeutas sempre acompanharam e a escola foi muito aberta a sugestão”, comemora. Ele também tinha uma auxiliar de sala que o ajudava e conseguiu absorver os conteúdos bem tranquilamente.
Ensino fundamental
“O Caio seguiu para o ensino fundamental nessa mesma escola. Foi aí que começou a ficar um pouco mais complexo. Ele sempre foi um aluno muito empenhado, ele sempre resolveu todas as atividades dele, nunca teve resistência em relação à escola ou às terapias dele. Mas, a partir do 1º ano, ele teve uma certa dificuldade. No 2º, quando começou a alfabetização mais intensa, ele precisou de uma auxiliar exclusiva, o que ajudou”, afirma a mãe.
Além dos desafios no letramento, Fernanda também percebeu uma mudança na vida social do filho. “Caio sempre foi rodeado de muitos amigos, mas, no 2º para o 3º ano começou um distanciamento. Não foi nem por maldade, as crianças vão crescendo e vão buscando as pessoas com os amigos que tem mais afinidade. E o Caio estava numa outra fase do desenvolvimento”, recorda. “Mas isso não deixa de causar sofrimento. Ele foi ficando de lado, foi deixando de participar, de receber convites para festas…”, lamenta.
Logo em seguida, veio a pandemia. “Nas aulas online, eu sentava com ele e, então, pude me aprofundar mais quanto ao relacionamento dele com os professores e a escola predispôs uma profissional excelente que o ajudou a acompanhar o conteúdo. Foi produtivo para ele, ele teve um desenvolvimento interessante”, diz.
Mas, o isolamento social não ajudou Caio a fazer novos amigos. No final de 2021, a escola dele já voltou com as aulas presenciais. No entanto, começou um período muito desafiador para ele. “Eu não sei se foi o pós-pandemia, não sei como estava a situação mental dos professores, mas ele era o aluno que ficou meio de lado. Meio largado, sem amigos, não tinha mais uma auxiliar para ele. Também teve uma mudança do Ensino Fundamental 1, que tinha professores mais acolhedores, para o 2, que são professores especialistas, eles não tinham esse olhar de desenvolvimento. Foi bem difícil. Em 2022, cogitei tirá-lo da escola”, lembra a mãe.
Ela também sentiu que o filho estava perdendo interesse nos estudos. “Ele começou a sentir muito sono, a ficar muito cansado. Eu acredito que era porque ele fazia as terapias de manhã e estudava à tarde, mas sempre foi assim, nunca foi um problema. No entanto, sem o engajamento dos professores, o conteúdo que já é massante ficou ainda mais. Veio um desânimo”, diz. Além disso, as amizades também não vinham, o que deixava Fernanda cada vez mais preocupada. “Nunca tive um problema de bullying, ele era o cara que todo mundo gostava, mas que ninguém queria como amigo”, destaca.
Hora de mudança
Depois de muitas reuniões com a escola, Fernanda decidiu mudar o filho para o período da manhã, quando ele entrou no 7º ano. Mas ela confessa que, no início, estava bastante apreensiva. “Eles são pré-adolescentes, que já têm suas panelinhas, por isso, achei que ia ser mais difícil ainda dele ser inserido. No entanto, este ano, eu tive uma grata surpresa. A turma dele é muito acolhedora e está fazendo diferença na vida dele”, comemora.
Segundo ela, Caio tem se dado muito bem com os colegas e tem feito amigos de verdade. “Ele não é só tolerado. Ele é incluído, ele é aceito e ele é querido. As crianças chamam ele para o aniversário, ele participa dos trabalhos de forma positiva. Não é só um café com leite, está lá participando mesmo”, ressalta a mãe.
Ela também acha que isso teve um grande impacto no seu desempenho escolar. “Eu percebo ele mais animado, mais feliz e ele trouxe isso para as terapias. Então, ele teve um avanço pedagógico muito grande, assim como um avanço social. Ele já tinha tido no passado, mas ficou uns anos meio estagnado”, explica.
Síndrome de Down:
Empatia e tolerância
Fernanda acha que o convívio com os amigos é muito importante para o filho e para as outras crianças. “O Caio tem muitos ganhos com essa convivência com os amigos e os amigos também tem um ganho de cidadania, de tolerância e de amor. Quando eles se depararem com uma pessoa com deficiência, vai ser algo bem natural para eles. O Caio está trazendo isso para eles. Informação quebra preconceito e discriminação”, destaca.
Ela também acredita que traz uma grande lição sobre empatia. “Faz você se colocar no lugar do outro e isso é coisa que só a convivência pode trazer. Você vai olhar aquele indivíduo como um ser único, que tem, sim, suas dificuldades como todos nós, mas que é cheio de talento e de potencial”, afirma.
Entre os altos e baixos, ela fica muito feliz com o quão longe o filho já chegou e acredita que ele ainda vai chegar a muitos lugares. “É difícil. Ter uma escola inclusiva não é a ausência da dificuldade. É um conjunto: a família, as terapias multidisciplinares e a escola tem que estar os três muito bem alinhados. Mas nós somos muito satisfeitos com o desenvolvimento dele dentro da condição que ele tem, nós sempre acreditamos bastante no potencial”, finaliza.
Veículo: Online -> Site -> Site Revista Crescer
Seção: São Caetano