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 Portal G1

Publicado em 18/08/2023 - 08:55 / Clipado em 18/08/2023 - 08:55

MaPÃO: veja pontos com café da manhã gratuito para pessoas em situação de vulnerabilidade na cidade de SP


Entidades, igrejas, padarias e ONGs ouvidas pelo g1 dão a primeira refeição do dia para quem não pode pagar. Para quem quer economizar, plataforma reúne estabelecimentos que vendem alimentos perto do vencimento com até 70% de desconto.

 

Por Carlos Henrique Dias, g1 SP — São Paulo

 

A farinha que ajudava a engrossar o feijão, durante a adolescência pobre de José Roberto Martins de Amorim, em Pernambuco, hoje dá forma aos pães fabricados pelo empresário e doados para pessoas em situação de vulnerabilidade todos os dias em suas sete padarias em São Paulo.

Aos 49 anos, ele faz parte de um grande ciclo de solidariedade espalhado pela cidade, que ajuda a alimentar quem precisa matar a fome já nas primeiras horas do dia, mas não têm condições de pagar. O g1 identificou 38 lugares na cidade que fazem a distribuição gratuita de café da manhã.

  •  Entidades, líderes comunitários e igrejas contaram ao g1 que o número de voluntários e doações estava em alta entre 2020 e 2021, o período mais crítico da pandemia de Covid, mas caiu de 2022 a 2023.
  • O g1 reuniu no “MaPÃO” pontos que ainda permanecem ao menos uma vez por semana com café da manhã na cidade e de forma gratuita.
  •  São locais informados pela Arquidiocese de São Paulo, pela prefeitura ou indicados pelas próprias frentes encontradas pelo g1.

São 38 endereços no mapa, que pode ser atualizado, caso outros surjam, após checagem do g1. Para mais indicações a serem inseridas no "MaPÃO", encaminhe e-mail ao G1-SP@g.globo (Pesquise nos dois mapas abaixo as entidades, os locais e os dias).

 

Café da manhã

O café da manhã é uma das refeições mais importantes do dia por ocorrer depois de um longo período de jejum, explica a nutricionista Fernanda Furmankiewicz. No caso do combinado de pão e café com leite, o mais oferecido nas ações sociais, a pessoa tem, no mínimo, a fonte de carboidrato no pão, e a proteína e o cálcio no leite.

    "O café da manhã garante boa parte das necessidades de nutrientes que o corpo precisa. É pela manhã que o pâncreas está mais apto a produzir insulina, hormônio responsável por levar principalmente a glicose e outros nutrientes até as células. Diferentemente da noite, com a escuridão, quando sua produção cai, e o organismo passa a produzir mais melatonina, que é o hormônio do sono", detalha.

 

Entidades que fazem a entrega

No Centro de São Paulo, o Projeto Pão do Povo da Rua, que existe há três anos, é um dos que faz entrega de café da manhã gratuito (veja no mapa acima). É uma padaria formada 100% de forma solidária. No auge da pandemia, chegou a atender 75 mil pessoas por mês. Atualmente, são cerca de 22 mil pessoas alimentadas no período.

"Além de alimentar as pessoas, ao longo do tempo a gente começou a tirar pessoas em situação de rua e colocar para produzir o pão, para produzir os bolinhos. Hoje, a produção que é servida na rua é toda feita por pessoas que estavam em situação de rua e que estiveram na nossa fila, na fila da fome", conta Ricardo Frugoli, criador da ação.

O projeto é mantido por doações e parcerias para farinha, açúcar e outros insumos que são usados no pão.

Na Zona Norte, o Café Solidário é um grupo de amigos que, aos domingos, se encontra próximo ao Metrô Santana com um propósito: servir cerca de 300 refeições. O cardápio tem pão com mortadela, chocolate quente, suco, água e café com leite.

As doações dos mantimentos são de conhecidos, padarias dos bairros e colaboradores do café, segundo Taisa Ozorio, uma das integrantes.

Já a ONG Banco de Alimentos (OBA) não faz entrega de comida pronta. A equipe se desloca para coletar quem tem alimentos sobrando: indústrias, campo, supermercados e padarias. E entrega onde falta. Atualmente, são 57 instituições cadastradas que atendem diariamente 25 mil pessoas.

Ao g1, a equipe da OBA preparou uma lista de instituições atendidas que oferecem café da manhã com as doações da ONG. São 24 instituições que atendem idosos, crianças e jovens, pessoas em situação de rua ou em situação de vulnerabilidade.

Denisson D'Angiles, presidente do Instituto CEU Estrela Guia, faz parte parte da ação que acolhe pessoas em situação de rua desde antes da pandemia de Covid. O grupo voluntário leva café da manhã. À noite, entrega roupas, cobertores e alimentos.

    "Durante toda a pandemia, servíamos marmitas cotidianamente, porém as doações diminuíram. E estas doações são muito importantes para nós."

O Instituto CEU Estrela Guia é uma das entidades que recebem recursos doados ao menos duas vezes por semana pelas padarias do empresário José Roberto Martins de Amorim, citado no início da reportagem.

 

Da farinha de milho à farinha de trigo

José Roberto é dono de sete padarias que fazem as entregas de café da manhã na região da Vila Mariana e Saúde, Zona Sul de São Paulo. Ele contou que o pai trabalhava numa fazenda no interior de Pernambuco para cuidar dos 16 filhos. Aos 18 anos, José decidiu ir para São Paulo e empreender.

Depois de abrir um bar na Vila Mariana nos anos 1990, viu que a demanda da área era outra: padarias.

Ele não sabia fazer pão, e a única intimidade que tinha com farinha era a de milho, no feijão.

    "O primeiro cliente me pediu uma 'língua de sogra', e eu não sabia o que era. Hoje, são cerca de 12 mil pães por dia que produzimos. Ajudar o próximo faz bem, porque a gente já passou por isso [fome]. Se todo mundo pudesse ajudar um pouco, faz bem ", diz.

Nas padarias da família, além do pão francês, são encaminhados também bolos e tortas dias antes da data de vencimento para ao menos cinco instituições, entre ONGs e igrejas.

"Os chapeiros e o copeiro já sabem. O pessoal até já fala: 'O café especial'. Eles [pessoas em situação de vulnerabilidade] passam e ficam num cantinho aqui da padaria. É uma ordem dele [dono] que, em todas as padarias, qualquer pessoa em situação de rua que passar já tem o lanche dela", conta Robert, um dos filhos.

Há 10 anos, José Roberto presentou os pais com a fazenda que o pai trabalhou praticamente a vida toda para criar os filhos. O pai, aos 78, e a mãe, com 86, ainda vivem na área e têm a própria colheita e criação de animais.

 

Pão, café e economia

Para quem não está em situação de vulnerabilidade, mas quer economizar, a tecnologia ajuda. A Food To Save, foodtech engajada na luta contra o desperdício de alimentos, que já evitou que mais de 1.500 toneladas de comida fossem desperdiçadas, pode ser uma aliada. A FTS também faz doações por meio da ONG Banco de Alimentos.

Para evitar o desperdício, o estabelecimento parceiro seleciona os itens para montagem da "Sacola Surpresa", e disponibiliza para resgate na plataforma com até 70% de desconto.

São produtos aptos para o consumo. O usuário pode escolher receber o pedido via delivery, ou retirar a "Sacola Surpresa" no estabelecimento onde fez a compra. A foodtech afirmou ao que g1 que doou mais de 5 mil itens apenas de padaria por meio das "Sacolas Surpresa" de parceiros.

Alessandra Rodrigues de Carvalho, da Big Bread do Parque São Domingos, aderiu ao FTS, e a produção passou a ver “onde estava errando”.

“A gente consegue direcionar melhor e aproveitar essas mercadorias que devem ser consumidas imediatamente. É uma forma de evitar desperdícios e de você conseguir controlar melhor a sua produção.”

Além do que é fabricado na padaria, podem ser colocados nas sacolas itens próximos do vencimento.

"A pessoa economiza, porque ela vai pagar mais barato. Muita gente usa com a intenção de economizar mesmo, não só porque está em vulnerabilidade, mas porque hoje todo mundo precisa economizar um pouquinho", diz Alessandra.

Além da capital paulista, na Grande São Paulo há parceiros da plataforma em Poá, São Caetano do Sul, Cotia, Barueri, Taboão da Serra, Diadema, Mogi das Cruzes, Mauá, Santo André e São Bernardo.

Luis Severiano Pereira, vice-presidente do Sampapão, entidade que reúne o setor dos industriais de panificação e confeitarias de São Paulo, explica que cada panificador age de forma individual.

"Muitos doam, alguns não. Não existe um horário específico de doação. O que muitas pessoas fazem, eu como panificador faço, é, às vezes, passar uma pessoa que fala que está com fome e a gente faz um prato e entrega, ou se não pega uma baguete ou pega um francês e faz um lanche de mortadela, queijo ou presunto e dá para a pessoa. São Paulo é muito grande, então, a gente não tem dados específicos. Nunca se nega um prato de comida a uma pessoa que está com fome."

 

https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2023/08/18/mapao-veja-pontos-com-cafe-da-manha-gratuito-para-pessoas-em-situacao-de-vulnerabilidade-na-cidade-de-sp.ghtml

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Seção: São Paulo