
Publicado em 18/07/2023 - 07:42 / Clipado em 18/07/2023 - 07:42
‘Desenrola’ é esperança para reduzir inadimplência que cresce mais no ABC
George Garcia
Dados do SPC Brasil e compilados pela CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de São Caetano mostram que a inadimplência não apenas cresceu em número de devedores no ABC como subiu também se considerada a quantidade de dívidas contraídas por moradores da região se comparado o mês de junho com o mesmo período do ano passado. Nesta segunda-feira (17/07) começa a funcionar o programa Desenrola, do governo federal que tem como objetivo reduzir a inadimplência e estimular o consumo. No meio econômico a medida é considerada positiva, mas não acertada em todos os sentidos.
O número de devedores no ABC cresceu 12,06% comparando junho de 2022 com o mesmo mês neste ano. Esse crescimento é quase o dobro do que cresceu o número de devedores na região Sudeste, que ficou em 6,78% e quase cinco pontos percentuais a mais do que a alta no país, que registrou 7,64%. Se comparado junho deste ano com o mês anterior, houve queda na quantidade de devedores no país (-1%) e também no Sudeste (-0,70%) enquanto que no ABC o número cresceu 0,17%.
A inadimplência no ABC não subiu apenas quanto aos devedores, mas também quanto ao número de dívidas contraídas. Nessa análise a alta foi de 24,69% em junho comparado com o mesmo período do ano passado, considerando só as sete cidades da região. No Sudeste a quantidade de dívidas cresceu menos, 17,13%, quase o mesmo índice nacional que ficou em 17,16%. A maioria da população da região, 57,94%, tem dívidas pequenas. O levantamento aponta que a maior parte dos devedores (25,72%) tem dívidas de até R$ 500; 12,17% deve entre R$ 500,01 e R$ 1 mil e 20,05% deve entre 1.000,01 e R$ 2,5 mil. A maioria dos inadimplentes, 35,57% tem dívidas acumuladas de 1 a 3 anos.
Para o presidente da CDL de São Caetano, Alexandre Damásio, o programa federal de renegociação de dívidas chega com uma grave deficiência que é não trazer nenhuma ação de educação financeira para evitar que os consumidores voltem a serem negativados. “O programa começou hoje (17) sem nenhum movimento de educação financeira, representando apenas uma renegociação, um novo empréstimo. Pode até reduzir a inadimplência agora, mas e daqui a quatro meses? Ao entrar no site do governo, para se inscrever, o interessado poderia passar por etapas de um curso, uma trilha de educação financeira, que poderia ser de dois vídeos de 15 minutos cada um, se fosse feito assim eu seria um ufanista do Desenrola”, analisa.
Damásio considera que poderiam ser feitas ações regionais, através do Consórcio Intermunicipal. “Por mensagens de SMS, isso poderia ser feito pelas prefeituras”, cita. A CDL disponibiliza um e-book que fala sobre a abertura de crédito por empresas, que segue a linha também de tentar reduzir o endividamento.
O presidente da CDL destaca ainda um dispositivo do Desenrola que é a não inscrição no cadastro de devedores, das dívidas de até R$ 100. “De um lado de demoniza os serviços de proteção ao crédito e se privilegia o pequeno mau pagador”, critica.
O professor de economia da FSA (Fundação Santo André) e da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) Antonio Fernando Gomes Alves, também considera que o somente o lançamento do programa não vai resolver o cerne da questão que é a falta e educação financeira dos consumidores. “Para ter mais sucesso e ser perene o programa deve oferecer educação financeira, mas não apenas aquela que ensina o fluxo de caixa, mas que trabalhe o consumo responsável, principalmente nas faixas 1 e 2 do programa que atende a população que ganha até três salários mínimos que é a população de baixa renda foco do programa”, avalia.
Apesar deste ponto Alves considera que atrelado a outras ações o Desenrola trará efeito positivo. “Vai trazer para o mercado a queda dos juros para o próximo mês, porque vai tornar os consumidores adimplentes já próximo da primeira parcela do 13° salário. Mexendo também no Imposto de Renda essa população que ganha menos será mais beneficiada”, calcula. Para o professor de economia o “perdão” de dívidas de até R$ 100 é compensado pelo aumento do consumo que pode vir a reboque do Desenrola. “Os bancos não estão preocupados com esse público, que também é o de maior risco. Essas dívidas pequenas são de coisas de abastecimento, como contas de água e luz então o governo meio que subsidia isso e atende a uma faixa da população que está sempre refém do mercado. É uma forma até barata de se resolver o problema”, diz o economista.
“Dou nota sete para o Desenrola”, crava Antonio Fernando Gomes Alves. “Não dou nota mais alta pela falta de uma política de consumo responsável trabalhada desde a escola, senão vamos formar adultos inadequados para tomar crédito. Outro ponto negativo é que o crédito no país continua muito caro. Vamos poder aferir o êxito ou não do programa no médio e longo prazo se essas pessoas vão voltar ou não para a ala da inadimplência novamente. Eu acredito que vamos atingir um índice de solvência bom”, completa o professor.
Desenrola
As instituições financeiras de crédito começam a oferecer, nesta segunda-feira (17/07), a renegociação de dívidas para a Faixa 2 do Desenrola Brasil. Segundo o Ministério da Fazenda, cerca de 30 milhões de brasileiros podem se beneficiar nesta etapa.
A Faixa 2 do programa abrange a população com renda de dois salários mínimos (R$ 2.640) até R$ 20 mil por mês. As dívidas podem ser quitadas nos canais indicados pelos agentes financeiros e poderão ser parceladas, em, no mínimo, 12 prestações. Também é necessário ter sido incluído no cadastro de inadimplentes até 31 de dezembro de 2022.
Nesta fase do programa também serão retirados do cadastro de devedores, os nomes de quem tem dívidas até R$ 100. Segundo o Ministério da Fazenda, com essa medida cerca de 1,5 milhão de pessoas deixarão de ter restrições e voltarão a poder ter acesso ao crédito.
Faixa 1
Quem tem dívidas até R$ 5 mil e que tenham renda de até dois salários mínimos, ou sejam inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico), poderão participar do Desenrola Brasil na etapa que terá início em setembro.
Com informações da Agência Brasil
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Seção: Economia