
Publicado em 27/05/2020 - 18:52 / Clipado em 27/05/2020 - 18:52
Prefeitos da Região Metropolitana de SP reclamam por ficarem de fora da flexibilização da quarentena
Phelipe Guedes
Reaberturas só serão possíveis para municípios que tiverem disponibilidade de leitos de UTI e redução no número de casos.
A decisão de flexibilizar a quarentena em várias cidades, principalmente na Capital, desagradou prefeitos das cidades da Região Metropolitana de São Paulo, que ficaram de fora da nova medida, anunciada nesta quarta-feira (27). Toda a região vai permanecer na faixa vermelha, que é a que vai permanecer na quarentena, permitindo o funcionamento apenas de serviços essenciais. Muitas dessas cidades têm uma rua como limite, o que pode facilitar a circulação de pessoas entre as cidades.
Segundo o governo de São Paulo, houve conversa com os prefeitos para a tomada dessa decisão e a avaliação foi a de que o principal empecilho para reabertura na região foi a alta taxa de ocupação de leitos.
No plano de flexibilização da quarentena, Guarulhos, a segunda maior cidade de São Paulo, e todos os municípios da Região Metropolitana, foram incluídos na faixa vermelha, de alerta máximo. A taxa de ocupação de UTIs para Covid-19 chegou a 100% nesta quarta-feira, segundo a prefeitura.
Segundo o vice-governador Rodrigo Garcia, "nós sabemos hoje que o esforço de leitos é na região de Guarulhos, na região de Mairiporã e na região de Franco da Rocha. Então isso vai nos permitir ter um controle permanente porque o painel é diário, aonde nós precisamos reforçar e ampliar o numero de leitos."
O prefeito de Guarulhos, Guti, disse ter ficado surpreso com a decisão de que a flexibilização da quarentena vai trazer problemas para as cidades vizinhas.
"Não teve nenhuma decisão comunicada a nós previamente, nem uma tomada de decisões foi comunicada as regiões aqui do Alto Tietê. O governo do estado sempre veio pedindo para que a gente tomasse decisões em conjunto porque as pessoas trabalham em uma cidade, moram em outra e Guarulhos. São Paulo tem o maior movimento pendular do Brasil e a gente sabe que isso vai fortalecer o comércio, vai fortalecer a retomada em São Paulo e vai prejudicar a nossa região de Guarulhos. Por isso que a gente defende que tenha que tudo ser feito da melhor maneira e tomada a decisão em conjunto", disse Guti.
A possível reabertura de parte do comércio da Capital pode provocar um fluxo de pessoas entre as cidades. Dezoito cidades são vizinhas, coladas uma na outra, como Osasco, que faz limite com São Paulo.
O Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, que representa as sete cidades do ABC Paulista, também ficou surpreso com a flexibilização só na Capital. Os prefeitos disseram que vão rever os números e apresentar um plano para o governo do estado para que os municípios da região possam pensar em uma reabertura gradual.
"Fazer uma revisão de todos os pontos que são estabelecidos para isso: numero de leitos, enfermarias, as questões inclusive de índices de que que tem de mortalidade, só casos que tão acontecendo, para que a gente possa não discutir, mas ponderar o conselho inclusive do governador, como é que a gente pode se inserir nesse sistema do mesmo da Capital. A gente acha que a proximidade é tão grande que não tem como ser diferente", disse Edgar Brandão Júnior, secretário executivo do Consórcio.O governo de São Paulo anunciou, no início da tarde desta quarta-feira (27), a prorrogação da quarentena no estado por 15 dias, com flexibilizações e aberturas econômicas progressivas, que serão feitas levando em conta as características de cada município.
O prefeito de Itapevi, Igor Soares, foi ao Palácio dos Bandeirantes reivindicar que a cidade seja enquadrada na fase 2 e não na fase 1. Segundo ele, as cidades da região Oeste fizeram trabalho de prevenção, ampliação de leitos e contratação de profissionais de saúde.
"Não há sentido liberar a cidade de São Paulo para fase 2 e manter a nossa região na fase 1. Grande parte da população das cidades que estamos representando, como Itapevi, Cotia, Cajamar, Carapicuíba e Osasco, trabalha em São Paulo, ou seja, a movimentação e circulação de pessoas vai acontecer em nossas cidades, com ou sem abertura parcial dos comércios", disse Soares, em nota.
O prefeito de São Caetano do Sul, José Auricchio Junior, afirmou que a liberação da capital para a faixa laranja e não as outras cidades da Região Metropolitana de São Paulo é uma incoerência e espera que o governador João Doria faça uma revisão desses critérios.
"A liberação da capital paulista para a faixa dois, ou a faixa laranja, é uma incoerência junto aos outros demais 38 municípios da Região Metropolitana, especialmente aos municípios do ABC e, muito especialmente, a São Caetano do Sul, onde nossos indicadores são pra lá de melhores do que na capital. Isso requer de nós, não só a indignação, mas medidas que iremos tomar, indo às últimas consequências. Se não houver uma revisão por parte do governo do estado, não iremos aceitar de forma passiva essa decisão", afirmou o prefeito de São Caetano do Sul.
Flexibilização da quarentena
O governo de São Paulo anunciou, no início da tarde desta quarta-feira, a prorrogação da quarentena no estado por 15 dias, com flexibilizações e aberturas econômicas progressivas, que serão feitas levando em conta as características de cada município.
"A partir do dia 1º de junho, por 15 dias, manteremos a quarentena, porém, com uma retomada consciente de algumas atividades econômicas no estado de São Paulo", disse o governador João Doria (PSDB), durante coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes, na Zona Sul da capital.
Denominado Plano São Paulo, a proposta prevê cinco etapas. As regiões serão classificadas em fases por cor, de acordo com os critérios definidos pela secretaria estadual da Saúde e pelo Comitê de Contingência para Coronavírus.
"Ela [flexibilização] será possível nas cidades que tiverem redução consistente do número de casos, disponibilidade de leitos em seus hospitais públicos e privados e estiverem obedecendo o distanciamento social nos ambientes públicos, além da disseminação e do uso obrigatório de máscaras", afirmou Doria.
Pelo plano, as flexibilizações serão possíveis para:
Cidades que tiverem disponibilidade de leitos de UTI na rede pública e privada
Redução no número de casos da doença
Com manutenção do distanciamento social nos ambientes públicos
Uso obrigatório de máscaras
A cor de cada região do mapa é determinada por uma série de critérios, entre eles taxa de ocupação de UTIs e total de leitos a cada 100 mil habitantes.
Esses indicadores são avaliados junto com dados de mortes, casos e internações por Covid-19 para determinar a fase em que se encontra cada região.
A cada 7 dias será reavaliado. Depois, a cada 15 dias a região poderá se mover para fases menos restritivas. As fases poderão regredir conforme os indicadores sofram alterações.
Fase 1, vermelha: alerta máximo, funcionamento permitido somente aos serviços essenciais
Fase 2, laranja: controle, possibilidade de aberturas com restrições
Fase 3, amarela: abertura de um número maior de setores
Fase 4, verde: abertura de um número maior de setores em relação à fase 3
Fase 5, azul: "normal controlado" - todos os setores em funcionamento, mas mantendo medidas de distanciamento e higiene
A cidade de São Paulo se enquadra na cor laranja do novo modelo de quarentena do estado. A definição permite a abertura de:
Atividades imobiliárias (com restrições)
Concessionárias (com restrições)
Comércio (com restrições)
Shopping Center (com restrições)
Os setores da economia que desejam a reabertura devem apresentar planos com protocolos para a Prefeitura. Caberá à gestão municipal definir quem e quando poderá reabrir.
Segundo o prefeito Bruno Covas, os detalhes das flexibilizações na capital paulista serão apresentados em uma nova coletiva de imprensa nesta quinta-feira (28).
Achatamento
Durante a coletiva, o governo defendeu as medidas de isolamento estabelecidas no estado desde o início de março e disse que embora o número de casos ainda seja crescente, há indícios de desaceleração da epidemia no estado.
"A nossa curva é 10 vezes menor exatamente pelas medidas adotadas e por esse controle que está sendo feito. E também estamos verificando uma desaceleração do crescimento a epidemia, ainda estamos, sim, na etapa de crescimento, mas com crescimento em ritmo menor", afirmou a secretária de Desenvolvimento Econômico, Patrícia Ellen.
Anunciado por Doria como novo membro do Comitê de Contingência para Coronavírus do estado, o ex-secretario executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, destacou a relação direta entre o isolamento e o achatamento da curva da doença.
"As pessoas que dizem que as medidas que foram tomadas pelos governadores, pelos prefeitos não surtiram efeito no achatamento da curva. Isso não é verdade e isso precisa ser contestado com muita veemência. Não pode ser dito - e alguns tão dizendo isso que apesar de tudo, ocorreram a quantidade de óbitos que temos em São Paulo e quantidade de óbitos que temos no Brasil. Na verdade, deveríamos dizer que apesar de todas as medidas, este foi o número de casos, número de óbitos que ocorreram. E ele é muito menor do que se não tivéssemos feito, se não tivéssemos tomado todas essas medidas", disse João Gabbardo.
O governo também afirmou que a participação de São Paulo no total de mortes e casos de Covid no Brasil sofreu queda no último mês, comparado com o registrado no início de abril.
Casos: de 68% (em 15/03) para 22% (25/5)
Mortes: de 68% (em 01/4) para 26% (25/5)
Segundo as projeções do estado, sem as medidas de isolamento adotadas, o estado teria 950 mil casos. Com isolamento, o estado contabilizava, até esta quarta (27), 86 mil casos.
Estatísticas
O estado de São Paulo chegou a 6.423 mortes causadas pelo novo coronavírus, segundo boletim da Secretaria de Estado de Saúde divulgado nesta terça-feira (26). Foram confirmadas 203 mortes em 24 horas.
Há 86.017 pessoas com diagnóstico de Covid-19 no estado. Das 645 cidades de São Paulo, 511 têm pelo menos um caso confirmado e 244 ao menos um óbito causado pela doença.
Os pacientes hospitalizados chegaram a 12,2 mil internados nesta terça. Desses, 4.779 estão na UTI e 7.506 em leitos de enfermaria. 17.589 altas de pacientes que tiveram confirmação da doença já tiveram alta dos hospitais de São Paulo.
Veículo: Online -> Portal -> Portal G1
Seção: São Caetano