
Publicado em 22/05/2023 - 19:10 / Clipado em 22/05/2023 - 19:10
Longe do poder, PSDB paulista perde prefeitos e vereadores
Depois de comandar o Estado por sete gestões consecutivas, partido vive processo de esvaziamento, crise de identidade e falta de renovação
Filiado há 19 anos no PSDB, o prefeito Luiz Fernando Machado, de Jundiaí (SP), está prestes a migrar para o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, em um movimento cada vez mais comum entre lideranças tucanas em São Paulo. Machado avalia que o PSDB está isolado, enfrenta uma crise interna e perdeu a conexão com o eleitorado do interior paulista, que apoiou nas últimas eleições Bolsonaro e o governador do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos). “O PSDB perdeu sua identidade.”
Fora do comando do governo paulista depois de 28 anos, o PSDB tem registrado a saída de prefeitos, vice-prefeitos, vereadores e pré-candidatos às eleições de 2024 rumo a partidos da órbita do governo estadual, como PL, PSD, Republicanos e PP. Até mesmo o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin, ex-governador por quatro mandatos e ex-tucano, tem atraído lideranças do PSDB para seu partido, o PSB. Há um mês, Alckmin filiou o ex-tucano Rubens Furlan, prefeito de Barueri, cidade com 279,3 mil eleitores. “Estamos sem horizonte”, diz Machado.
No plano federal, o partido está distante do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No Estado, os tucanos foram isolados no governo Tarcísio, depois da derrota do ex-governador Rodrigo Garcia (PSDB) em 2022. Com esse cenário, prefeitos e parlamentares do PSDB têm procurado partidos ligados ao governador, em busca de uma relação mais próxima, para a liberação de convênios e de emendas. A migração é embalada também com a perspectiva de mais recursos para disputar em 2024. O PL, por exemplo, tem a maior fatia do fundo partidário, com direito a R$ 205,8 milhões.
Machado cita outro problema enfrentado pelo PSDB: o eleitor do interior do Estado, mais conservador, “não reconhece mais o partido, sobretudo depois da saída de Alckmin” para aliar-se a Lula. Esse eleitorado, diz, tende a apoiar quem está com Tarcísio e Bolsonaro. “O eleitor pode trocar de candidato, mas não troca de valores”, diz o prefeito de Jundiaí, cidade com 330,9 mil eleitores.
No começo de 2022, o partido administrava 40% das cidades paulistas, com cerca de 250 prefeitos. O diretório paulista diz ter 210 prefeitos, mas o número não é preciso porque o PSDB-SP não tem dados atualizados. A avaliação de tucanos é que a migração deve se intensificar nos próximos meses. O prefeito de São Caetano do Sul, José Auricchio Júnior, deve ser um dos próximos a deixar o PSDB rumo ao PSD. A cidade do ABC paulista tem 146,7 mil eleitores.
A crise do PSDB paulista foi agravada com o processo de prévia nacional, no fim de 2021, que opôs o então governador João Doria e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, na disputa para definir o candidato à Presidência. Doria venceu, mas desistiu de concorrer por falta de apoio ns direção nacional. Meses depois, deixou o PSDB. Leite assumiu o comando nacional e ainda não conseguiu aparar as arestas. Tucanos que apoiaram Doria queixam-se de terem sido isolados.
O prefeito de Jundiaí é símbolo do grupo que resiste a Leite. Machado foi coordenador da campanha de Doria na prévia e critica a atual direção. As convenções para a troca do comando dos diretórios foram adiadas de fevereiro para o segundo semestre. A ação foi vista como uma forma de Leite ganhar tempo para articular a eleição de seus aliados.
O prefeito Orlando Morando, de São Bernardo do Campo (SP), maior cidade do PSDB no país, recorreu à Justiça para tentar tirar Leite do cargo. “O partido vive uma instabilidade”, diz Morando. O presidente do PSDB nacional, no entanto, diz ter respaldo da Executiva. O presidente do PSDB paulista, Marco Vinholi, minimiza e diz que o “partido está unido” e “buscando a construção coletiva”.
Além da perda de quadros, o partido enfrenta dificuldade para renovar lideranças. Na capital, dois anos depois da morte do ex-prefeito Bruno Covas, o PSDB não deve ter candidato próprio em 2024. A sigla pode ficar fora da chapa à reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que assumiu após a morte de Covas e negocia a vice com PL e Republicanos.
Veículo: Online -> Blog -> Blog Liga Democrática
Seção: São Caetano