
Publicado em 25/01/2023 - 20:40 / Clipado em 26/01/2023 - 20:40
‘A cultura não existe sem financiamento público’, diz nova secretária de Cultura de SP
Marília Marton diz que a principal orientação que o governador Tarcísio de Freitas lhe passou foi “muito diálogo com a sociedade”
Por João Bernardo Caldeira — para o Valor, de São Paulo
Marília Marton, a nova secretária de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, define-se como liberal e moderada de direita. Ela conta que “muito diálogo com a sociedade” foi a principal orientação que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) lhe passou.
Formada pela PUC-SP, a socióloga esclarece que, após passagem pelo PSDB, não pretende ingressar novamente em nenhuma organização partidária, visto que não possui pretensões eleitorais: “Hoje, minha filiação é ao partido da cultura”, diz ela ao Valor.
Suas palavras soam como alívio aos ouvidos de muitos integrantes da classe artística paulista, que ficaram apreensivos com os rumos da pasta sob o governo de um aliado de Jair Bolsonaro. Mas Tarcísio, que se aproximou do PSD de Gilberto Kassab, tem defendido o diálogo e a pacificação do país e se colocado contrário à guerra ideológica que acabou afetando políticas públicas culturais.
Com um orçamento de R$ 1,2 bilhão para este ano, superior ao de qualquer outra secretaria de cultura do país, a pasta paulista possui os já tradicionais programas de fomento direto e indireto ProAC Editais e ProAC ICMS (que aportaram R$ 100 milhões cada um, em 2022), além de joias da coroa como Sala São Paulo, Pinacoteca e Museu da Língua Portuguesa, entre mais de 60 equipamentos.
Ainda tomando pé da casa, a ex-secretária de governo de São Caetano do Sul afirma que o seu primeiro ano será de continuidade dos programas e investimentos. “A cultura não existe sem financiamento público, eu garanto o compromisso desse governo com a manutenção desses aportes, seja por orçamento direto ou isenção fiscal”, diz. “Ao final de quatro anos, eu ainda espero ter dobrado o orçamento.”
Com perfil de gestora e passagem pela própria Secretaria de Cultura como chefe de gabinete no governo Alckmin entre 2011 e 2016, Marton afirma estar ciente de assumir uma pasta “extremamente consolidada”, comandada por Sérgio Sá Leitão durante todo o período do governo antecedente. Aos poucos, pretende implementar suas próprias iniciativas, embora sublinhe que tudo será conversado com representantes do setor. “Essa é uma secretaria do diálogo. O que eu menos quero é errar, e pra isso preciso ouvir muito.”
Ao mesmo tempo que tem agendado reuniões para escutar a classe artística, de viés majoritariamente progressista, Marton acena também ao público religioso e do interior, que recebeu 60% dos investimentos da pasta no ano passado. Apesar de destacar que a própria Constituição estabelece que o Estado é laico, ressalva que as igrejas possuem cantores e músicos “incríveis” que precisam ser incluídos no bojo cultural. Elogia também a Festa da Uva de Jundiaí, que fez questão de prestigiar neste mês, e celebrações como a Queima do Alho, tradicional em cidades como Barretos: “Queremos buscar parcerias com os municípios e também mostrar ao paulistano o que acontece no interior”.
“Paulistana da gema”, moradora do Bom Retiro e frequentadora de atrações do bairro, Marton dá sinais de que pretende arrefecer ânimos e abarcar um amplo espectro de manifestações de diferentes orientações sociais e políticas, como as expressões indígenas, religiosas, quilombolas, caiçaras, LGBTQIA+, entre outras.
“O fato de ser moderada de direita não me desobriga a olhar a cultura como um grande piano que permeia todos os matizes”, diz. “A secretaria é o lugar de todo mundo, o espaço da diversidade e da livre expressão, da discussão de tudo e de todos, com respeito.”
Outro pedido do governador é que seja valorizada a capacidade de geração de renda e emprego da cadeia criativa. Sob esse impulso, Marton pretende levantar evidências que possam embasar suas políticas e rebatizar a pasta: Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativa.
Na presidência de Michel Temer, o primeiro a tentar eliminar o ministério da Cultura, enfim extinto por Bolsonaro e agora recriado, o então ministro Sérgio Sá Leitão contou ao Valor que calcular a dimensão econômica do segmento era estratégia essencial para convencer a sociedade e os políticos de que o investimento no setor não era desperdício.
A julgar pelo desempenho apurado pelo último Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural, a estratagema pode ser retomada com chances de êxito: no terceiro trimestre de 2022, a economia criativa chegou ao patamar de 7,8 milhões de postos de trabalho gerados no país, 2,5 milhões destes no estado de São Paulo, que registrou o maior crescimento da federação em relação ao ano anterior.
Veículo: Online -> Site -> Site Valor Econômico - São Paulo/SP
Seção: Eu &