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 Site Futuro da Saúde

Publicado em 26/11/2025 - 10:30 / Clipado em 27/11/2025 - 10:30

Adoção de IA na saúde ainda enfrenta desafio de confiança de profissionais e pacientes


Pesquisa realizada pela Philips revela que pacientes querem uma saúde mais digital, mas temem desumanização do cuidado

 

Conteúdo oferecido por Philips

Por Isabelle Manzini

 

O desejo por um acesso à saúde mais amplo, ágil e digitalizado está entre as prioridades do brasileiro e a inteligência artificial tem demonstrado cada vez mais o seu potencial como aliada nesse processo. Contudo, apenas a evolução tecnológica não será suficiente para avançar na área. É preciso ir além e construir confiança nas ferramentas do futuro entre os profissionais de saúde e os pacientes. Esta é uma das principais mensagens da décima edição do relatório Future Health Index, elaborado pela Philips, divulgado agora em novembro em um painel de debates com especialistas.

O levantamento mostra como a IA já está ajudando médicos e pacientes e o que é necessário para uma melhor adoção da tecnologia para impulsionar resultados ainda melhores. Para isso, aplicou uma pesquisa online com 1.926 profissionais de saúde e mais de 16 mil pacientes de 16 países, dentre eles o Brasil. No total, 83% dos respondentes já acreditam que a IA pode salvar vidas.

“Isso é o presente, não algo que estamos esperando acontecer”, reflete Felipe Basso, diretor geral da Philips América Latina. “A incorporação da inteligência artificial já tem acontecido em várias disciplinas clínicas e rotinas médicas para agilizar diagnósticos, reduzir filas e humanizar o cuidado. A IA já está nos apoiando a cuidar melhor dos pacientes, trazendo eficiência sem perder o toque humano.”

Os profissionais da área, da gestão à assistência, entendem que com a implementação da IA será possível melhorar a jornada, reduzir o tempo de espera por atendimento, realizar intervenções médicas mais precisas e oportunas e aprimorar as habilidades dos profissionais com menos experiência.

Do lado de quem busca os serviços de saúde essa expectativa também é alta: 85% dos pacientes brasileiros apoiam mais tecnologia na saúde. Entretanto, 49% deles temem que a IA vai tornar o cuidado menos humano e personalizado. É uma dicotomia que chama a atenção e traz uma nova perspectiva sobre as estratégias necessárias para avançar no uso de IA na saúde. “O desafio não é técnico, é sobre confiança”, argumenta Basso. “Temos que desenvolver estratégias que realmente ajudem as pessoas a se sentirem confiantes e conectadas às tecnologias que estão sendo adotadas, garantindo que elas se sintam apoiadas, em vez de deixadas para trás”.

 

Mudanças no setor

O relatório surge em um contexto de mudanças no setor. A Organização Mundial da Saúde (OMS) projeta uma escassez de 11 milhões de profissionais de saúde até 2030, principalmente em países de baixa e média-baixa renda – categoria na qual o Brasil se enquadra. Ainda, segundo a instituição, países em todos os níveis de desenvolvimento socioeconômico enfrentam, em graus variados, dificuldades na educação, emprego, alocação, retenção e desempenho de sua força de trabalho na área da saúde.

A falta de integração de sistemas e dados do ecossistema de saúde como um todo amplia o desafio de prestar um cuidado de qualidade e equitativo. Segundo o estudo da Philips, mais de 3 em cada 4 profissionais de saúde brasileiros relatam perder tempo clínico devido a dados de pacientes incompletos ou inacessíveis.

O cenário tem impulsionado, ao longo da última década, o processo de digitalização da saúde. Na América Latina, o Brasil lidera esse movimento provocado pela demanda do SUS por inovação, investimentos do setor privado e avanços regulatórios que favorecem parcerias e novas soluções. Esse progresso, porém, ainda esbarra na construção da confiança de profissionais e pacientes nas novas tecnologias, em especial as baseadas em IA.

A confiança do paciente na IA diminui à medida que o risco clínico aumenta. Por exemplo, 86% dos profissionais de saúde confiam na IA em relação à priorização de casos urgentes, enquanto apenas 66% dos pacientes afirmam o mesmo. No uso de IA para documentar notas médicas, o cenário é semelhante: 80% dos profissionais de saúde confiam na tecnologia, enquanto a taxa é de 65% entre os pacientes. Os pacientes demonstraram mais conforto com tarefas operacionais, como agendamento de consultas e check-in.

Para estimular essa relação, os especialistas presentes no painel de debate indicaram que enfermeiros, técnicos e médicos precisam enxergar valor real na adoção dessas ferramentas. Uma das propostas é a redução do tempo dedicado a tarefas administrativas hoje, que poderia ser redirecionado para a interação e construção do vínculo com os pacientes, melhorando a qualidade do cuidado.

Segundo Stephanie Rizk, cardiologista e intensivista, sócia investidora da ALMA e diretora da Hakim Serviços Médicos, uma boa estratégia é dedicar esforços na direção da validação clínica das tecnologias, a fim de que os profissionais se sintam mais seguros para usá-las, e tal segurança seja também transferida para os pacientes. “Precisamos de aplicabilidade e de validação clínica para cativar a confiabilidade do indivíduo. Singapura, Canadá e Reino Unido estão mais adiantados nesse aspecto, mas no Brasil também já estamos trabalhando nisso”, relata.

A participação de profissionais de saúde ainda nas etapas de desenvolvimento e teste das tecnologias também tem se mostrado um caminho interessante, na visão de Michel Fornaciali, professor e pesquisador no Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper): “Não adianta termos bons modelos, como já temos, se as pessoas desconfiam na hora de utilizar. Quebramos essa desconfiança avaliando, testando e garantindo que a tecnologia não oferece dano para o paciente.”

Além disso, a IA poderia desafogar os profissionais ao assumir atividades administrativas que implicam em menos tempo com o paciente. Este ponto pode ser particularmente importante pelos desafios de saúde mental e sobrecarga dos profissionais de saúde, um contexto que pode se agravar com o aumento da demanda por serviços médicos.

“A enfermeira não tem que ficar fazendo escala da equipe, ela tem que olhar para o paciente na UTI, tem que se dedicar ao cuidado”, comenta Antônio Pereira, CEO do Hospital das Clínicas. “Já temos IAs capazes de fazer tarefas como essa, e até mesmo facilitar a ronda dos profissionais, fazendo a predição de quais pacientes devem ser checados.”

Para ele, a necessidade de capacitação e literacia digital por parte dos profissionais está no cerne do desafio da ampliação do uso das ferramentas de IA na saúde. E deve ser feita de maneira personalizada, considerando as particularidades de cada perfil de profissional. O primeiro passo, segundo ele, é “aprender a fazer a pergunta correta” para a ferramenta.

 

Desafios e aprendizados da IA na prática

Um exemplo de como a IA pode impactar positivamente os serviços de saúde é o projeto Artificial Reality in Radiology (AIR), realizado pelo In.Lab, do HC, em parceria com a Philips. Ele analisa imagens de tomografia computadorizadas e quantifica as patologias no pulmão, auxiliando no diagnóstico de doenças pulmonares intersticiais, como a fibrose.

Marcio Biczyk, diretor técnico do In. Lab e líder do projeto, explica que, hoje, mesmo nos melhores centros de imagem há potencial de melhorar a maneira como uma tomografia avaliada: “O programa que desenvolvemos é capaz de determinar a densidade específica da imagem analisada. Estamos automatizando para melhorar a eficiência e rapidez, e já temos resultados reais.”

Ele destaca que a construção do algoritmo, feita em parceria com startups, governos, indústria e universidades, aconteceu de forma ágil, contou com o uso de redes neurais convolucionais. Treinadas com deep learning, foram essas redes que garantiram a capacidade computacional necessária para rodar o projeto, um dos principais desafios da nova era da IA.

“Estamos saindo de um cenário de projetos intermináveis de IA e entrando na era da IA que realmente é aplicada na vida das pessoas, que produz um impacto real. Estabelecer parcerias é o fio condutor para que projetos como esse sejam possíveis”, afirma Marco Bego, diretor do InovaHC.

Para o futuro, os especialistas formam consenso ao defender a necessidade de investir na qualificação dos dados e na interoperabilidade dos sistemas de informação. “Hoje, um hospital não enxerga o outro em termos de dados. Há dados duplicados, exames faltando. Isso também diminui a confiança no sistema e tem um impacto na segurança do indivíduo”, pondera Rizk.

Ao mesmo tempo, a tecnologia segue avançando, e a expectativa é de que os modelos multimodais, contextuais e os agentes de IA elevem o futuro a um novo patamar, como analisa Fornaciali. “Acreditamos muito em modelos multimodais e contextuais, porque por mais que a IA atual consiga falar ou escrever, o que ela está produzindo de fato? Qual é o contexto ou a aplicabilidade? Esse vai ser um ponto muito relevante para melhorar o valor entregue por essas ferramentas.”

 

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