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Portal Estadão

Publicado em 30/09/2025 - 09:50 / Clipado em 01/10/2025 - 09:50

Homens e mulheres desconhecem fatores de risco para câncer de mama e próstata, indica levantamento


Elas têm percepção equivocada sobre o peso do fator genético e eles negligenciam exames


Por Isabela Moya

 

 

Os fatores de risco para o câncer de mama e para o câncer de próstata — que estão entre os tumores mais prevalentes no Brasil — são desconhecidos pela maioria dos homens e mulheres, segundo uma pesquisa feita pela Ipsos-Ipec.

O levantamento, feito a pedido da Pfizer, aponta ainda que homens e mulheres têm visões diferentes sobre os cuidados de saúde e o impacto das enfermidades na vida íntima.

  •     consumo de álcool (desconhecido por 64% das mulheres);
  •     excesso de peso (desconhecido por 63% das mulheres);
  •     não ter tido filhos (desconhecido por 84% das mulheres).

Idade avançada também é um fator de risco. Já um fator de proteção pouco conhecido é a amamentação: 63% das mulheres não sabem disso, segundo a pesquisa.

No Brasil, o câncer de mama é o tipo de tumor mais comum entre as mulheres e representa a principal causa de morte por câncer nessa população. Segundo o Ministério da Saúde, em 2022, o País registrou 19 mil mortes pela doença.
 

Enquanto isso, para o câncer de próstata, os fatores de risco desconhecidos são:

  •     idade avançada — 9 em cada 10 homens diagnosticados têm mais de 55 anos (desconhecido por 71% dos homens);
  •     etnia — a incidência costuma ser maior na população negra (desconhecido por 85% dos homens);
  •     obesidade (desconhecido por 60% dos homens).

 

Histórico de casos na família, principalmente entre pais ou irmãos, também é um fato relevante.

Quanto ao tabagismo, 51% dos homens entrevistados estão cientes de que aqueles que fumam e são diagnosticados com o tumor têm maior risco de morrer do que pacientes não fumantes.

As estimativas mostram 71.730 novos casos de câncer de próstata no Brasil para cada ano do triênio 2023-2025. Trata-se do segundo tipo mais frequente de neoplasia no País, e o mais incidente entre os homens. Em 2020, foram mais de 15,8 mil óbitos por câncer de próstata, o equivalente a 15,30 mortes a cada 100 mil homens.

A pesquisa foi feita de forma online com 1.740 adultos, entre homens e mulheres, das classes A, B e C, residentes na cidade de São Paulo e nas regiões metropolitanas de Belém, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e Distrito Federal.

A maioria das pessoas tem uma percepção equivocada sobre o peso do histórico familiar no desenvolvimento do câncer de mama, acreditando que se trata do principal fator de risco. Porém apenas uma pequena parte, de 5% a 10% dos casos, está ligada à herança genética.

Na pesquisa, 71% das mulheres disseram acreditar que ter casos da doença na família interfere mais na probabilidade de desenvolver o tumor do que os hábitos de vida. O perigo desse desconhecimento é que muitas pessoas sem histórico da doença deixam de fazer exames e de modificar práticas que favorecem o tumor, diz a líder médica da área de oncologia da Pfizer Brasil, Camilla Natal de Gaspari.s

“A falsa percepção de que ter câncer de mama dependeria apenas da herança genética não só contradiz a literatura médica, como também pode desestimular a tomada de atitudes importantes, capazes de alterar fatores de risco modificáveis. Isso vale não apenas para a ingestão de bebida alcoólica, mas também para a obesidade e o sedentarismo”, comenta.

Passar pelo exame de mamografia anualmente, a partir dos 40 anos, é a principal indicação das sociedades médicas para aumentar as chances de diagnosticar o câncer de mama precocemente, contribuindo para um melhor tratamento e maiores chances de cura.

No Sistema Único de Saúde (SUS), a partir de outubro, o exame passará a incluir mulheres de 50 a 74 anos (antes o limite era de 69 anos). Mesmo sem sinais ou sintomas da doença, a cada dois anos, mulheres nessa faixa etária deverão realizar mamografias de forma preventiva. O público entre 40 e 49 anos, por sua vez, poderá realizar o exame mesmo sem sinais ou sintomas de câncer, mas sem periodicidade pré-definida.

Segundo a pesquisa, porém, as indicações da mamografia não estão suficientemente claras. A maioria das mulheres não sabe da necessidade de rastreio por meio da mamografia, mesmo quando outros exames (como o ultrassom das mamas) não mostram alterações.

Mais da metade das mulheres também acreditam que se uma primeira mamografia for feita e não indicar tumor, estão liberadas para realizar apenas o autoexame em casa.

“Ao fazer a palpação e não encontrar nada, a mulher pode acreditar que as mamas estão saudáveis e deixar de fazer avaliações de rotina que detectariam um possível tumor precocemente, quando ainda não é possível senti-lo por meio do toque”, explica a oncologista.

“É importante lembrar que, quando a doença é diagnosticada no estágio inicial, ela é mais fácil de tratar, o que contribui para a redução da mortalidade”, reforça.

Já em relação aos exames associados à próstata, as diretrizes de 2025 da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) assinalam benefícios da realização da dosagem de PSA (prostate specific antigen) no sangue, uma proteína produzida pela próstata, associada ao exame de toque retal, sobretudo quando os níveis de PSA estão alterados.

As sociedades médicas brasileiras recomendam que os homens iniciem o rastreamento a partir dos 50 anos, podendo ser antecipado, a depender dos fatores de risco do paciente.

Entretanto, grande parte dos homens (70%) não está ciente dos benefícios de associar o exame de dosagem de PSA ao toque retal, mesmo que o primeiro procedimento não aponte alterações.

Cerca de 54% dos homens iniciam o tratamento do câncer de próstata em estágio avançado, às vezes quando a doença já está em metástase (quando as células cancerígenas se desprendem do tumor original e se espalham para outras partes do corpo, formando novos tumores em órgãos e tecidos distantes), de acordo com dados do Radar do Câncer, do Oncoguia.

Além disso, 71% dos homens iniciam o tratamento passados mais de 60 dias do diagnóstico, acima do período estabelecido na lei brasileira para o atendimento no SUS.

Elas se previnem, eles esperam sintomas

A pesquisa mostra ainda que as mulheres, além de serem responsáveis pelo cuidado da saúde dos membros da família, são as que mais se previnem: quase metade da amostra (49%) afirma que vai ao médico para fazer um check-up ao menos uma vez por ano, mesmo sem sintomas.

Já entre os homens, a conduta mais frequente (39%) é procurar o médico diante de sintomas incômodos. Uma parte dos entrevistados contou que evita ir ao médico por motivos como falta de tempo, medo de descobrir algo grave, convicção de que poderia superar os sintomas sozinho ou confiança em “soluções caseiras”.

“Adoecer expõe fragilidades, o que contrasta com o conceito tradicional de masculinidade, muito ligado a características como vigor e resistência”, diz a diretora médica da Pfizer Brasil, Adriana Ribeiro

“Esse contexto social pode interferir nas práticas de cuidado do homem, provocando um distanciamento maior dos serviços de saúde. Quando falamos de doenças que afetam órgãos diretamente relacionados à identidade masculina, como o câncer de próstata, essa situação pode se tornar ainda mais desafiadora”, avalia. 

 

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