Publicado em 09/09/2025 - 09:44 / Clipado em 10/09/2025 - 09:44
Desordem em anéis de DNA revela pistas sobre câncer cerebral agressivo
Novo estudo identifica instabilidades genômicas associadas à progressão de tumores cerebrais, com implicações no diagnóstico e tratamento
Isabella França
Uma associação de cientistas estrangeiros publicou, nessa segunda-feira (8/9), na revista Cancer Discovery, um estudo que destaca um padrão genômico até então difícil de detectar em tumores cerebrais agressivos: fragmentos de DNA que escapam da estrutura normal dos cromossomos e passam a circular em formato de anéis, chamados DNA extracomossômicos (ecDNA).
Essas estruturas aumentam a instabilidade do genoma tumoral, estimulam a multiplicação das células cancerosas e estão associadas à resistência aos tratamentos. Segundo os pesquisadores, entender como esses anéis se organizam e interagem com o restante do DNA pode ajudar a explicar por que alguns tumores se tornam mais invasivos e de difícil controle.
Uma ferramenta para enxergar o invisível
Para chegar a essas conclusões, os cientistas desenvolveram o BACDAC (Breakpoints Across the Genome via Data-Driven Assembly Coverage), um método que permite reconstruir com precisão os pontos de quebra e rearranjos no DNA tumoral.
A tecnologia consegue identificar alterações mesmo em amostras de baixa qualidade — algo comum em biópsias —, o que amplia a possibilidade de análise em cenários clínicos reais.
O BACDAC revelou, por exemplo, que muitos tumores com ecDNA apresentavam fenótipos de ploidia anormal, como duplicações completas do genoma. Essas alterações estão diretamente ligadas à agressividade da doença e à maior chance de falha terapêutica.
Implicações clínicas
O estudo sugere que mapear o ecDNA pode abrir caminho para diagnósticos mais precisos e estratégias personalizadas de tratamento. Ao identificar precocemente quais tumores carregam esse “motor genômico” de instabilidade, médicos poderiam prever quais pacientes correm maior risco de evolução rápida ou de resistência à terapia.
Além disso, o rastreamento do ecDNA pode se tornar um novo biomarcador para guiar decisões clínicas e até inspirar terapias voltadas diretamente para a neutralização desses anéis de DNA.
Linha do tempo das descobertas
Essa não é a primeira vez que os anéis extracomossômicos são apontados como protagonistas em câncer cerebral. Em 2024, um artigo publicado na revista Nature Genetics já havia destacado que esses elementos funcionam como “plataformas móveis” que carregam oncogenes — genes que estimulam o crescimento descontrolado das células —, acelerando a evolução tumoral.
A nova pesquisa aprofunda esse entendimento ao mostrar, em detalhes, como o ecDNA contribui para a arquitetura desorganizada e instável dos genomas tumorais.
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